EXPLICA: Como ajudar idosos a não acreditar em notícias falsas?
Para a especialista em educação midiática, é necessário questionar cada conteúdo recebido
Matheus Caldas
Num panorama em que há um uso vertiginoso de informações falsas para confundir os eleitores durante o processo eleitoral no Brasil, os idosos são considerados os mais vulneráveis, segundo estudos recentes feitos nos Estados Unidos.
E, para mitigar estes impactos até o próximo domingo (30.out), data do segundo turno, é preciso ter proatividade entre as pessoas desta faixa etária.
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A avaliação é de Patrícia Blanco, presidente executiva do Instituto Palavra Aberta, entidade que coordena o EducaMídia, programa sobre conscientização da importância da educação midiática.
Na visão da dirigente, é necessário "sair da passividade" e questionar todas as informações recebidas às vésperas da eleição.
"Recebo o conteúdo num grupo de WhatsApp. Antes de repassar e, principalmente, acreditar, temos que fazer o "êpa", o "peraí" e o "o quê" para buscar para ver se esta informação está em outro lugar ou se já foi checada", alerta, em entrevista ao SBT News De Fato.
Para Blanco, este exercício de ponderação a respeito de informações recebidas por meio de redes sociais deve ser feito de maneira cotidiana.
"São atitudes muito simples que conseguimos brecar a onda de desinformação e não cair nela. A gente só precisa, realmente, sair da passividade, parar de acreditar em tudo e questionar", sugere.
De acordo com estudo publicado em 2019 nos Estados Unidos, pessoas acima dos 65 anos espalham até sete vezes mais artigos falsos do que o grupo etário entre 18 e 29 anos.
A pesquisa em questão foi realizada pelas universidades de Princeton e de Nova York (NYU), e foi publicado pela revista científica Science Advances.
A análise foi baseada no comportamento dos usuários do Facebook durante a campanha para a presidência dos Estados Unidos em 2016.
Este entendimento também foi verificado em 2018, num relatório produzido em conjunto por pesquisadores da Universidade de Exeter, da Dartmouth College e de Princeton.
A pesquisa identificou que, semanas antes das eleições, os norte-americanos com mais de 60 anos visitavam mais páginas com notícias falsas do que os eleitores mais jovens. No Brasil, não há estudos formatados para mensurar o impacto das notícias falsas entre os idosos.
Reeducação digital
Para Patricia Blanco, após as eleições é necessário que os diferentes setores da sociedade sigam no debate para minimizar o impacto da desinformação. Ela relembra que este não é um problema exclusivo do Brasil.
"São todas questões novas. É um debate novo no mundo inteiro", pondera.
Para ela, o poder público e o jornalismo precisam unir esforços para fomentar uma educação midiática que abarque toda a sociedade civil.
No caso da esfera pública, ela crê que deve haver incentivos para incluir os idosos de maneira mais ampla no ambiente digital.
"Governo pode incentivar espaços de trocas de conhecimento e de educação mesmo", diz, citando o exemplo da USP 60+, promovida pela Universidade de São Paulo.
Em relação à imprensa, Blanco estima que a mudança deve passar pela transparência. Ela entende que, com o advento das mídias sociais, o jornalismo deixou de ser o intermediador entre público e notícia.
"O jornalismo precisa mostrar as diferenças de uma notícia, entre aspas, produzida por um cidadão qualquer de uma matéria jornalística feita com todos os critérios que o jornalismo profissional segue" pontua.
"Imprensa e o jornalismo profissional têm um papel fundamental para educar o público no sentido da valorização do conteúdo produzido pelos veículos", acrescenta.
Ela ainda alerta para o preconceito sofrido por idosos diante do ambiente de hiperpolarização política no país.
"A gente não pode acreditar que eles são inocente ou não estão aptos a participar do mundo digital. Muito pelo contrário: hoje, cada vez mais, a comunicação está sendo mediada por tecnologia e será cada vez mais. Precisamos olhar para este público de maneira específica", analisa.
Ela ainda relembra que este não é um problema exclusivo desta faixa etária.
"Todos nós, independentemente da idade, estamos sendo afetados pela desinformação. Então, a necessidade de ter uma atitude mais proativa em relação ao que a gente recebe vale para todo mundo", conclui.
SBT News De Fato
O SBT News De Fato é o serviço de checagens, verificação de fatos e educação midiática do SBT. O objetivo é ser um núcleo de orientação e de informações ao público em relação ao conteúdo espalhado e distribuído na internet e pelas redes sociais. Nesta primeira fase, o grupo vai atuar no combate a desinformação durante o período das eleições gerais deste ano. A escolha sobre o candidato deve ser tomada com base em informações verdadeiras e confiáveis. Por isso, o SBT News De Fato conta com uma equipe de jornalistas profissionais do SBT, regionais e afiliadas. São eles: SBT SP, SBT Rio, SBT Pará, SBT RS, SBT DF, TV Aratu (BA), SBT MT (MT), TV Tambaú (PB), TV Jornal (PE), Jornal do Commercio (PE), TV Allamanda (RO), TV Norte (AM, AC e RR), TV Cidade Verde (PI) e TV Ponta Verde (AL). Clique aqui e saiba mais.
>> Matheus Caldas é jornalista do Aratu On, portal da TV Aratu.
>> TV Aratu, afiliada SBT na Bahia, é integrante do SBT News de Fato.
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