Para escapar de reflexos da guerra na Ucrânia, investidores buscam 'porto seguro'
Brasil pode ser um hub de oportunidades para investimentos de risco e para apostar em startups
Cido Coelho
Com os mais de 40 dias de guerra entre Rússia e Ucrânia, que segue sem definições sobre um cessar-fogo ou um final para esse conflito que afetou diretamente a economia global, investidores buscam saídas e soluções para aportar seus investimentos em locais mais estáveis e com segurança jurídica adequada para que possa continuar girando a economia como um todo.
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A reportagem do SBT News conversou com especialistas e executivos de startups sobre os impactos da guerra na Ucrânia nos investimentos e a busca de oportunidades para quem tem uma startup e precisa de recursos para fazer sua empresa iniciante decolar.
Segundo na avaliação deles, o Brasil, mesmo com eleições gerais pela frente e um cenário econômico instável, o país pode ser um local atrativo para investidores estrangeiros e para ser um motor de desenvolvimento econômico diante das turbulências que ocorrem no velho continente.
Brasil um caminho provável
Segundo especialistas, os investimentos devem mudar de rota, buscando um porto seguro para os investimentos, como o Brasil, que apesar de um ano de eleições gerais, aqui é um dos lugares onde os investidores tem segurança financeira e jurídica para manter e multiplicar seus recursos.
"A gente está lidando com um ambiente cada vez mais incerto e um ambiente como esse, em que os riscos aumentam, os investidores tendem a alocar seus recursos e investimentos mais seguros", explica a professora de finanças para empreendedorismo da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Liliam Sanchez Carrete.
Para ela, os investidores que estão avessos à riscos, buscam neste momento investimentos mais seguros, com isso, os recursos investidos na Rússia, Ucrânia e Europa devem seguir para outras regiões que não serão impactadas diretamente pela guerra, como é o caso da América Latina, e do Brasil, além da aposta em títulos do governo, como os dos Estados Unidos.
"Então, no momento como esse, eles vão alocar seus recursos e investimentos do governo em títulos emitidos pelo governo, por exemplo, os Teasures Notes, do governo americano. Então, investem títulos do governo americano e até em ouro. Por isso, que em época de maior incerteza o preço do ouro aumenta. Com investimento em startup é pelos venture captals, eles captam recursos de outros investidores... Esses outros investidores, estando mais avessos ao risco, buscam investimentos mais seguros. Eles vão deixar de investir nos venture captals e portanto vai ter menos investimentos para alocar em tratar
isso no primeiro momento", detalha Liliam.
O país pode ser uma alternativa de maior risco, mas, ao mesmo tempo, a América Latina está longe da região do conflito e não sofre de imediato os efeitos mais nocivos da guerra.
"No segundo momento, acredito que o Brasil pode ser uma alternativa excelente para investimentos de risco. Ou seja, o investidor ele não vai conseguir manter o seu dinheiro ou 100% do seu capital lá guardado no investimento seguro. Ele vai começar a alocar seu capital em uma alternativa de maior risco. Entretanto, se a gente pensa no jogo global -- eu estou na América Latina que tá muito longe da guerra da Ucrânia e Rússia, vai ser o último local, última região que vai ser afetada por essa guerra" contextualiza a especialista, que apesar dos impactos mínimos, as startups ainda vão sofrer de forma logística e econômica, mas não com tanto impacto", conta.
Para Lillian Carrete, o Brasil pode ser um grande beneficiado com o recebimento de recursos externos para investimento nas startups, além de ser uma oportunidade de amadurecimento após a realocação de recursos dos investidores.
"O impacto econômico mas é um impacto direto dessa guerra. Então, o Brasil pode se beneficiar com o recebimento de recursos externos para investimento nas nossas startups. Pode ser o momento uma oportunidade de amadurecimento, não agora, mas no segundo momento, porque agora tá todo mundo tentando entender o que está acontecendo e está no momento de realocação de recursos. Então, a gente pode se beneficiar bastante com esse cenário, inclusive entre o segundo e terceiro trimestre do ano", analisa a professora de finanças e empreendedorismo da FEA-USP.
Existe inversão de fluxo de capital
Para Nicolaos Theodorakis, fundador e CEO da startup Noah, voltada para construção civil, que o Brasil, por ter características específicas, por estar em recuperação econômica e por ser um ano eleitoral, o país torna-se um polo de investimento, porque os países que estão em guerra, os investimentos torna-se escassos torna-se um lugar com insegurança jurídica para aportes.
"O impacto do investimento num país como a Ucrânia e no Brasil, se comportam de formas diferentes. Um investimento num país que está em guerra é um investimento mais escasso. As pessoas não vão não se sentem segurança jurídica de fazer investimentos em locais com conflitos acontecendo", explica Theodorakis, que também detalha, que além da Ucrânia, os investimentos saem da Rússia, com a inversão de fluxo de capital, e podem seguir para o lado brasileiro, por ser um lugar mais seguro no âmbito jurídico.
"Teve um fluxo de capital invertida, ou seja, capital saiu de lá por questões de segurança jurídica. Vamos dizer assim: tem esse capital tem que ser alocado em outros locais e o Brasil naturalmente é um país pela sua economia forte, e é um país que tem essa atratividade. Ficou um pouco fora do radar internacional nos últimos anos por conta das nossas questões econômicas e políticas de uma certa forma. Mas, hoje a gente, tem um fluxo um inflow, que a gente chama um fluxo positivo de capital entrando no Brasil isso ajuda", contextualiza o executivo da startup.
Startups com mais eficiência vencem
Já Amure Pinho, fundador do Investidores.vc e ex-presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), organização que reune mais de 5.800 startups e mais de 35 mil empreendedores em todo o país, disse ao SBT News que com o complexo cenário que a guerra trouxe para os dois países, reverberando principalmente na Europa e no restante do mundo.
Por causa do aumento dos custos, como os produtos e das commodities, gerando inflação e insegurança no primeiro momento por conta da situação entre Rússia e Ucrânia, as startups terão que se desdobrar mais para conseguir recursos, demonstrando mais resultados que sua startup pode gerar, mostrando ao investidor anjo qual tem mais eficiência com o capital investido, ou seja, será colocado na balança o custo de produção e operação, com a lucratividade no cenário de longo prazo.
Aquela empresa iniciante que produzir mais por menos, gerando mais oportunidade de riqueza e negócio pode seguir sobrevivendo neste mercado que agora tem um gargalo mais apertado.
"Vai ser cada vez mais disputado e vão vencer aquelas startups que conseguiram provar mais eficiência com capital do que as outras. Se eu vejo duas startups que eu tenho interesse, ambas crescendo, ambas eficientes? Se uma custa 10 milhões e outra no mesmo tamanho [custando] 7 [milhões], eu vou investir na de sete [milhões]. Então, esses empreendedores vão ter que fazer ajuste nos seus preços e nas suas projeções e quanto o tempo eles duram", argumenta Pinho. "Aquele modelo de captar e queimar dinheiro para você crescer mais rápido, talvez dê espaço para modelos mais sustentáveis, com mais responsabilidade contábil", completa.
Pinho explica que as startups que tiverem melhor gestão de caixa, forem mais eficientes com capital alocado e conseguirem ajustar sua experiência vai sair na frente das outras e que o Brasil pode ganhar muito protagonismo neste cenário, como um grande atrator de recursos, porque o país não sofre os impactos diretos do confronto e por estar distante da região do conflito bélico.
"A gente pode realmente ganhar muito protagonismo nisso agora? Então, alguns setores podem funcionar no Brasil. Essa mudança no jogo de tabuleiro do poder pode posicionar a gente como super facilitador financeiro para o mundo. Eu acho que as startups vão ver em alguns segmentos desafios da captação. Mas, em outros a gente vai ver uma vontade econômica puxando isso um pouco mais forte. Apesar de estar numa economia global, a gente também não sofre tão diretamente como a Europa sofre", finaliza.