Autor da CPI do Crime Organizado vê Brasil "no limite de se transformar num narcoestado": "Mexicanização"
Alessandro Vieira defende consenso nacional em torno da segurança pública: "Fugir da armadilha do populismo penal e da discussão politiqueira e eleitoral"

SBT News
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor da CPI do Crime Organizado, vê Brasil "no limite daquilo que a gente, no jargão técnico, chama de 'mexicanização'". "De se transformar num narcoestado. Infiltração tão forte do crime organizado, que não tem mais estado atuando de forma independente", disse o parlamentar em entrevista exclusiva ao programa "Poder Expresso", do SBT News.
Favorito para ser relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, cujos trabalhos começam na próxima terça-feira (4), Vieira acredita que "a gente não chegou nesse estado ainda", de completo domínio de facções criminosas, mas alertou que país precisa de pacto nacional em torno de diagnóstico e soluções para a crise de segurança pública. "Alguns estados estão em piores condições. Temos momento de oportunidade, de ter uma reação", comentou.
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Operação no Rio "aparentemente, não viabiliza nenhum tipo de retomada ou ocupação de território", diz Vieira
Vieira criticou excesso de ações pontuais contra crime organizado nos últimos anos e lamentou que "tomada de decisão se dá muitas vezes com base em achismo ou ideias mirabolantes". "A gente tem de fugir disso e trabalhar com dados", acrescentou, citando elementos como integração entre Ministério da Defesa, Forças Armadas e forças de segurança e necessidade de fronteiras "adequadamente vigiadas".
Ao falar sobre megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro, a força-tarefa policial mais letal da história brasileira, com 121 mortos, o senador comentou que "ações fragmentadas tendem a não dar resultado nenhum".
"Essa ação específica no Rio, evidentemente, teve planejamento, supostamente investigação que durou um ano. Pelo menos um dado positivo: baixa incidência de terceiros atingidos, como a gente viu no passado, criança, idoso morrendo em troca de tiros. Mas, ao mesmo tempo, foi extremamente letal. Aparentemente, não viabiliza nenhum tipo de retomada ou ocupação de território", detalhou o senador, que trabalhou como delegado de polícia por 17 anos.
Como vai funcionar a CPI do Crime Organizado?
O senador enxerga a CPI como espaço possível para discussões sérias entre todas as esferas do poder público e espectros políticos divergentes: "Fugir da armadilha do populismo penal e da discussão politiqueira e eleitoral que não leva a nada e tá deixando Brasil cada vez mais distante de soluções".
"Temos [Fabiano] Contarato (PT-ES), delegado de experiência muito longa e que tem respeito dos colegas, todo mundo sabe que não é um cara sectário, ideológico. Tivemos exemplo do pacote de endurecimento processual penal, que teve iniciativa dele e relatoria de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com minha atuação, sou do MDB, de centro, com substitutivo. Dá para fazer [CPI funcionar]. O que a gente precisa é tirar componente eleitoreiro. É um desafio no Congresso fazer isso. Temos condições porque a pauta é muito séria, urgente", explicou.
Vieira opinou que planejar ações de enfrentamento ao crime organizado "não passa necessariamente por grandes mudanças legislativas". "Passa muito mais pela formação de consenso nacional. Nós temos que que ter definição política que Brasil não aceita mais esse tipo de coisa. A força que deve se sobrepor é a do estado, sempre dentro dos limites da lei, evidentemente", completou.
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Para os trabalhos da CPI, o senador projeta, primeiro, um "diagnóstico profundo" da realidade brasileira. Depois, avaliação de soluções disponíveis "dentro e fora do Brasil, em que as coisas foram controladas ou mudaram bastante de cenário". Por fim, apresentação de "um plano nacional de segurança e quais eventuais mudanças legislativas são necessárias".
Vieira evitou cravar ao SBT News quais autoridades federais, estaduais e municipais podem ser convidadas ou convocadas e afirmou que, inicialmente, foco da CPI será "ouvir quem tem conhecimento de combate a facções e milícias" e "quem tem conhecimento acumulado sobre o tema". "Não dá para dizer que fracasso ou sucesso é de esquerda ou direita, ideológico ou não", apontou.
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"A gente sabe que direita tem interesse maior na pauta da segurança pública, assim como esquerda na redução de desigualdades. Bons políticos atuam nas duas áreas. Quanto mais a gente focar no que está acontecendo, no factual da segurança, acho que teremos bons resultados. Temos estados com resultados interessantes, Sergipe e Rio Grande do Sul, partindo de cenário negativos. Assim como estados com quadro de desgastes. Rio de Janeiro, [governado] pelo PL, e Ceará, do PT. A gente tem de cuidar desse tema com seriedade técnica", explicou.









