Em SP, interior volta a puxar recorde de feminicídios no estado
Com metade da população paulista, assassinatos de mulheres de janeiro a setembro são quase o dobro dos registrados na Gde São Paulo
As cidades do interior paulista voltaram a elevar os casos de feminicídios em São Paulo em 2023, que bateu novo recorde histórico. Dos 173 crimes de gênero registrados entre janeiro e setembro, foram registrados em cidades do interior, e 58 deles na capital paulista e nos 38 municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Os dados são de levantamento do SBT News nas estatísticas oficiais da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Com 173 mulheres assassinadas por serem mulheres neste ano, São Paulo atingiu a maior marca de feminicídios, em relação a igual período nos últimos cinco anos (2018-2022). Em 2022, ano com o maior número de registros até aqui, foram 132 casos no mesmo período.
Os dados reunidos pelo SBT News mostram que, além do crescimento de feminicídios no estado, 2023 mostra que a predominância histórica de crimes do tipo nos municípios do interior, em relação à Grande São Paulo, voltou a ser acentuada. Olhando as retas do gráfico abaixo, é possível observar como os registros em cidades fora da área metropolitana da capital puxaram as estatísticas do estado para cima desde 2018, quando crimes de gênero passaram a ser nominados nas estatísticas da polícia.
Desde o início da contagem em 2018, os feminicídios no interior sempre estiveram acima do registrado na capital e sua Região Metropolitana. Os anos de 2021 e 2022, no entanto, indicavam uma mudança de cenário. Os casos do interior se mantiveram estáveis e até caíram, em 2021, enquanto na Grande São Paulo houve elevação.
Em 2022, por exemplo, os feminicídios na Grande São Paulo apresentaram alta na série histórica. Dos 132 crimes do tipo no período, 55% (ou 73 casos) foram no interior e 44% (ou 59 casos) da área metropolitana da capital.
O promotora de Justiça Fabíola Sucasas, coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo, afirmou em entrevista ao SBT News que os órgão vem verificando esse aumento de casos no interior de São Paulo.
"Em São Paulo, existe uma característica específica, que dados do Ministério Público de São Paulo mostraram, que o interior lidera os casos em relação à capital."
A promotora do MP paulista lembra que "é preciso que a vítima tenha mecanismos para conseguir sair daquele relacionamento abusivo". "Quando nós falamos das medidas protetivas, elas realmente salvam". E destaca ainda que, apesar do aumento dos feminicídios consumados, houve um aumento dos feminicídios tentados.
"Significa que reduziram os consumados. Isso mostra que o nosso trabalho tem se mostrado efetivo, mas não podemos deixar de encorajar as mulheres a buscar ajuda, mas muito mais, a que os homens modifiquem o seu comportamento, porque se matarem, se tentarem matar, a lei, a força da caneta, será pesada."
Aumento preocupante
Em São Paulo - estados mais rico e populoso do Brasil - os crimes de gênero contra mulheres seguem uma tendência de alta registrada em todo país. Reportagem exclusiva do SBT News revelou que 708 feminicídios foram registrados no primeiro semestre, superando o total de casos de 2022 - ano de recorde nacional. Estudo recém lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirmou esses índices.
São pelo menos 1,1 mil mulheres assassinadas por serem mulheres no Brasil até setembro. Uma média de quatro feminicídios por dia, taxa crescente no país nos últimos três anos.
Em números totais, estados como São Paulo, Minas e Bahia lideram os casos de feminicídios por serem os mais populosos. Mas quando se contabiliza as ocorrências, levando em conta a quantidade de moradores, estados como Rondônia e Mato Grosso estão no topo do ranking.
Em 2022, por exemplo, 24 mulheres foram vítimas de feminicídio em Rondônia. Parece pouco, comparado aos 195 casos de São Paulo - ano do recorde, mas quando se faz a conta proporcional, a realidade é outra. O estado do Norte tem uma taxa de 3,1 crimes, para cada grupo de 100 mil moradores, primeiro da lista do Brasil. O estado do Sudoeste, é o último dessa mesma lista, com taxa de 0,9.
A socióloga Silvana Mariano, coordenadora do Laboratório de Estudos do Feminicídio da Universidade Estadual de Londrina (UEL), avalia que a sociedade "machista, patriarcal e sexista" tem peso no aumento de núimeros de feminicídios, em geral. Assim como a falta de devida punição aos autores. "Os autores acabam não apenados. É preciso diligências adequadas e, no Brasil, investiga-se muito pouco.
Monitoramento
No primeiro dia de novembro - mês do Dia de Prevenção ao Feminicídio, dia 25 - a influeciadora digital Luana Caroline Verdi, de 34 anos, foi mais uma vítima dessa fria estatística. Mãe de dois gêmeos de 11 anos, ela costumava postar imagens de sua rotina e dos filhos na internet. Foi assassinada a tiros em casa, enquanto dormia, pelo marido, Victor dos Santos, de 36 anos, que se suicidou na sequência. Ele não aceitava o fim do casamento.
Foi em Rio Preto também, no oeste paulista, que o secretário de Segurança Pública do Estado, Guilhemer Derrite, anunciou no final de outubro a ampliação de um projeto de monitoramento de potenciais crimes contra mulheres, implantado em setembro.
Na Central de Operações da PM (Copom), policiais monitoram em tempo real os alvos no mapa eletrônico da Grande São Paulo e age para evitar mortes. Um convênio da Secretaria Estadual de Segurança Pública e o Tribunal de Justiça de São Paulo implantou neste ano um sistema que monitora 24 horas os potenciais agressores, com tornozeleiras eletrônicas, em tempo real.
São 43 atualmente alvos de monitoramento por violência doméstica, em que as mulheres vítimas conseguiram na Justiçaa uma medida protetiva. Cada um tem seus movimento acompanhados o dia inteiro no mapa de controle da PM.
"Temos 43 monitorados nesse projeto piloto da Polícia Militar de São Paulo", explica o coronel Lucena, chefe do Copom da PM. Em entrevista ao SBT na sede do Copom da PM em São Paulo, ele avalia que o programa "vem trazendo bons resultados". "Em menos de dois meses tivemos 17 presos, ou seja, 17 vidas foram preservadas através desse sistema inovador."
Na prática, assim que o potencial agressor deixa a audiência de custódia, ele sai com o equipamento na perna. Os PMs do Copom, que é a central da polícia de controle e monitoramento. "As vítimas elas têm um raio, um perímetro de proteção de 300 metros, se o monitorado romper essa barreira, aumotomaticamente é emitido um sinal sonoro, um alerta e a PM envia uma equipe para resgaurdar a integragridade física da vítima", explica o coronel Lucena, chefe do Copom da PM.
Quando isso acontece, é emitido um sinal sonora na tela do Copom alertando essa "ruptura da ordem pública". "Ele é preso e automaticamente é conduzido à delegacia de polícia para registro."
O monitoramento funciona desde 11 de setembro na capital - onde vivem 11 milhões de pessoas. "É um projeto piloto que vem dando sinais positivos." O governo estadual prometeu ampliar o projeto de monitoramento para todo estado, até 2024.
"O monitoramento de criminosos reincidentes em cumprimento de pena em regime aberto será uma realidade em todo o Estado de São Paulo até o final do ano que vem", disse Derrite na época. "Nós temos 8 mil tornozeleiras contratadas para a capital paulista e abrimos um edital de licitação para comprar para todo o estado pela Secretaria da Segurança Pública", anunciou o secretário, na ocasião.
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