A decadência do Japão é uma ressurgência necessária e uma revitalização inovadora
Mergulhei na cultura, modernidade e inovação japonesa. O que encontramos, foi uma dualidade perturbadora
João Kepler
Ao lado de um grupo de investidores, embarquei em uma jornada em busca de tecnologias revolucionárias, desbravando terras que sempre fascinaram nosso imaginário. Estávamos sedentos por descobertas, por oportunidades ocultas nas cidades da região de Kansai, nas ruas de Tóquio e além. Queríamos sentir a mentalidade ousada que definiu o Japão no passado.
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Mas o que descobrimos foi um paradoxo. De um lado, um país à beira de uma estagnação, do outro, um Japão em busca de uma transformação sem precedentes.
O que encontramos, entretanto, foi uma dualidade perturbadora. Em um extremo, em meio às ruas pulsantes e arranhadas, sinto um equilíbrio respeitável entre o antigo e o novo. Era inegável: os templos centenários contrastavam com a modernidade do trem-bala Shinkansen, exibindo uma tradição respeitada do Japão.
Porém, uma melancolia pairava, revelando um sentimento de estagnação. Houve uma desconexão perturbadora: As inovações tecnológicas já não foram planejadas tão novas e se perderam em meio a uma sociedade que, em muitos aspectos, parecia estar parada no tempo. Inovações que já sentem o peso do tempo e cidadãos que parecem andar em um loop infinito de rotinas.
Me perguntei: onde estava o brilho inovador que tanto associava a esta nação?
Surpreendeu-me não a presença de robôs avançados, até vimos algumas operações no hotel, mas a repetição monótona dos cidadãos, muitos japoneses ainda agiam como "robôs humanos", aprisionados em suas tarefas diárias, sem atualizações ou novidades.
Me lembravam de uma era em que o Japão era sinônimo de progresso ininterrupto. Mas agora, a sombra de um passado glorioso parecia ofuscar o presente. Era evidente, em conversas e observações, que o vigor empresarial que uma vez caracterizou títulos como NTT e Toshiba havia esmorecido em meio à concorrência global.
Esta viagem revelou uma história não contada: a ascensão meteórica do Japão após a Segunda Guerra Mundial, transformando-se em um gigante industrial.
A riqueza retornou, trazendo o boom imobiliário dos anos 80. No entanto, esse mesmo ímpeto levou a um colapso financeiro do qual o país ainda não se recuperou totalmente. Sua competitividade desmoronou, demonstrando uma resistência quase teimosa à inovação e à diversificação.
Assim, enquanto empresas como Toyota, Fuji e Hitachi, ainda mantinham sua confiança, a chama inovadora parecia ter se apagado.
A competitividade do Japão caiu de Nº 1 para Nº 34 nos últimos 30 anos, uma decadência que reflete não apenas uma estagnação prolongada, mas uma relutância histórica em se adaptar, inovar e diversificar. Se não for feito esforço radical, permanecerá à sombra do progresso global.
Mas como ressurgir e revitalizar?
O caminho para a reinvenção não está livre de obstáculos. Há uma necessidade urgente de superar desafios como a falta de uma mentalidade de crescimento, de exposição ao risco e de empreendedores na região. "Um mar calmo nunca fez um bom marinheiro", lembra dessa frase? Pois é me parece encaixar perfeitamente na situação hoje que vimos no Japão.
Nosso grupo de investidores, foi recebido na Embaixada Brasileira em Tóquio pelo Secretário Paulo Neto e pelo Embaixador Octávio Córtes para uma apresentação dos governos do Japão através de sua entidade JETRO (Japan External Trade Organization), que é semelhante à Apex no Brasil, e do Governo Metropolitano de Tóquio.
Nossa impressão, e para a nossa surpresa, foi o reconhecimento deles dessa aparente letargia e a necessidade urgente de uma renovação, delineando estratégias ambiciosas para reavivar a chama do empreendedorismo e da inovação.
Eles declaradamente almejam a colaboração entre o setor o privado mundial como forma essencial para a execução do plano de cinco anos, onde o setor público acolhe, contrata e fomenta o poder das startups e sua inovação, atraindo investimentos, mentorias e a educação do mundo, em prol de um novo crescimento para resolver diversas questões sociais e problemas internos.
Ouvir os líderes locais sobre o desejo de romper com décadas de estagnação e marchar em direção a um futuro inovador, foi uma revelação.
O plano apresentado pelo governo japonês reflete compromissos robustos com a inovação, incluindo um investimento substancial em startups e a ambição de criar em cinco anos: 100 unicórnios e 100 mil startups.
Os esforços visam construir ecossistemas contínuos para startups, conectando-os a mentores, investidores e corporações de elite global, por meio de programas de nutrição, marketing, branding, e serviços de mentoria e conexão global.
O governo está investindo em educação empreendedora, por meio de programas educacionais como o "Tokyo Startup Gateway" para fomentar o empreendedorismo desde a escola primária até a universidade.
Alunos são encorajados a sair do padrão educacional japonês, para ganhar experiência descobrindo problemas por si mesmos e aprendendo a resolvê-los. São propostas iniciativas educacionais contínuas que incentivam a descoberta e a solução de problemas reais, buscando incutir o espírito empreendedor nas mentes jovens desde cedo, o que é muito difícil devido a um formato educacional muito tradicional.
Um aspecto notável é a ampliação das compras públicas, sinalizando uma intenção do governo de atuar como cliente inicial, dando às startups uma oportunidade vital de demonstrar seus produtos ou soluções.
Tóquio almeja tornar-se um "santuário" para startups, desejando ser o palco onde jovens com ideias revolucionárias podem transformar seus sonhos em realidade. A estratégia compreende o desenvolvimento do conceito de "Base de Inovação de Tóquio", um ambiente onde desafios domésticos e internacionais possam interagir e colaborar.
Esse movimento representa mais do que uma simples mudança de direção. Representa a ambição de Tóquio e do Japão em resgatar sua presença global no cenário econômico e de inovação.
Além disso, a evolução do gigante evento City Tech Tokyo (que mudou de nome para Sushi Tech Tokyo que acontecerá em maio de 2024) reflete a crescente importância e popularidade deste movimento em Tóquio, destacando o compromisso da cidade em ser uma líder global no cenário de tecnologia e inovação.
Era claro: o renascimento do Japão exigia uma revisão de sua abordagem econômica e social. Uma solução? Uma aposta decidida no espírito empreendedor, inovação e investimentos maciços em educação empreendedora refletem essa determinação.
Durante minhas conversas com empresários locais, percebi um sentimento contagiante de esperança e determinação. Havia um desejo palpável de restaurar o brilho do Japão no cenário global. Com propostas de construir um ambiente vibrante e uma atitude global, a nação está pronta para uma revolução empreendedora.
No coração de transformação, jovens empreendedores foram encorajados a pensar além das fronteiras, a colaborar internacionalmente e a trazer novas perspectivas para o mercado japonês. Era evidente que o Japão apresentava a necessidade de uma atitude mais globalizada para competir eficazmente no palco mundial.
No entanto, os desafios permanecem. A hierarquia corporativa, uma sociedade envelhecida e uma resistência histórica à diversidade são obstáculos formidáveis. Mas com um foco renovador em inovação disruptiva, diversidade e adaptabilidade, o Japão parece estar no caminho certo para um renascimento econômico.
Na minha última noite em Tóquio, enquanto refletia sobre a jornada, uma sensação de esperança me inundou. O Japão, com sua rica tapeçaria de tradição e modernidade, estava à beira de uma nova era. E enquanto os desafios certamente aguardavam, o espírito indomável da nação promete um futuro de inovação, crescimento e renovação.
Assim, ao deixar o Japão, carreguei comigo não apenas lembranças de uma nação rica em história e cultura, mas também a esperança de que, como existe um incomodo e uma insatisfação interna por perder espaço global, a fênix, o Japão surgirá das cinzas de seu passado e alçará voo novamente, iluminando o caminho para um futuro mais brilhante e promissor.
Nós da Smart Money Education e da Bossa Invest queremos ser parceiros em todos os sentidos nessa ressurgência do Japão.