SUS Digital anuncia serviço de "telemalária" no XI Congresso Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde
Durante o evento, palestrantes fizeram um alerta sobre a situação do povo yanomami
Helena Fenandes
Durante uma palestra, na manhã deste sábado (13), no XI Congresso Brasileiro de Telessaúde e Telemedicina, o diretor de Saúde Digital e Inovação do Ministério da Saúde, Cleinaldo De Almeida Costa, mostrou indignação com a situação de saúde do povo yanomami e relatou problemas de saúde muito graves entre crianças e mães indígenas. Segundo ele, três em quatro crianças com até sete anos morrem nas comunidades. No ano passado, foram 360 mortes. Ou seja, praticamente uma criança morreu por dia.
+Vacina contra dengue entra no calendário do SUS
As principais causas da morte são a desnutrição, malária, diarreia e infecção das vias aéreas. Já entre as gestantes, estão a gravidez de alto risco, anemia, intoxicação por mercúrio e as infecções sexualmente transmissíveis.
+SUS incorpora teste de HPV para detecção da doença em mulheres
Para enfrentar a desnutrição, fardos de comida, incluindo mantimentos como arroz, farinha e frango congelado, são jogados por aviões do Exército. Medida que, segundo o professor Cleinaldo Costa, não é suficiente para combater a desnutrição. “É uma tragédia que não mata pessoas brancas. Por isso, não dá ibope”, disse ele.
O professor ainda afirmou que os indígenas sofrem de malária crônica, que causa muito cansaço e os impede de trabalhar. Segundo ele, as pessoas não conseguem pescar porque o rio está contaminado por mercúrio. Para reduzir as mortes nos casos da malária, o SUS incorporou o medicamento tafenoquina. Com apenas uma dose, o remédio cura o paciente, sem necessidade de internação, se a doença estiver no início.
Ainda durante o evento, foi anunciado o serviço de telemalaria a essas comunidades, em parceria com a FioCruz e as universidades estadual e federal de Manaus. O serviço vai ajudar a combater uma das principais causas de morte entre os indígenas. Os pacientes serão atendidos remotamente por profissionais dos 24 núcleos de telessaúde do ministério da Saúde.
Para permitir o avanço dos teleatendimentos, o governo está instalando antenas na Amazônia.
Atualmente, a telessaúde chega a três milhões e meio de pessoas da região. Já o número de indígenas atendidos pelo programa SUS digital chega a 185 mil .
O povo Caiapó, no Mato Grosso, será o próximo a receber uma missão do Ministério da saúde para instalação de antenas e treinamento de agentes de saúde. Também acontecerá uma segunda missão nos territórios indígenas de Roraima, que vai focar em combater a mortalidade materno-infantil.
Na primeira missão da equipe de Telessaúde em território yanomami no ano passado, foram atendidos 1200 indígenas em duas comunidades. Os telediagnósticos permitiram que os profissionais de saúde local fossem orientados sobre o melhor tratamento ou mesmo o deslocamento do paciente para um hospital.
SUS Digital
Em 2023, foram realizadas 1,5 milhão de teleconsultorias e 1,2 milhão de telediagnósticos pelos 24 núcleos de telessaúde espalhados por todo o país. Os telediagnósticos ocorrem em parceira do SUS com Universidades Federais de medicina, que realizam laudos de exames como eletroencefalogramas, espirometrias, retinografias (exames de fundo de olho) e até análise de lesões dermatológicas.
A previsão do Ministério da Saúde é chegar a 56 núcleos de telessaúde até 2026.
Durante o Congresso, a Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, a professora Ana Estela Haddad, anunciou que 460 milhões de reais serão distribuídos para ampliação do programa SUS Digital.
Ana Estela também apresentou um levantamento, feito em parceria com vários órgãos, entre eles o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, mostrando as cidades com mais dificuldade em aderir ao SUS Digital. Os municípios são aqueles com maior vulnerabilidade, que apresentam sinal ruim de internet ou pouca cobertura.
O principal foco dos palestrantes do congresso foi o de apresentar soluções para levar atendimento especializado a esses locais mais remotos do país. Não apenas consultas, mas cirurgias à distância, consultorias e orientações e uma variedade de exames como ultrassons guiados pelo celular, eletrocardiogramas e telediagnósticos dermatológicos.
Foram demonstrados serviços que já estão sendo utilizados pelo sistema SUS. Em parceria com a Universidade Federal, o SUS Digital oferece exames de fundo de olho utilizando o aparelho de retinografia portátil, que proporciona diagnósticos de glaucoma e degeneração macular.
Segundo o presidente do Congresso, o médico oftalmologista e professor da UFG, Alexandre Taleb, o uso da telemedicina permite agilidade, tratamento especializado em locais onde não há profissionais, com um custo menor e ainda sustentável, já que evita deslocamentos, poluindo menos o ar.
“Quando ninguém acreditava em Telemedicina, nós investimos na formação e aplicação dos recursos para ajudar pacientes nas regiões mais distantes do estado”, ressaltou doutor Taleb.
O Congresso, que vai até este domingo, também traz uma mostra imersiva gratuita, aberta ao público, sobre a tragédia com o Césio 137, o maior acidente radioativo do país. Na exposição, promovida pela Secretaria de Saúde de Goiânia, o público assiste a vídeos sobre o desastre e pode ver o macacão usado pelos técnicos que enfrentaram a tragédia em Goiânia em setembro de 1987.