Há 55 anos, catástrofe no litoral norte de São Paulo matou 500 pessoas
Tragédia em Caraguatatuba em 1967 é considerada uma das piores do país e deu origem a Defesa Civil de SP
SBT News
Não é a primeira vez que cenas de destruição como as do último domingo (19.fev) em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, assolam a região. Há 55 anos, em 1967, a cidade vizinha, Caraguatatuba, foi palco de uma das maiores catástrofes naturais da história do país.
Diferentemente da chuva que caiu no último final de semana, que durou cerca de oito horas, naquele ano Caraguatatuba enfrentou três dias de chuvas contínuas. Por conta da água, a serra do mar deslizou sobre as casas deixando cerca de 500 mortos e 3.000 moradores desabrigados, o equivalente a 20% da população da cidade naquele período.
A Defesa Civil do Estado de São Paulo teve sua origem em 1976 após o rastro de destruição deixado pelas intensas chuvas ocorridas na ocasião. Além desse incidente, os incêndios nos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974) também motivaram a criação da entidade 9 anos depois. Até então, o governo paulista não dispunha de um órgão que cuidasse da prevenção e da minimização dos efeitos causados por esse tipo de evento.
Dorcas Nascimento Di Salvo, assistente social aposentada, tinha 14 anos quando a tragédia aconteceu. Ao se deparar com as cenas deste domingo, ela afirma que um filme passou pela sua cabeça: "Eu fiquei paralisada, muito assustada, não queria sair de casa" A mulher se recorda que, na época, estava chegando da escola quando viu a sua casa alagada: "Mesmo assim entrei. A minha irmã, grávida de dois meses, ainda estava lá. Logo depois, um caminhão da prefeitura passou pela rua recolhendo moradores para levar a um abrigo", explica.
Ela se lembrou de uma vizinha idosa que morava sozinha e foi ajudá-la a sair. Como a mulher era obesa, a retirou pela janela. Mas, àquela altura, não havia mais lugar no caminhão e Dorcas ficou. Em questão de segundos, uma forte enxurrada arrastou tudo, inclusive ela e a irmã. "Eu nadei muito, fiquei extremamente cansada, então olhei para o céu e pedi ajuda a Deus. Prometi que se sobrevivesse ia ajudar as pessoas", conta. Ela e a irmã escaparam, mas a família, que tinha uma quitanda e uma fábrica de doces caseiros, perdeu tudo.
O aposentado Rodoaldo Fachini, que na época tinha 80 anos, também se recorda que chovia muito e que ele estava no quarto com a sua esposa Madalena e as duas filhas. Ao acordar, ele viu que a serra do mar havia deslizado e que praticamente toda a cidade estava destruída.
"É uma cena difícil de se esquecer", recorda. Apesar disso, ele diz que a situação gerou muita solidariedade: "Eu e minha família, assim como muitos outros, ajudamos efetivamente as vítimas. Assim como hoje, foi algo bonito de ver", finaliza.
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