Exclusivo: Tribunal de Contas flagra fraude no ponto eletrônico de médicos em hospital público de São Paulo
Inspeção surpresa no Hospital Heliópolis revela que menos da metade dos médicos cumpriu a jornada de trabalho
Uma fiscalização realizada pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) constatou irregularidades na escala de médicos do Hospital Heliópolis, na zona sul da capital paulista. A prática de "bater o ponto e não trabalhar" foi identificada durante uma inspeção surpresa, motivada por uma denúncia feita pelo jornalismo do SBT.
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No dia da visita dos fiscais, dos 16 médicos que deveriam estar de plantão, apenas cinco estavam presentes e cumpriram a jornada de trabalho. O documento da fiscalização, ao qual o SBT Brasil teve acesso, revela detalhes sobre o comportamento dos profissionais.
O médico Durval Alex Gomes e Costa, por exemplo, deveria trabalhar das 13h às 18h, mas chegou atrasado, às 14h23, e bateu o ponto de saída às 16h08. Ou seja, apenas 1 hora e 45 minutos de trabalho.
Outro caso destacado foi o da ginecologista Silmara Andalaft Fialho, que, segundo a escala, deveria estar no hospital das 8h às 18h. No entanto, após bater o ponto às 8h26, a médica desapareceu, e mesmo com buscas e ligações para diferentes setores, ela não foi localizada. Além disso, não havia fichas de atendimento dela no hospital e, nos três consultórios de ginecologia, nenhum médico estava disponível para atender pacientes.
O cenário de negligência no atendimento gerou frustração nos usuários do sistema de saúde. Andressa, que aguardava uma tomografia para o irmão com câncer de esôfago, desabafou: “Você pergunta, eles dizem: ‘Vocês vão esperar meu irmão morrer pra fazer uma tomografia?’. Nem data, nem dia”.
O TCE deu um prazo de 48 horas para que a Secretaria Estadual da Saúde se pronuncie sobre as irregularidades. A gravidade do caso levou o tribunal a estender a fiscalização para outros hospitais públicos administrados pelo estado.
Durante a inspeção, foi descoberto que 32 servidores, incluindo 14 médicos, estavam dispensados de bater o ponto eletrônico, alegando ausência de biometria por motivos médicos.
Um dos casos envolve a ginecologista Virgínia Célia de Carli Roncatti, liberada da biometria e que deveria estar de plantão no Hospital Heliópolis das 7h às 11h. No entanto, no dia 10 de outubro, foi flagrada atendendo em seu consultório particular, no mesmo horário.
A desigualdade no atendimento, onde quem pode pagar R$ 400 por uma consulta particular tem prioridade, enquanto outros enfrentam filas intermináveis no hospital público, ficou evidente.
Na recepção do hospital, quem tentar marcar uma consulta recebe essa resposta: “Tem vaga para dezembro ou janeiro”.