Saiba por que a bebida alcoólica prejudica mais a saúde das mulheres do que a dos homens
Comportamento de risco entre sexo feminino praticamente dobrou em 17 anos, mas percepção ainda é baixa

Brazil Health
O consumo de bebidas alcoólicas entre mulheres tem crescido de forma significativa nas últimas décadas, especialmente entre aquelas na faixa dos 30 aos 40 anos. Dados nacionais apontam que o percentual de mulheres com comportamento de risco relacionado ao álcool praticamente dobrou, passando de 7,7% em 2006 para 15,2% em 2023.
+ Álcool e câncer? Bebidas alcoólicas têm relação com pelo menos seis tipos da doença, diz relatório
A pandemia de COVID-19 intensificou esse cenário, com o aumento do estresse, do isolamento e da sobrecarga emocional, principalmente entre mulheres que acumulam as demandas profissionais e domésticas.
+ Beber para se encaixar? Saiba por que mais pessoas estão dizendo "não" ao álcool
Ansiedade, insônia, pressão social e a busca por relaxamento ao fim do dia são algumas das razões que explicam a maior frequência no consumo. No entanto, os efeitos do álcool no organismo feminino tendem a ser mais intensos e perigosos do que no masculino.
Por que o álcool afeta mais as mulheres?
As mulheres metabolizam o álcool de forma diferente. Entre os principais fatores que explicam essa diferença estão:
- Maior proporção de gordura corporal e menor proporção de água, o que eleva a concentração de álcool no sangue;
- Níveis mais baixos da enzima álcool desidrogenase, responsável por metabolizar o etanol;
- Alterações hormonais ao longo do ciclo menstrual, que afetam a absorção e os efeitos do álcool.
Essas diferenças fazem com que a mesma quantidade de bebida gere maior impacto e efeitos mais duradouros nas mulheres, aumentando significativamente os riscos mesmo em casos de consumo moderado.
Do câncer de mama à saúde mental
Entre os riscos mais relevantes está a elevação na incidência de câncer de mama. Segundo a Organização Mundial da Saúde, não há um nível seguro de consumo de álcool para prevenção da doença. Estudos indicam que até mesmo uma taça diária de vinho pode aumentar o risco em até 15%. Na Europa, estima-se que 30% dos casos de câncer de mama relacionados ao álcool estejam ligados ao consumo leve a moderado.
Além disso, o álcool pode comprometer o fígado, provocar doenças hepáticas, agravar quadros de ansiedade e depressão, aumentar o risco cardiovascular e afetar negativamente o metabolismo. Em gestantes, o consumo pode causar a síndrome alcoólica fetal, com impactos irreversíveis ao feto.
Percepção baixa e estratégias de prevenção
Apesar dos dados, muitas mulheres ainda subestimam os riscos. Uma pesquisa recente mostrou que apenas 21% delas sabem da ligação entre álcool e câncer de mama. A informação, portanto, precisa ser reforçada em campanhas públicas e dentro dos consultórios médicos.
Entre as estratégias para reduzir o consumo estão a substituição por bebidas não alcoólicas atrativas, como mocktails ou chás aromáticos, além do apoio de terapias cognitivas e grupos como os Alcoólicos Anônimos. O suporte profissional é essencial para promover a conscientização e oferecer caminhos de mudança viáveis e respeitosos com a realidade de cada mulher.
*Filippo Pedrinola é Head Nacional de Endocrinologia e Metabologia da Brazil Health credenciado pelo CRM 62253-SP I RQE 26961