Chineses imitam pássaros no TikTok contra jornadas de trabalho "996"
Trabalhadores chegam a cumprir 72 horas semanais de jornada, o que tem deixado jovens insatisfeitos e desanimados com seu futuro
Cido Coelho
Os jovens trabalhadores da China não aceitam mais uma rotina de trabalho das 9h às 21h, seis dias por semana. Após a última onda realizada de protestar indo ao trabalho de pijama e roupa de treino, agora os estudantes e profissionais recém-formados decidiram imitar pássaros enjaulados.
Como você pode ver no vídeo abaixo compartilhado no TikTok e no seu irmão chinês Douyin, os jovens chineses enfiam as mãos em camisetas grandes e simulam o empoleiramento de pássaros.
Nos vídeos, há legendas que incluem frases como “não vá trabalhar, seja apenas um pássaro” ou “não vá trabalhar, apenas não estude” estão entre as variações nas publicações.
Quando se faz uma busca no Douyin, é possível encontrar vários vídeos com esse protesto-meme.
E não é só isso. Eles cantam uma canção triste sobre as condições de trabalho exploratórias após a pandemia da Covid-19 na China.
Nas redes sociais, há muitas publicações sobre o "sistema 996", no qual os funcionários trabalham das 9h às 21h, seis dias por semana ou 72 horas semanais (no Brasil são 44h), sendo muito comum e legal entre as empresas.
Bai Ian
Há dois anos os jovens chineses também protestaram contra a cultura de trabalho no seu país, demonstrando apatia e pessimismo geral.
Na época, usava-se o termo 'bai lan' ou 'deixar apodrecer', termo originário em uma comunidade de videogames da NBA se referindo a lançar uma partida com chances mínimas de vitória.
Segundo a publicação Dazed, os chineses nascidos entre 1995 e 2010 são considerados os mais pessimistas de todos os grupos demográficos.
Mais da metade desse grupo demonstra preocupação sobre o seu futuro, diferente de gerações anteriores que contribuíram com o aumento da qualidade de vida desde que o país se abriu ao investimento estrangeiro em 1978.
Pessimismo se vira contra o governo
Esse grupo de jovens e estudantes são mais propensos a criticar o governo, devido a desilusões e queda nas perspectivas de compra de bens como a casa própria, falta de trabalho e o aumento do custo de vida, assim como algumas medidas duras em relação à Covid-19.
Em 2022, esse mesmo grupo liderou uma onda de protestos contra o governo, que conseguiu reverter a política de confinamento.
O presidente da China, Xi Jinping, diante deste cenário os incentiva a "enfrentar as adversidades" e arregaçar as mangas. Mas, os jovens não ligam para a mensagem do seu líder. Muitos desistem de suas aspirações e preferem desistir dos cargos que trabalham, como contabilidade ou programação e buscam trabalhos sem formação acadêmica.
No entanto, ainda existem frustrações por conta da economia e por isso, os jovens chineses não veem outra opção a não ser 'tornar-se um pássaro engaiolado' para externar seu descontentamento.