Portugueses veem Dom Pedro I como defensor da liberdade
Correspondente Sérgio Utsch conta como o ex-imperador do Brasil é visto por seus conterrâneos
SBT Brasil
Pedro Primeiro para nós, Pedro Quarto para os portugueses... o monarca, retratado por muitos escritores e historiadores como um homem vaidoso, de saúde frágil e personalidade controversa, inspira em seus conterrâneos uma imagem bem diferente.
Na busca por entender a compreensão dos portugueses sobre a figura do ex-imperador do Brasil, o correspondente do SBT na Europa, Sérgio Utsch foi à histórica cidade do Porto, em Portugal.
A começar pelo Museu Nacional Soares Reis, o antigo Palácio da Carranca, que no passado serviu como primeiro refúgio de Dom Pedro para encarar uma guerra, que durou 2 anos, contra o próprio irmão. O ultraconservador Dom Miguel tinha dado o golpe para roubar o trono que, por direito, deveria ser de Dom Pedro.
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A disputa, porém, não era apenas pelo trono português, mas também por dois modelos distintos de governança. António Ponte, diretor do museu, explica que Dom pedro, muito criticado pela ala mais conservadora portuguesa por ter decretado a independência da colônia mais rica da Coroa, o Brasil, queria romper com o passado.
"Ele não queria admitir que o país continuasse com essas políticas absolutistas, passadistas... é um nome que, eu acho, daquilo que nós percebemos muito mais ligado aos ideais democráticos, progressistas e liberais do período", afirma o diretor do Museu Nacional.
Pedro queria um outro país, com constituição e limites aos poderes da monarquia. Já o irmão, Miguel, tinha o apoio do lado mais tradicionalista do clero, que também não queria abrir mão de seu poder.
A Avenida dos Aliados termina na Praça da Liberdade. Não à toa é ali que está a estátua de Dom Pedro, em destaque, mesmo em meio às obras de expansão do metrô português. Nas ruas do Porto, há um misto de orgulho e, como no Brasil, desconhecimento também. "Estou a ouvir mais falar de Dom Pedro agora do que quando era mais nova", conta uma moradora da cidade.
Não há dúvidas que Dom Pedro era um homem de privilégios. Afinal de contas, fazia parte de uma monarquia, instituição que, já na época, desagradava a muitos. O que muitos estudiosos destacam, no entanto, é que a sua história e a sua luta, na cidade do Porto, deram uma contribuição muito importante para o que hoje chamamos de Democracia.
Dom Pedro acabou vitorioso na guerra, e a cidade recebeu o coração dele, que fica guardado na Igreja da Lapa, fundada por um padre brasileiro. Manuela é a primeira mulher a presidir a irmandade da Lapa, em um momento em que, segundo ela, é preciso pensar mais no que defendeu Dom Pedro.
"Dom Pedro trouxe a liberdade para Portugal. Às vezes, porque vivemos em liberdade, nos esquecemos da importância desse mesmo valor, tem que ser relembrado todos os dias", argumenta Manuela.
Liberdade era uma palavra tão importante na vida do monarca, que foi citada 42 vezes no sermão do funeral dele, conforme conta Francisco Ribeiro da Silva, um dos maiores conhecedores da história do ex-imperador do Brasil. "Claro que era liberdade política, mas também era liberdade de consciência, era liberdade em um sentido amplo", lembra o historiador.
O especialista diz acreditar que, apesar de derrotado, Dom Miguel teve mais apoio na época de um povo muito conservador e avesso às mudanças propostas por Dom Pedro. "Democracia é igualdade, e a igualdade que Dom Pedro patrocinava, não há nenhum documento escrito, era de fato o embrião da democracia", conclui Francisco.
Quase 2 séculos depois, Portugal tem uma democracia consolidada, que rejeita ideias como ditadura e absolutismo, e este importante personagem da história de brasileiros e portugueses tem sua digital naquele que é, hoje, um dos países mais liberais e tolerantes da Europa.
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