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Adiamento do Comunidades do WhatsApp é visto como positivo por especialistas

Serviço de mensagens apresentou ao governo mais informações sobre o recurso que será lançado após as eleições. Decisão foi tomada pela própria empresa

Adiamento do Comunidades do WhatsApp é visto como positivo por especialistas
imagem do recurso whatsapp comunidades que será adiado no brasil para depois das eleicoes
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O serviço mensagens WhatsApp, do Meta (Facebook) anunciou para todo o planeta o recurso Comunidades em meados de abril. A ferramenta é semelhante ao que já existe no aplicativo de mensagens russo Telegram, onde as mensagens poderão ser distribuídas para milhares de usuários agrupados. O ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), afirmou nesta quarta-feira (27.abr) que a decisão do serviço de mensagens de lançar um novo recurso de grupos de conversa apenas após as eleições não foi tomada devido a um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  A declaração foi dada em uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, após uma reunião com diretores do aplicativo de mensagens no Brasil. O encontro para o esclarecimento foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

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"Saiu na imprensa que teria tido um acordo. Que o TSE teria pedido para o WhatsApp não iniciar as operações no Brasil antes da eleição. E eles deixaram claro para o presidente [Bolsonaro] que isso não ocorreu. (...) O presidente, depois que ouviu isso, entendeu completamente como sendo uma decisão da empresa, uma decisão de mercado. Então não tem porque e nem como o Poder Executivo interferir", declarou.

A empresa ressaltou em nota que o lançamento da ferramenta foi decisão unilateral da própria companhia, sem interferência ou participação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"É importante ressaltar que a decisão sobre a data de lançamento deste recurso no Brasil foi tomada exclusivamente pela empresa, tendo em vista a confiabilidade do funcionamento do recurso e sua estratégia de negócios de longo prazo. Essa decisão não foi tomada a pedido nem por acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)", diz o WhatsApp em nota.

A novidade, chamada de Comunidades, que deve ser lançado no mundo todo de forma gradativa, será lançada no Brasil só após as eleições gerais. O WhatsApp firmou um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral para desenvolver outras tecnologias como a criação de um chatbot, um canal de denúncias para contas suspeitas de disparos em massa, além de treinamentos para equipe da Justiça Eleitoral, além de ser signatária do Programa de Enfrentamento à Desinformação desde 2019. A empresa reforçou que não há referência do lançamento do Comunidades no memorando acertado com o TSE.

"No entanto, nenhum desses acordos com o WhatsApp faz referência à funcionalidade Comunidades ou ao seu momento de lançamento, pois esse tipo de decisão cabe à empresa", reforça a empresa pertencente a Meta (Facebook).

O WhatsApp foi apontado como uma das responsáveis por disseminar desinformação as eleições de 2018 e este atraso no lançamento tornou-se uma das medidas para conter o impacto da distribuição de conteúdo enganoso durante o pleito. 

Pivo da desinformação em 2018, WhatsApp firmou neste ano memorando com o TSE para fornecer tecnologia e treinamento para o pleito de 2022 | Pixabay

Para a Meta (Facebook), empresa dona do aplicativo de mensagens, em relação a desinformação nas eleições, o WhatsApp tem buscado cooperar com as autoridades locais e respeitando o Marco Civil da Internet.

Além disso, a empresa ressaltou que tem tomado diversas iniciativas, além da parceria com o TSE, para combater o volume de informações falsas, como o banimento de 8 milhões de contas por mês, por comportamento não-autêntico no aplicativo, banimento de milhares de contas durante as eleições de 2020, restrição de compartilhamento de conteúdos na plataforma -- passando de 5 conversas por vez --, para uma conversa, além de aperfeiçoar a forma de realizar denúncias de abusos de mensagens e a restrição das listas de distribuição.

"O WhatsApp não permite disparo de mensagens em massa em sua plataforma e esse tipo de prática é explicitamente proibida pelos Termos de Serviço do aplicativo. Em dezembro de 2019, após sugestão apresentada pelo WhatsApp, o TSE aprovou regulamentação proibindo o disparo de mensagens em massa por meio eletrônico nas eleições municipais de 2020. Em 2021, o WhatsApp também colaborou com o debate público, participando mais uma vez da audiência pública visando a regulamentação das eleições de 2022", explica a nota enviada pela assessoria de imprensa da Meta.

Os especialistas consultados pela reportagem do SBT News -- Rosemary Segurado (Fespsp/PUC-SP), Sérgio Ludtke (Projeto Comprova), Pablo Ortellado (USP) e Marcelo Lau (FIAP) -- que temiam que o WhatsApp poderia tornar-se um recurso fértil para a desinformação nas eleições, observaram que a empresa tomou medidas positivas para evitar uma interferência no processo democrático. Até mesmo, para evitar uma nova crise de imagem, cujo o aplicativo se tornou o cerne e até mesmo um símbolo de disseminação de notícias falsas à época das últimas eleições presidenciais em 2018. 

Bolsonaro criticou acordo entre WhatsApp e TSE; cientista política vê ataques como forma de deslegitimar processo eleitoral

Bolsonaro fez críticas a parceria entre TSE e WhatsApp e criticou o adiamento do Comunidades no país | Agência Brasil

Durante a motociata que aconteceu em São Paulo, no feriado de Páscoa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ameaças ao acordo celebrado entre o WhatsApp e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre apoio com tecnologia no processo eleitoral e ainda fez duras críticas ao atraso do lançamento do recurso Comunidades no Brasil.

Com isso, o recurso será lançado apenas após o pleito. Após o anúncio, Bolsonaro afirmou que o compromisso entre a empresa de tecnologia e a Justiça Eleitoral 'não vai para frente'.

"Já adianto que o que o (sic) WhatsApp está fazendo no mundo todo não tem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil, isso é inadmissível, inaceitável e não vai ser cumprido esse acordo que porventura eles tenham feito com o Brasil, segundo informações que eu tenho até o presente momento", reclamou o presidente da República.

Ele ainda ressaltou que o acordo é uma forma de censura e que todos devem atuar 'dentro das quatro linhas' da Constituição.

"Censura, discriminação, isso não existe. Ninguém tira o direito de vocês nem por lei quem dirá por um acordo. Esse acordo não tem validade", disse, ao repetir que todos devem "jogar dentro das quatro linhas" da Constituição. "O Brasil seguirá livre custe o que custar", afirmou o presidente.

Para a cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado, o presidente da República reclama contra o acordo entre a Justiça Eleitoral e a plataforma da Meta, por não quer perder este espaço para a disseminação da sua propaganda eleitoral. 

Segundo ela, as plataformas de tecnologia, sendo empresas privadas, têm a consciência, responsabilidade por ter colaborado para que o ambiente das eleições não sejam contaminados por informações enganosas.

"Algumas plataformas, como o WhatsApp, tem tentado colaborar com os órgãos governamentais, principalmente eleitoral, para evitar que seja uma eleição contaminada por mentiras. Então, eu acho que o WhatsApp, que é uma empresa privada, já disponibiliza ao deixar isso [o recurso Comunidades] para depois das eleições. Ele entende a sua responsabilidade nesse processo. Por que, se a fake news passa por essas plataformas, as plataformas também deveriam ser responsabilizadas nestes tópicos da legislação, que está sendo debatida agora no Congresso, sobre fake news e desinformação", contextualiza Segurado.

A cientista política da Fespsp e PUC-SP ainda ressalta que o presidente da República e atual candidato busca por meio de seus apoiadores deslegitimar o processo eleitoral de outubro e as as autoridades da Justiça Eleitoral, como levantando suspeitas sobre a urna eletrônica e a sua confiabilidade, para gerar uma desconfiança com a população.

"Mas, também ao questionar e dizer que as eleições podem não ser limpas, ele abre uma porta para questionar o resultado das eleições.  Bolsonaro já fez isso em 2018, alegando de que ele ganhou no primeiro turno. Mas, nunca apresentou uma prova mostrando isso. E agora, tenta de novo fazer isso para deslegitimar o  processo eleitoral", diz a professora. 

Rosemary reforça que a postura e o comportamento de Bolsonaro de questionar as autoridades eleitorais pode ser uma ameaça à democracia e espera que tanto o TSE quando o WhatsApp mantenham o acordo para que as eleições aconteçam de forma mais legitima possível.

"Isso, do meu ponto de vista, é uma ameaça à democracia. Mais uma ameaça que vem sendo feita e espero que tanto WhatsApp quanto as autoridades Tribunal Superior Eleitoral se mantenham firmes. Porque, realmente uma eleição com base na mentira, com base na desinformação, ela é uma eleição que afeta a vida democrática do país", conclui.

 
Críticas ao aplicativo mostram que custo de distribuir desinformação fica mais caro

Para editor do Projeto Comprova, acordo com TSE é benéfico para garantir um ambiente saudável nas eleições | Unsplash

Para o editor-chefe do Projeto Comprova, -- consórcio jornalístico que combate a desinformação, no qual o SBT e SBT News fazem parte --, Sérgio Lüdtke ressalta não percebe as críticas de Bolsonaro como uma censura.

Ele observa que esses ataques são uma crítica ao adiamento do lançamento do Comunidades do WhatsApp e pelo aumento de custo da distribuição das desinformações, já que será necessário utilizar outras plataformas para fazer a entrega destes tipos de conteúdo, que são monitoráveis nestas ferramentas. E isso é positivo para o bom ambiente de circulação de informação. 

"O Presidente da República, Jair Bolsonaro, criticou o adiamento do lançamento do Comunidades, mas, eu não vejo isso como uma censura. Eu vejo com bons olhos, porque acho que vai aumentar o custo da desinformação, da distribuição das informações, deve evitar e provavelmente quem precise transmitir por um número maior de pessoas peças desinformação. Vai utilizar outras plataformas e as outras plataformas elas são monitoráveis. É mais fácil fazer um monitoramento, identificar aquilo que está circulando e identificar também o alcance que essas peças de desinformação acabam tendo. Então, é isso é bom para o ambiente é de informação, traz mais transparência e eu acho que é uma boa medida que o WhatsApp toma" analisa o editor do Comprova.

Sérgio Lüdtke explica que o WhatsApp foi duramente criticado nas eleições presidenciais de 2018, por causa do grande volume de conteúdos de desinformação que circularam pelo aplicativo de mensagem.

No Comprova, os checadores receberam mais de 60 mil arquivos que circularam pela plataforma de mensagens com conteúdo suspeito ou enganoso. No entanto, desde aquela eleição, a plataforma da Meta tem tomado várias atitudes e feito várias modificações para coibir a desinformação.

"De lá para cá, o aplicativo tomou várias atitudes em relação a desinformação. Reduziu a possibilidade de compartilhamento, criou sinalizações e me parece que tudo isso foi muito positivo para redução da desinformação que circula no país. Nós percebemos que, depois de implantadas essas medidas, uma redução de em torno de 10% nos conteúdos que nós recebemos e que tiveram origem no WhatsApp. Então a participação reduziu em torno de 10% [à época das eleições]", contextualiza Lüdtke.

O editor do Comprova ainda ressalta que o acordo com o TSE foi benéfico para garantir um ambiente mais saudável para as eleições, pois vai ter uma redução de circulação de conteúdo suspeito.

"Em função do acordo assinado com TSE, o WhatsApp também anunciou que vai lançar a funcionalidade de comunidades no mundo. Mas, vai protelar o lançamento no Brasil para depois das eleições, como uma forma de garantir um ambiente um pouco mais saudável e que de alguma forma evitar ou reduzir a quantidade de informação que deve circular", destaca.

 
Para especialista, adiamento do Comunidades foi uma decisão empresarial para evitar nova crise de imagem

Para o professor de políticas públicas da Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado, o adiamento da ferramenta no Brasil foi uma decisão empresarial, que tem mais relação com a imagem do aplicativo que foi manchado durante as eleições de 2018.

"Sabe que o TSE solicitou, mas eu acho que a empresa também sabia dos riscos de lançar esse produto às vésperas do período eleitoral", explica Ortellado.

E, agora, na ótica do professor da USP, a Meta visa contornar para não se tornar alvo da mesma crise em que entrou nas últimas eleições presidenciais no Brasil e para não contaminar o lançamento desta ferramenta e evitar polêmicas para atrapalhar o uso comercial da ferramenta, visto que ela.

"Eu acredito que o adiamento do lançamento dessa ferramenta no Brasil e não tá claro que se é só no Brasil. Se tem outros países, em que a empresa considerou achar por bem postergar a implementação dessa ferramenta... É uma decisão empresarial que tem mais a ver com a imagem reputação do aplicativo, que já foi manchado pelo uso político, que foi feito dele em 2018, do que necessariamente atendendo uma solicitação do TSE. Embora, também, seja bastante compreensivo que o TSE faça essa solicitação em face o que aconteceu nas últimas eleições", explicou. 


Quais são os outros recursos que serão lançados no aplicativo?

Para conquistar mais usuários e fazer frente a concorrência do Telegram, aplicativo de mensagens ganha novas atualizações | Reprodução/WhatsApp

De acordo com a empresa, as Comunidades do WhatsApp são uma maneira de aprimorar a organização dos grupos, além de facilitar o envio de avisos ou comunicados em comum para muitas pessoas ao mesmo tempo.

Os usuários poderão reunir muitos grupos num mesmo espaço e distribuir suas mensagens para estes aglomerados.

No momento, o aplicativo permite a distribuição de mensagens para 256 pessoas, no entanto, com a nova ferramenta, as Comunidades vão permitir reunir até 10 grupos com até 256 pessoas, sendo assim, agrupando 2.560 pessoas que poderão receber uma mesma mensagem. Porém, o WhatsApp estuda ampliar essa distribuição, aumento o limite dos grupos passando de 256 para 512 participantes.

"As Comunidades do WhatsApp permitirão que as pessoas reúnam grupos relacionados sob uma mesma estrutura que funcione para elas. Dessa forma, os participantes poderão receber avisos enviados para toda a Comunidade e organizar grupos menores para discutir os assuntos que são de seu interesse com facilidade. As Comunidades também contarão com novas ferramentas avançadas para admins, como o envio de avisos a todos os participantes e o controle de quais grupos podem ser adicionados", explica o comunicado oficial da empresa.

Além do Comunidades, o WhatsApp vai disponibilizar para o usuário os recursos de Reações -- onde as pessoas poderão compartilhar emojis (figurinhas); mensagens apagadas por administradores, compartilhamento de arquivos de até 2GB, possibilitando envio de materiais mais pesados, como vídeos em alta qualidade. O limite anterior era 16MB no celular e 64MB no WhatsApp Web; e chamadas de voz com até 32 participantes simultâneos, para reuniões em grupo.

O WhatsApp garante que os recursos são seguros e que as comunidades ainda terão as mensagens protegidas pela tecnologia de criptografia de ponta a ponta. 

WhatsApp cria nova interface para recurso de chamadas de voz com 32 usuários ao mesmo tempo | Reprodução/WhatsApp 

"Esta tecnologia de segurança nunca foi tão necessária para proteger a privacidade e a segurança das pessoas. Pequenos grupos com o mesmo interesse, como escolas, membros de uma congregação religiosa ou até mesmo empresas, querem e precisam conversar de maneira segura, sempre com a privacidade que o WhatsApp oferece", explica. 

Para o professor de Cibersegurança da FIAP, Marcelo Lau, que além da ferramenta permitir a maior de quantidade de pessoas no uso da plataforma, pode favorecer o candidato a presidente; mas, o limitar o uso da tecnologia, proposto pelo TSE, para evitar o favorecimento dos candidatos.

Se por um lado isso [as Comunidades] poderia auxiliar o candidato à presidência a um favorecimento por poder divulgar seus conteúdos nessas comunidades, por outro lado, o TSE está limitando esse recurso dado que este é um ano eleitoral e que tem como objetivo evitar a utilização de qualquer novo recurso para favorecimento ou desfavorecimento dos candidatos, observou

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