Talco da Johnson & Johnson é acusado de ter substância cancerígena; entenda
Empresa fez oferta de acordo para consumidores que a processam e parou de comercializar produto nos EUA em 2023
A gigante farmacêutica americana Johnson & Johnson está sendo processada por pessoas que acusam a empresa de produzir talco com amianto, substância que causa problemas do ovário – que vão desde problemas menos complexos até câncer no ovário e no mesolistoma. A empresa nega as acusações sobre o produto, mas parou vendê-lo nos Estados Unidos em 2023. Nesta quarta-feira (1º), anunciou que pretende desembolsar US$ 6,5 bilhões (R$ 33 bilhões, na cotação atual), para encerrar as disputas judiciais envolvendo seu nome.
"Esse plano é o fim da nossa estratégia de acordo consensual anunciada em outubro", disse Erik Haas, vice-presidente de assuntos jurídicos da Johnson & Johnson, em um comunicado divulgado pela empresa.
Praticamente todas as reclamações (99,75%) têm relação com problemas no ovário, dentre eles câncer no órgão. O restante tem a ver com o mesotelioma ("câncer do amianto", que atinge mesotélio, tecido que reveste a parede torácica e o abdômen). Segundo a empresa, 95% desses casos já foram resolvidos com os reclamantes.
Haas chama as ações judiciais contra a empresa de "sem fundamento". O SBT News entrou em contato com a Johnson & Johnson no Brasil para obter o posicionamento da empresa no mercado nacional. O espaço segue aberto à manifestação.
O amianto pode causar câncer?
A substância, usada em vários tipos de indústria – como a bélica, aeroespacial, do petróleo, de papel, naval e de fundição –, pode causar câncer no mesotelioma, ovário, pulmão e na laringe, segundo documento do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
De acordo com o Instituto, os cânceres causados pelo amianto podem levar de 10 a 50 anos para apresentar os primeiros sintomas após a exposição. Todas as formas de amianto são consideradas cancerígenas: grupo dos serpentinos, representado pela crisotila (branco); o grupo dos anfibólios, representado pelos minerais actinolita, amosita (marrom), antofilita, crocidolita (azul) e tremolita.
Apenas respirar o ar contendo suas fibras pode causar câncer e outras doenças, segundo o órgão.
Em 1995, o Brasil restringiu alguns tipos e usos da substância. Apesar disso, o país era o segundo maior produtor e terceiro maior consumidor do minério em 2015, segundo Inca. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional um artigo da lei que permitia o uso controlado do material e proibiu a extração, a industrialização, a comercialização e a distribuição do amianto crisotila no país. Em 2023, os ministros rejeitaram embargos questionando a decisão de 2017, mantendo a decisão.