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Brasil

Sintomas, transmissão, vacina: o que você precisa saber sobre a varíola dos macacos

Médico infectologista Ivan Marinho explica diferença entre as variantes de varíola e as possibilidades de uma epidemia

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varíola dos macacos
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Com pelo menos 780 casos confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 27 países, a doença conhecida como "varíola dos macacos" começou a apresentar suas primeiras infecções suspeitas no Brasil, nos últimos dias, sendo a mais recente delas em São Paulo. Nesta 4ª feira (08.jun), a Secretaria do Estado da Saúde confirmou que investiga um caso suspeito da doença, em um homem de 41 anos que está internado no Instituto de Infectologia Emílio Riba, na zona oeste da capital paulista. Ao todo, há seis pacientes sendo monitorados pelo Ministério da Saúde, nos estados do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e São Paulo.

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Para o médico infectologista e coordenador do Serviço de Clínica Médica, Infectologia e Medicina Hiperbárica do Grupo Leforte, Ivan Marinho, apesar do rápido crescimento de casos, ao redor mundo, o amplo conhecimento a respeito do vírus e a baixa letalidade da doença são fatores que favorecem o seu controle. Segundo ele, a novidade em questão é o surgimento de infecções em países fora das regiões onde costumam incidir.

"É uma doença conhecida já há bastante tempo, então, isso é uma vantagem, por exemplo, em relação à covid, que é uma doença totalmente desconhecida. Mas, essa é uma doença já estudada há bastante tempo, e a gente já sabe as manifestações clínicas, a mortalidade, a forma de transmissão. O que nos estranha bastante é ela sair do seu sítio natural, e começar a surgir em vários locais do mundo, e com uma frequência que, de certa forma, nos assusta, porque a gente tem exatamente um mês do primeiro caso, na Europa, e já existem mais de 200 casos pelo mundo, e normalmente, de pessoas que não tiveram relação com essas regiões endêmicas conhecidas", ele afirma. De acordo com a OMS, entre 13 de maio e 02 de junho, houve um crescimento de 200% no número de casos.

O especialista observa ainda que, na África Ocidental e na África Central, a doença já é considera endêmica e que, no passado, já foram registrados outros surtos da doença, os quais foram rapidamente contidos. Por isso, destaca que este não é um momento para pânico, mas sim de atenção e monitoramento intensivo dos casos suspeitos. "Há necessidade de intervenção, principalmente, diante desse fato específico de estar surgindo em vários locais, e todo caso de varíola precisa ter uma vigilância bastante grande, principalmente para evitar a transmissão. Então, esses pacientes devem ficar em isolamento até se fazer o diagnóstico e a cura deles, para evitar transmissões, de novos casos".


Varíola comum x Varíola dos Macacos

O infectologista explica que, diferente da varíola, que já foi erradicada mundialmente, a varíola dos macacos não possui uma transmissibilidade tal alta, sendo inferior, inclusive a outros vírus, como o sarampo, catapora e o coronavírus.

"A grande diferença da varíola dos macacos da varíola que foi erradicada é a intensidade de transmissão, a transmissão da varíola era muito maior, a gravidade era muito maior, a letalidade era muito maior, e era uma doença de transmissão humana muito mais fácil do que é a varíola dos macacos", diz Ivan Marinho, lembrando que, apesar de menos contagiosa, a  varíola dos macacos é transmitida da mesma forma que o vírus erradicado. "Se dá a partir de contato direto com animais doentes, ou pessoas doentes, mas, diferente dos outros vírus de transmissão respiratória, por aerossóis, ele [o vírus] precisa da transmissão por gotículas, então, é preciso um contato muito mais próximo, ou contato direto com as lesões, existe também a possibilidade de transmissão sexual".

Outra diferença fundamental entre os dois tipos de varíola é a letalidade. Segundo o especialista, a grande maioria dos casos de varíola dos macacos são leves e raramente precisam de intervenção médica, apesar de já existirem tratamentos eficazes contra a doença. Em média, a recuperação da doença é de 7 a 14 dias. "A varíola dos macacos tem uma letalidade muito menor do que a varíola. Hoje, se acredita que a maioria absoluta dos casos são mais leves, que podem até ser tratados sozinhos. Acredita-se que tenha uma letalidade limitada a 3%, uma letalidade até que baixa se comparada a outras doenças infectocontagiosas. Ela tem um ciclo, e as pessoas normalmente melhoram sozinhas, independente de um tratamento específico".

Os sintomas, por outro lado, são muito similares ao da doença erradicada e, inicialmente, lembram até mesmo outros tipos de virose. "São muito parecidos com uma gripe comum, começa com febre, dor de cabeça, dor no corpo. O que diferencia de uma gripe é que começa a surgir o que a gente chama de enfartamento ganglionar, que atinge o sistema linfático, então aparece aquilo que popularmente as pessoas chamam 'ínguas', que são nódulos inflamados, e depois o surgimento clássico que são das lesões postulosas, que lembra muito a varíola. Talvez, o exemplo mais próximo seja da varicela, que é aquela varicela do zóster [a catapora], que são bolhas disseminadas pelo corpo, parecidas com pústulas, isso caracteriza a doença", acrescenta o infectologista.


Varíola da "nova geração"?

Ivan Marinho pondera ainda que uma boa parcela da população foi vacinada contra a varíola até a década de 80 e que, portanto, já estaria imunizada contra a varíola dos macacos. Partindo deste princípio, o médico observa que as recentes infecções, confirmadas fora do Continente Africano, têm ocorrido em pessoas mais jovens, que não receberam o imunizante. "Estão surgindo vários casos, normalmente, em pessoas jovens, isso tem algum significado, porque essas pessoas não têm a imunidade da vacina da varíola, os mais velhos tomaram a vacina da varíola e, teoricamente, estão mais imunizados. Isso precisa ser, de uma certa forma, controlado, precisa ter uma assistência especializada para todo caso suspeito".

A respeito dos riscos de uma epidemia de varíola e da necessidade de imunização da população contra a doença, o infectologista reforçou a necessidade de monitoramento e isolamento dos casos suspeitos, mas enfatizou que, diferente de outras doenças, como o sarampo, que voltaram a circular, em decorrência da baixa cobertura vacinal, há décadas não é registrada contaminação pela variante humana do vírus.

"A erradicação do sarampo não foi mundial. Ela foi erradicada em determinados locais, aqui a gente recebeu certificação de erradicação, mas ainda existiam casos de sarampo pelo mundo. A varíola foi uma erradicação mundial, foi decretado doença erradicada, até foi suspenso o programa de imunização e a doença nunca mais voltou. Nada é impossível, mas é muito improvável que a gente tenha surto de varíola. Ao contrário do que acontece com o sarampo, com a poliomelite, que a gente está correndo um enorme risco devido a essa baixa adesão, a essa baixa imunização pelas crianças atuais. Hoje, a gente está vendo uma inversão de valores: antigamente, os pais vacinavam as crianças para se proteger; hoje, os pais estão mais vacinados do que as crianças", conclui o médico Ivan Marinho. 

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