Candidato a vice de Castro foi delatado em esquema que derrubou Witzel
Washington Reis (MDB) é suspeito de ter recebido propina em contratos da Saúde de Duque de Caxias
Ricardo Brandt
Notas fiscais, quebras de sigilo, contratos públicos milionários, anotações sobre suposta propina e a delação premiada do ex-secretário de Saúde do Rio Edmar Santos levaram a Polícia Federal a deflagrar a Operação Anáfora, que tem como um dos alvos Washington Reis (MDB), candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo atual governador, Cláudio Castro (PL).
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As apurações focaram nos negócios da Renascer Cooperativa de Trabalho (Renacoorp) com a prefeitura de Duque de Caxias na época em que Washington Reis era prefeito da cidade. A empresa seria parte do grupo de Mário Peixoto, que foi alvo da Operação Favorito. O escândalo de fraudes em contratos da Saúde levou ao impeachment do então governador Wilson Witzel.
Segundo a PF, "a proximidade e o envolvimento de Mário Peixoto e Washington Reis, ex-prefeito de Duque de Caxias e já apontado em outras investigações como mais um dos políticos a qual Mário Peixoto exerce sua influência econômica e política".
Washington Reis foi vereador, deputado estadual, secretário no governo Sérgio Cabral e duas vezes prefeito de Duque de Caxias. No seu governo, empresas ligadas a Peixoto teriam sido beneficiadas com contratos dirigidos e superfaturados, segundo a PF e o MPF.
Em delação premiada, o ex-secretário da Saúde do governo Witzel apontou Reis como um dos envolvidos nos esquema de corrupção e favorecimentos de Mário Peixoto.
Em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), a PF descobriu pagamentos que seriam propina e listou em pouco mais de dois anos movimentação de cerca de R$ R$ 563,5 milhões da Renacoorp.
O MPF cita valores ainda maiores. "As movimentações financeiras relacionadas aos contratos celebrados durante a gestão de Washington Reis com as empresas lideradas de fato por Mário Peixoto, em especial a Renacoorp, atingem a exorbitante cifra de quase dois bilhões de reais", registra manifestação do Ministério Público Federal (MPF).
Segundo a PF, a "participação de Mário Peixoto e seus operadores financeiros" perduram pelo tempo. "A cronologia dos fatos apresentados demonstra a repetição, incansável, do modo de agir deste grupo criminoso que, através da constituição de dezenas de empresas, dominam as contratações dos setores públicos, sobretudo da área da saúde."
A PF afirma que a investigação teve início em janeiro deste ano e alega que a cooperativa pertence à uma estrutura complexa de organização criminosa, é operada no estado do Rio de Janeiro há décadas, "em um contexto corrupção sistêmica, por meio de desvio de recursos públicos, em especial na área da saúde".
A PF deflagrou na 5ª feira (1º.set) uma investigação de corrupção, envolvendo o empresário Mário Peixoto -- alvo de outros processos -- na contratação de uma cooperativa de trabalho pelo município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Duque de Caxias, Maricá, Angra dos Reis, Mesquita, Niterói , Nova Iguaçu e na capital fluminense. Os agentes da PF estiveram na casa do ex-prefeito, em endereços ligados a negócios da família e na Fazenda Paraíso. Os mandados atingem empresários, operadores financeiros, "laranjas" e prováveis líderes do esquema criminoso.
As buscas foram determinadas pela 6ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Nos pedidos, a PF e o MPF argumentam que "os fatos demonstrados são claros ao impor a necessidade de aprofundamento das investigações com relação a esse vínculo aparente, que pode ter desencadeado o suposto pagamento de propina através da compra de tanques-peixe pela RENACOOP para ser entregue na Fazenda Paraíso em nome de Washington Reis".
Os policiais produziram um relatório sobre a fazenda, vinculada à família do ex-prefeito, e registrou em imagens os tanques de peixe no local.
Para os investigadores, Reis "seria o provável responsável por garantir a atuação da organização criminosa junto à prefeitura" de Duque de Caxias. "Vínculo este que teria originado o suposto pagamento de propina através da compra de tanques-peixe pela RENACOOP para ser entregue na Fazenda Paraíso em nome de Washington Reis."
Nas buscas na casa de Reis, a PF localizou um fuzil. O ex-prefeito informou que a arma está legalizada e foi liberada para escolta do irmão, o deputado estadual Rosenberg Reis. Informou ainda que Fazenda Paraíso é da prefeitura de Duque de Caxias. Os tanques foram doados por uma empresa, segundo ele. Em nota, informou: "Washington destaca que atendeu os policiais e se colocou à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários. A polícia fez o seu trabalho, sem nenhum tipo de interrupção ou dificuldade e nada foi encontrado".
Em nota, o governador Cláudio Castro diz que "respeita o trabalho da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) e aguarda os desdobramentos da operação". Mário Peixoto, por meio de sua defesa, contesta as acusações e nega relação com a Renacoorp.