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Menos telas, mais infância: dicas práticas para tirar as crianças do celular

Neste Dia das Crianças, especialistas alertam que as experiências vividas fora do mundo digital fortalecem vínculos e estimulam habilidades cognitivas

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Como resgatar o brincar no Dia das Crianças? | Foto: PickPik
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O dia 12 de outubro, Dia das Crianças, é mais que uma data para dar presentes: é uma oportunidade para repensar a infância. Brincar é saúde, aprendizado e vínculo. Ao contrário do que muitos pensam, brincadeiras simples, sem telas, ainda são capazes de encantar as crianças.

De acordo com Paulo Telles, pediatra membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, “mais que diversão, brincar é essencial para o desenvolvimento de uma criança mais resiliente e bem-sucedida, tanto na execução de tarefas quanto no convívio social”.

Ele lembra que brincadeiras tradicionais não perderam valor e destaca a importância de cantigas de roda, amarelinha, queimada, caçador, pipa no ar e até mesmo uma mola colorida. "São jogos universais que conectam gerações, fortalecem vínculos familiares e constroem autoestima de forma sólida.”

Além do valor lúdico, Telles destaca que brinquedos são instrumentos de aprendizado: “Eles ajudam a explorar o mundo, educar, interpretar situações e expressar sentimentos. Ao contrário do que muitos pensam, não são apenas objetos de distração, mas podem ser ferramentas fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional.”

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Brincar para aprender

Para a pedagoga Mariana Ruske, fundadora da Senses Montessori School, a infância é um momento em que brincar e aprender caminham juntos. No método pedagógico Montessori, isso se traduz em três formas principais:

  • o brincar livre, quando a criança explora de forma espontânea e deixa a imaginação conduzir;
  • o brincar estruturado, em que há regras simples ou atividades de construção;
  • e o chamado “trabalho”, que representa a dedicação prazerosa em tarefas escolhidas por ela mesma, como cuidar de uma planta ou organizar objetos.
“Essas experiências se complementam e ajudam a desenvolver criatividade, concentração e autonomia, sempre de maneira natural e respeitando o tempo da criança”, explica Mariana.

Segundo a pedagoga, resgatar brincadeiras fora das telas não é um retrocesso, mas uma forma de preparar crianças para o futuro: “Muitos pais têm medo de que, ao limitar as telas, seus filhos fiquem "para trás". É o oposto: ao estimular a imaginação, a autonomia e a concentração, estamos entregando a eles ferramentas que nenhuma tecnologia substitui.”

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Companhia de um adulto muda tudo

Mariana também reforça que a presença do adulto é determinante: “Não é o brinquedo em si que marca a infância, mas a experiência compartilhada. Uma bola pode ser apenas um objeto, mas quando um pai ou uma mãe está ao lado para jogar, ensinar e rir junto, esse momento se transforma em memória afetiva e em aprendizado para a vida.”

Além disso, o brincar deve ser reconhecido como um direito da infância: “Brincar é a linguagem natural da criança. É assim que ela organiza suas emoções, entende o mundo e aprende a lidar com frustrações. Quando os pais e educadores oferecem tempo e espaço para isso, estão promovendo saúde mental, equilíbrio e autonomia”, reforça.

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Criança com brinquedos | Foto: Freepik
Criança com brinquedos | Foto: Freepik

Tecnologia não é inimiga, mas deve existir equilíbrio

Embora seja inevitável que as novas gerações convivam com a tecnologia, especialistas defendem que um equilíbrio é fundamental.

“Estar disponível é a principal forma de envolver a criança em uma atividade desejada. Como não há nada mais natural do que uma criança querer brincar, não será difícil conquistar sua atenção quando o tutor se coloca ao lado dela”, acrescenta Telles.

Uma estratégia prática é contar histórias da própria infância, mostrando fotos ou relembrando jogos antigos. “Essas vivências carregam algo que nenhum brinquedo eletrônico pode oferecer: a liberdade da imaginação e a construção de memórias afetivas”, finaliza o pediatra.

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Dicas para equilibrar e diminuir tempo em telas

A pediatra Anna Bohn, especialista da Sociedade Brasileira de Pediatria, pontua algumas estratégias que podem ajudar a tirar as crianças das telas. São elas:

  • Tudo começa com o exemplo, a orientação é que pais e responsáveis comecem reduzindo o próprio tempo de tela. Manter um diálogo aberto com seu filho sobre limites é importante.
  • Prefira televisão à tablet ou celular. Todos podem ver juntos e interagir.
  • Combine limites claros. Defina duração e momentos de uso da tela.
  • Não use telas uma hora antes de dormir e torne isso uma rotina aos poucos.
  • Equilibre tempo de tela com atividades físicas. Por exemplo, meia hora de tela = meia hora de brincadeira.
  • Evite telas durante refeições na frente da criança, preservando conexão e percepção de saciedade.
  • Esteja presente. Participar das brincadeiras transforma momentos simples em memórias afetivas duradouras.
  • Não instale e não leve telas para os quartos. Estudos diversos mostram que manter telas longe do quarto protege o sono, a saúde mental, a segurança e a qualidade de vida global de todos.
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