Beber para se encaixar? Saiba por que mais pessoas estão dizendo "não" ao álcool
Movimentos em prol da sobriedade vêm crescendo nas redes sociais e unem pessoas que desejam experimentar essa mudança; entenda
Brazil Health
Em décadas passadas, consumir álcool era visto como algo indispensável para se destacar socialmente, uma espécie de símbolo de status ou de "ser descolado". Hoje, porém, os jovens se sentem cada vez mais confortáveis em recusar uma bebida alcoólica, abraçando uma postura autêntica e preocupando-se mais com a saúde e o bem-estar.
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Festas regadas a bebidas alcoólicas são, muitas vezes, trocadas por eventos sociais ligados ao esporte, com bebidas funcionais e coquetéis sem álcool. Essas mudanças refletem uma geração mais consciente, que questiona padrões de comportamento e busca de escolhas alinhadas ao bem-estar físico, emocional e social, indicando transformações importantes na relação da sociedade com o consumo de álcool.
Por que o álcool vem saindo de cena?
Estamos em uma época em que a saúde mental é cada vez mais discutida. Problemas como ansiedade, distúrbios do sono, depressão e suicídio são pautas sempre presentes. Por isso, hábitos que podem agravar esses quadros são questionados, e o álcool é um deles. Algumas pessoas relatam que, ao deixarem de beber, sentiram a mente mais clara e as emoções mais estáveis. Outras perceberam que justificavam o consumo de álcool como uma forma de diversão, mas, na verdade, utilizavam a bebida como fuga para problemas, o que frequentemente levava à dependência.
Redes sociais
Não podemos deixar de mencionar um elemento profundamente integrado às nossas vidas: as redes sociais. Embora frequentemente discutamos os malefícios associados ao seu uso excessivo e ao impacto da influência desenfreada de criadores de conteúdo, elas também têm mostrado um lado positivo. Muitos influenciadores estão usando suas plataformas para compartilhar como abraçaram a sobriedade e como isso tem transformado suas vidas. Eles provam que é totalmente possível ser feliz, leve e até mais produtivo sem precisar recorrer ao álcool.
Movimentos como o #DryJanuary e o #SoberCurious têm crescido justamente por unir pessoas que desejam experimentar essa mudança, criando uma rede de apoio e inspiração mútua.
Outra vertente são os influenciadores de movimentos de bem-estar e atividade física, como, por exemplo, Márcio Atalla e Gustavo Borges, que promovem práticas naturalmente opostas ao consumo de álcool.
O que são os movimentos?
O Dry January (Janeiro Seco) é um movimento que começou no Reino Unido em 2013, promovido pela organização Alcohol Change UK. A ideia é simples: passar o mês de janeiro sem consumir álcool. Surgiu como um convite para as pessoas repensarem seus hábitos de consumo após as festas de fim de ano, quando o uso de álcool costuma ser mais intenso.
Embora seja um desafio de 31 dias, o movimento incentiva reflexões que podem levar a mudanças duradouras. Muitas pessoas relatam que, ao completarem o mês, sentem melhorias na saúde física e mental, como mais disposição, economia financeira e maior controle sobre a relação com o álcool. Além disso, o Dry January é apoiado por estudos que mostram os benefícios de períodos de abstinência, como a melhora na função hepática e na qualidade do sono.
Já o termo Sober Curious (curioso pela sobriedade, numa tradução literal) foi popularizado pela escritora Ruby Warrington em seu livro de 2018, que leva o mesmo nome. Esse movimento não propõe necessariamente a abstinência total, mas um convite para questionar o porquê consumimos álcool. Ele incentiva as pessoas a refletirem sobre perguntas como:
● “Eu realmente quero beber ou estou fazendo isso por hábito?”
● “Como me sinto quando não consumo álcool em eventos sociais?”
● “Qual o impacto do álcool na minha saúde física e mental?”
Ser sober curious é uma abordagem menos rígida, mas ainda assim poderosa, para explorar alternativas e construir uma relação mais consciente com o álcool. Em vez de seguir uma regra imposta, o movimento celebra escolhas informadas e alinhadas aos valores e objetivos de cada pessoa.
Ambos os movimentos são sobre liberdade de escolha, promovendo um olhar mais atento para como vivemos e nos relacionamos – seja com o álcool, seja com a sociedade como um todo.
E no Brasil?
O movimento de sobriedade ainda está ganhando espaço entre os brasileiros, mas existem iniciativas que dialogam com essa ideia, mesmo que não sejam tão organizadas como o #DryJanuary ou amplas como #SoberCurious.
Como começar a mudança?
Se você se identifica com esse movimento de sobriedade, aqui estão algumas dicas para iniciar essa transformação. Sabemos que todo hábito que mantemos está diretamente ligado a conexões sinápticas formadas no cérebro ao longo do tempo. Essas conexões entre os neurônios se fortalecem com a repetição, tornando o comportamento automático. Para mudar um hábito, como o consumo de álcool, é necessário criar novas conexões neurais, substituindo o padrão antigo por um novo.
O primeiro passo é a autorreflexão: entender o motivo por trás dessa decisão. Perguntar a si mesmo “Por que quero parar de beber?” ou “Como essa mudança pode impactar positivamente minha vida?”. Esse questionamento ajuda a trazer clareza sobre os objetivos e a importância da transformação, facilitando o processo de reestruturação dos hábitos.
*Juliana Orrico é psicóloga, CRP SP 06/133394