Irmãos acusam terceira pessoa de ter matado jornalista e indigenista
Suspeitos presos confessaram participação no crime, mas acusam outro de ter efetuado disparos
Os irmãos Amarildo Oliveira, o Pelado, e Oseney Oliveira, o Dos Santos, confessaram nesta 4ª feira (15.jun) participação no assassinato do indigenista Bruno Araújo da Cunha Pereira e do jornalista inglês Dominic Mark Phillips, o Dom Phillips. Em depoimento, eles apontaram um terceiro envolvido que teria sido autor dos disparos que mataram as vítimas.
Dos Santos, que foi preso nesta 3ª-feira (14.jun), confessou que eles participaram da ocultação dos corpos. O Pelado confirmou. Eles detalharam que os corpos estavam queimados e que esquartejaram as vítimas e enterraram.
Pelado está preso desde o dia 7 e negou inicialmente o crime. Nesta 4ª-feira (15.jun), ele foi levado pela PF para o local onde os restos mortais teriam sido escondidos enterrados.
Depois de terem sido apontados por locais, em depoimentos reservados, como possíveis envolvidos no crime, a Polícia Civil localizou na 5ª-feira (9,jun) embarcação de Pelado e nela foi identificada a presença de manchas avermelhadas. A perícia técnica identificou material orgânico, segundo registra relatório da PF.
No dia seguinte, a Marinha localizou "material orgânico boiando no rio próximo a Atalaia do Norte/AM". No relatório enviado ao STF nesta 3ª-feira (4.jun), a PF registra que "quanto ao material orgânico encontrado durante as buscas" as "análises preliminares realizadas por peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal confirmam que é compatível com estômago humano". O laudo ainda não ficou pronto.
Uma testemunha ouvida foi fundamental também para a PF identificar o eventual envolvimento dos irmãos Oliveira no crime. "Uma testemunha com identificação protegida prestou depoimento à Polícia Federal", registra relatório policial.
"A testemunha relatou que ouviu Bruno dizer que estava sendo ameaçado por pessoas que não aceitavam as atividades de combate às ilegalidades recorrentes contra indígenas da região. Entre as ameaças recebidas por Bruno, algumas delas foram proferidas por 'Pelado', indivíduo tempos atrás teria efetuado disparos de arma de fogo contra a base local da Funai e, recentemente, ameaçado os 'vigilantes' da região ostentando uma arma de fogo do tipo espingarda."
No domingo (12.jun), a força-tarefa montada para as buscas localizou uma mochila amarrada em uma árvore. O material foi encontrado por bombeiros mergulhadores. O equipamento era do jornalista. No local, foram encontrados ainda roupas, calçados e um cartão do indigenista.
Bruno e Dom Phillips desapareceram no domingo (6.jun), no último dia da incursão pela região do Vale do Javari. O jornalista inglês pesquisava para o livro que escrevia sobre iniciativas positivas dos indígenas e ribeirinhos na Amazônia. Ele visitou um projeto da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), de fiscalização da floresta contra a ação dos invasores.
Por causa desse trabalho, que Bruno Pereira participava, o indigenista recebia frequentemente ameaças de narcotraficantes, madeireiros, garimpeiros e pescadores. Foram os representantes da Univaja que relataram o desaparecimento dos dois no dia 6.
Investigações
As investigações da PF sobre os motivos do crime e a real autoria prosseguem. Uma linha principal envolve o narcotráfico e o esquema ilegal de pesca. A região de Atalaia do Norte (AM), onde os dois morreram, fica na tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia. Os rios da região são usados por traficantes de armas, drogas e por contrabandistas.
Um dos esquemas investigados pela PF liga um traficante, conhecido como "Colômbia", que tem dupla nacionalidade, ao mando. Os trabalhos de Bruno Pereira e da Univaja estariam dificultando o esquema de lavagem de dinheiro do tráfico com a venda dos peixes, segundo apurou.