Número de trabalhadores em situação análoga à escravidão pode ser maior
Pessoas que conseguiram fugir das vinícolas prestam novos depoimentos
Luciane Kohlmann
A polícia do Rio Grande do Sul acredita que o número de trabalhadores que vivam em condições análogas à escravidão pode ser maior que os 207 encontrados nos alojamentos das vinícolas. Novos depoimentos começam a surgir. São pessoas que conseguiram fugir e voltar para a Bahia.
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"Na parte física eram os baianos com certeza. [...] Em geral mesmo todos eram pressionados da mesma forma. Era violência psicológica, né? Não tínhamos liberdade. [...] Era um cárcere, nós estavamos vivendo um cárcere", conta uma das vítimas que preferiu não se identificar.
Um outro trabalhador, que também não será identificado, afirma: "eles batiam demais nos colegas, tinha gente que eles acordavam debaixo de choque, porrada".
Esses são apenas dois, dos 207 homens resgatados em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, em situação análoga à escravidão. Muitos saíram da Bahia para trabalhar na colheita da uva. Entre as denúncias estavam as más condições dos alojamentos, jornadas de trabalho exaustivas, alimentação estragada, falta de pagamento e agressões.
As vítimas foram acomodadas em um ginásio da cidade até a rescisão contratual. Depois, voltaram para casa. O empresário Pedro Augusto de Oliveira Santana, dono da prestadora de serviço, que intermediou as contratações, chegou a ser preso, mas foi liberado após pagar fiança. A defesa dele nega que os funcionários trabalhassem em condição similar à escravidão.
Após a repercussão do caso, outros trabalhadores tiveram coragem de denunciar a situação degradante. As vítimas afirmam que vivenciaram a mesma situação, mas conseguiram fugir e retornaram à Bahia antes da operação.
Acompanhado do advogado, o ex-funcionário Radson da Conceição Souza conta que ficou 5 dias em Bento Gonçalves. Sem dinheiro, ele voltou para casa pedindo carona: "me bateram e ainda também eles fica com a arma na cintura. [...] Se a gente não trabalhar eles pega e mostra a arma pra gente. A gente não tem como fazer nada".
Em nota, a Associação Brasileira de Supermercado's manifestou repúdio diante das notícias sobre a situação dos trabalhadores terceirizados em condições análogas à escravidão na região. A Abras também solicitou às vinícolas esclarecimentos e quais medidas foram tomadas para cumprir a lei trabalhista e combater a violação dos direitos humanos e laborais destes colaboradores.
Nesta semana, uma força tarefa foi criada para garantir condições dignas de trabalh aos temporários e para reforçar a fiscalização.
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