Auxílio emergencial: exclusão digital afetou acesso das classes D e E
Estudo mostra que 20% dos brasileiros mais pobres não conseguiram benefício por não ter celular
Entre os usuários de internet de classes D e E que tentaram acessar o auxílio emergencial mas não obtiveram sucesso, em 2020, 22% afirmam que limitações da rede foi um motivo e 28% citam o fato de não conseguir usar o aplicativo da Caixa Econômica Federal (CEF). Os dados são de um trabalho realizado por pesquisadores do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGVcemif), com base em informações secundárias obtidas pela segunda edição do painel TIC Covid-19, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).
O TIC foi divulgado em outubro de 2020 e ouviu 2.408 usuários de internet -- isto é, pessoas que usaram a rede nos três meses anteriores à entrevista -- com 16 anos ou mais, em todas as regiões do Brasil, entre os dias 29 de julho e 20 de agosto. A partir dele, então, os pesquisadores do FGVcemif buscaram entender os efeitos da exclusão digital no acesso ao auxílio. Segundo o novo estudo, divulgado nesta 5ª feira (27.mai), 38% dos respondentes do painel conseguiram receber o benefício, mas 20% tiveram a solicitação negada; entre as pessoas das classes D e E, este índice sobe para 23%.
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Os motivos do insucesso em obter a aprovação incluem ainda o fato de a pessoa não ter um celular, não saber baixar aplicativos e a falta de espaço no dispositivo móvel para fazer o download de plataformas. O primeiro foi apontado por 7% do total de usuários de internet que não conseguiram acesso ao auxílio e 20% daqueles que fazem partes das classes D e E. O segundo, por 9% e 18%, respectivamente. Já o terceiro, por 10% e 23%.
As disparidades, que sugerem a forma como, no acesso ao benefício do governo, a exclusão digital afetou mais as pessoas de setores menos favorecidos, aparece também para os motivos "limitações da internet" e "não conseguir usar o aplicativo", visto que esses foram citados por 9% e 12% do público total, respectivamente.
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O coordenador do FGVcemif, Lauro Gonzalez, explica que um em cada quatro brasileiros ainda não faz uso da internet, ou seja, cerca de 47 milhões de pessoas, e que a maoria delas estão nas classes D e E. "Isso acaba sendo um problema, já que as pessoas dessas classes são justamente aquelas que estão em maior condição de vulnerabilidade social e precisam de políticas de transferência de renda", pontua.
Na conclusão do estudo, ele e o professor Marcelo Araujo falam que "o pagamento do auxílio emergencial escancarou velhos conhecidos da triste realidade brasileira. A histórica desigualdade socioeconômica espelha diversas 'outras desigualdades', como é o caso da exclusão digital". "Nesse sentido, a formulação e implementação de políticas públicas precisa levar a realidade da baixa renda em consideração, sob pena não atingir seus objetivos ou promover mudanças 'para pior", acrescentam.
Ainda nas palavras deles, "a despeito dos progressos inesperados em meio à pandemia, a inclusão digital continua uma promessa às classes D e E".
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