Porto Alegre lidera taxa de mortalidade por AIDS no Brasil
Capital gaúcha registra índice três vezes superior à média nacional, enquanto especialistas apontam falhas no acesso à prevenção e ao diagnóstico precoce
SBT Brasil
Porto Alegre é a capital brasileira com a maior taxa de mortalidade por AIDS no país. O índice supera em quase três vezes a média nacional e reforça o alerta para um cenário de epidemia do vírus HIV. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a capital gaúcha registra 12 mortes por AIDS a cada 100 mil habitantes. No restante do Brasil, a média é significativamente menor: cerca de três óbitos para o mesmo contingente populacional.
Para Carla Almeida, presidente do Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS do Rio Grande do Sul, que atua há mais de 30 anos no enfrentamento ao HIV no estado, os números já caracterizam um quadro epidêmico. Segundo ela, barreiras estruturais dificultam o acesso aos serviços de saúde, especialmente entre populações em situação de maior vulnerabilidade social.
“A gente ainda tem uma série de barreiras para o acesso ao serviço de saúde, principalmente quando falamos de populações mais vulnerabilizadas. Muitas vezes, esse cuidado disputa espaço com as necessidades básicas de sobrevivência”, afirma.
Outras capitais, como Curitiba, Goiânia, Palmas, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília apresentam taxas de mortalidade por AIDS abaixo da média nacional. No topo do ranking, além de Porto Alegre, está Belém, com 10,9 mortes por 100 mil habitantes.
O HIV é o vírus que ataca o sistema de defesa do organismo, enquanto a AIDS é a doença que se manifesta quando não há tratamento adequado. No Brasil, o tratamento é gratuito e disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a médica Denise Loureiro Pedroso, pessoas que tiveram exposição de risco sem o uso de preservativo podem recorrer à profilaxia pós-exposição (PEP). “Esse tratamento precisa ser iniciado em até 72 horas após a exposição e tem duração de 28 dias”, explica.
A Secretaria de Saúde de Porto Alegre destaca que, historicamente, a capital gaúcha apresenta alta circulação do vírus. No passado, o cenário foi agravado por diagnósticos tardios, vulnerabilidade social e medo do estigma. Atualmente, apesar do aumento na testagem, a cidade ainda convive com uma epidemia considerada antiga.
Em 2025, o Brasil avançou no enfrentamento ao HIV ao eliminar a transmissão vertical — quando o vírus é passado da mãe para o bebê durante a gestação. Agora, o desafio está em ampliar a prevenção entre relações heterossexuais.
A médica infectologista Marineide Gonçalves Melo alerta para a necessidade de expandir o acesso à PrEP (profilaxia pré-exposição) em Porto Alegre. “Hoje a prevenção está muito focada em homens que fazem sexo com homens e na população trans. Mas, em Porto Alegre, a população heterossexual também precisa de PrEP. É fundamental que a autoridade sanitária informe que essa medicação preventiva está disponível”, ressalta.









