Liga de atletas transplantados incentiva doações de órgãos
50 mil brasileiros aguardam na fila por um órgão
Airton Salles Jr.
A realização de transplantes ainda não voltou ao nível pré-pandemia e 50 mil brasileiros aguardam na fila por um órgão. Existe no Brasil até uma liga dos atletas transplantados, que incentiva as doações e a prática de esportes por quem já passou pelo procedimento.
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Quem vê o aposentado Pedro Roque Dellaceccia esbanjando saúde aos 76 anos nem imagina que, num passado nem tão distante, ele precisou de um novo rim para sobreviver. Hoje, ele é considerado o corredor transplantado mais velho da América Latina.
"É outra vida. Cada corrida, o pessoal espera a gente, aplaude a gente, é fantástico. Dá pra escrever um livro", conta Pedro.
Também aposentado, Renato Couto Deodato venceu a batalha contra a leucemia, graças a um dos irmãos, que tinha uma medula óssea compatível. Depois de uma fase "barra pesada", atualmente só pensa em superar limites no esporte: "São Silvestre fiz 6 vezes já, e corro essas corridas de rua aqui por São Paulo que eu gosto pra caramba".
A advogada Luciane de Lima é outra que se rendeu à corrida, e assim como Renato e seu Pedro, faz parte da liga dos transplantados. O grupo é formado por mais de 20 pessoas que intensificaram a atividade física para manter a saúde. Os membros disputam campeonatos e buscam patrocínio para participar de uma Olimpíada na Austrália, no ano que vem.
"A gente não tem apoio de nenhuma instituição, de nenhum governo. Então, quem não tem condições, tem essa dificuldade de ter acesso", diz Luciane.
De acordo com a Associação Brasileira de Doação de Órgãos, existem hoje no país pelo menos 50 mil pessoas aguardando na fila por doadores. Esse cenário poderia ser bem diferente se muita gente buscasse mais informações, esclarecimentos sobre esse processo, principalmente por parte das famílias de quem pretende doar. Um gesto nobre que pode salvar e oferecer mais qualidade de vida.
"Uma pessoa que doa órgãos, ela pode salvar até oito vidas e eu gosto de falar que não são somente oito vidas, são oito famílias", afirma o professor Ramon Lima.
Segundo a associação, no primeiro semestre de 2019, houve em média quase 16,9 doações de órgãos pra cada milhão de habitante. A pandemia fez esse número cair para 15,4 este ano. Redução de 9%.
Para piorar, metade das famílias não autoriza a doação. "Apesar de ser um momento de grande dor, lembrar que tem muitas pessoas que dependem dos transplantes pra viver ou melhorar sua qualidade de vida", diz o médico e presidente da associação, Paulo Pêgo.
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