Política desgasta imagem das Forças Armadas, diz cientista político
Especialista afirma que ligação com o presidente Jair Bolsonaro pode afetar Exército
SBT News
A associação das Forças Armadas à política brasileira, sobretudo no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), pode desgastar a imagem do Exército. A avaliação é do cientista político João Roberto Martins, que concedeu entrevista ao SBT News nesta 3ª feira (7.set). Segundo ele, o chefe do Executivo tem, sucessivamente, colocado as Forças Armadas em situações "difíceis".
"Desde 2019, com a comemoração do golpe de 1964, até hoje, no dia 7 de setembro, o Bolsonaro se revela muito difícil de controlar. Hoje, por exemplo, é um dia tradicionalmente de parada militar e o que nós estamos vendo é uma situação completamente esdrúxula, o presidente da República liderando manifestações contra os outros Poderes e as Forças Armadas associadas a esse governo", explicou Martins.
De acordo com o especialista, quanto mais o Exército se insere na politica partidária, mais ele se expõe às contradições, aos conflitos e a todos os problemas que se relacionam à política. "Hoje em dia, principalmente, porque a imagem é tudo, aquela parada dos fuzileiros navais em frente ao Palácio do Planalto com o presidente Bolsonaro, por exemplo, mostra que há um desgaste nítido e inquestionável da imagem das Forças Armadas", pontuou.
Martins afirma que a leitura que alguns setores fazem sobre o artigo 142 da Consituição Federal de 1988, na qual defendem que o presidente poderia convocar as Forças Armadas como um ato de força sobre os demais poderes, é equivocada. "As Forças Armadas não são especialistas em direito constitucional. Quem guarda a Constituição é o Supremo Tribunal Federal (STF), e o STF já rejeitou essa interpretação do artigo 142 que dá às Forças Armadas o papel de juiz final de situações de instabilidade."
Segundo o cientista político, a quantidade de militares colocados em cargos políticos pode ser um problema a ser enfrentado pelo próximo governo, caso Bolsonaro não seja reeleito. "Nós vamos passar por muita instabilidade. Se for qualquer outro candidato, vai ser um problema mandar embora vários militares que ocupam diversos cargos no governo. Nenhum governo eleito vai querer começar com vários cargos comprometidos", disse.
"Para voltar à estaca zero, vamos ter que ter um primeiro esforço, não sei em quanto tempo isso vai ser conseguido", completou Martins.