Propina de R$ 15 mil a R$ 40 mil e barras de ouro: relembre escândalo no MEC
Milton Ribeiro e pastores teriam criado balcão de negócios para liberação de verbas do FNDE por meio de propinas
A investigação que levou à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro nesta 4ª feira (22.jun) envolve um áudio no qual Ribeiro dizia liberar verbas do Ministério da Educação por indicação de dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). As negociações envolviam cobrança de propina e ouro em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Eram beneficiados os municípios indicados pelo pastor Gilmar. Milton e os dois religiosos teriam criado um balcão de negócios dentro do ministério para a negociação ilícita.
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O inquérito foi aberto após o jornal O Estado de S. Paulo revelar, em março, a existência de um gabinete paralelo no MEC controlado pelos três. O suposto esquema de Ribeiro e dos dois pastores foi confirmado por um aúdio divulgado dias depois pelo jornal Folha de S.Paulo.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro Milton Ribeiro, no áudio.
Pedidos de ouro e dinheiro
O esquema também foi detalhado em 5 de abril, durante audiência na Comissão de Educação do Senado, na qual três prefeitos chamados para esclarecer as denúncias confirmaram os pedidos de propina em dinheiro e até em barras de ouro.
O prefeito da cidade de Luís Domingues, no Maranhão, Gilberto Braga (PSDB-MA), confirmou que o pedido de propina foi feito num almoço em Brasília, em 7 de abril de 2021, após reunião no MEC. O pastor Arilton Moura teria cobrado um quilo de ouro em troca de recursos no MEC.
"E a conversa era muito bem aberta, ele virou para mim e disse: 'Cadê suas demandas?'. E eu apresentei minhas demandas para ele e ele falou rapidamente: 'Você vai me arrumar os [R$] 15 mil para eu protocolar as demandas e depois que o recurso tiver empenhado, depois, como a sua região é de mineração, vai me trazer 1 kg de ouro", relatou o prefeito de Luís Domingues (MA).
Já o prefeito da cidade goiana de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro (Cidadania), afirmou que o pastor ligado ao ex-ministro Milton Ribeiro também pediu o pagamento de R$ 15 mil a ele como condicionante para o envio de verbas ao município.
"E me abordou de uma forma muito abrupta e direta: 'Olha prefeito, vi que no seu ofício o senhor pede a escola de 12 salas. Essa escola deve custar uns R$ 7 milhões. Mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, você faz a transferência para a minha conta", disse Kelton Pinheiro.
Aos senadores, o político contou ainda que se assustou com o pedido de pagamento imediato e ficou com 'nojo' da abordagem.
"O pastor me falou: 'Para depois não cola comigo, porque vocês políticos são um bando de malandros, que não têm palavra'. Aquilo me deu ânsia de vômito de ver uma situação daquela", completou o prefeiro de Bonfinópolis (GO).
Prefeito de Boa Esperança do Sul, São Paulo, José Manoel de Souza (PP) foi o terceiro a confirmar um pedido semelhante do religioso. "Ele falou: 'Prefeito, o Brasil é muito grande, nós temos mais de 5.600 municípios, não dá para ajudar todos os municípios. Mas eu consigo te ajudar'", contou. José Manoel, porém, informou que, com ele, o valor foi inflacionado e, em vez dos R$ 15 mil, foram pedidos R$ 40 mil na conta da igreja evangélica.
"E eu então bati nas costas dele [do pastor] e falei que para mim não serve, não é desse jeito que funciona", contou.
Na ocasião, Milton Ribeiro disse que pediu apuração dessas denúncias à Controladoria-Geral da União.
Ribeiro já havia prestado depoimento à PF no final de março, quando confirmou que recebeu o pastor Gilmar a pedido de Bolsonaro. No entanto, ele negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento.