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Saúde

Poluição do ar pode ter causado mortes de crianças em três bairros do Rio, diz estudo

Pesquisa avaliou os níveis de material particulado fino (MP2,5), poluente que causa ou agrava doenças respiratórias e cardiovasculares; saiba mais

Imagem da noticia Poluição do ar pode ter causado mortes de crianças em três bairros do Rio, diz estudo
Polo industrial em Santa Cruz, um dos bairros analisados | Divulgação/AEDIN
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A poluição do ar pode ter sido responsável por até 8,5% das mortes de crianças de até 5 anos em três bairros da zona oeste do Rio de Janeiro. Essa é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Veiga de Almeida (UVA), publicado em julho no periódico científico Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology.

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A pesquisa avaliou os níveis de material particulado fino (MP2,5), poluente que agrava doenças respiratórias e cardiovasculares, em Bangu, Paciência e Santa Cruz, três regiões densamente povoadas e conhecidas por registrarem os piores índices de qualidade do ar na cidade.

Fatores como queimadas, emissões veiculares e industriais, além de características da topografia local, agravam a concentração de poluentes nessas áreas.

Por que material é perigoso?

O MP2,5 refere-se a partículas extremamente pequenas em suspensão no ar, com diâmetro de até 2,5 micrômetros – cerca de 50 vezes mais finas que um fio de cabelo. Por serem tão pequenas, essas partículas conseguem penetrar profundamente nos pulmões e atingir a corrente sanguínea, causando ou agravando doenças como asma, bronquite, enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares e até câncer.

"Crianças são mais vulneráveis porque seus sistemas respiratório e circulatório ainda estão em desenvolvimento, o que as torna mais suscetíveis aos danos causados por essas partículas. A população idosa também é um grupo de risco, devido ao enfraquecimento natural do sistema imunológico", explica Cleyton Martins, professor e pesquisador de Ciências do Meio Ambiente da UVA e um dos autores do estudo.

Como o estudo foi feito?

O levantamento foi realizado entre abril e novembro de 2023, período de estiagem no Rio de Janeiro e, consequentemente, de pior qualidade do ar. Em mais de 50% dos dias analisados, as concentrações de MP2,5 ultrapassaram os 15 µg/m³ (microgramas por metro cúbico), limite máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para preservar a saúde humana.

Cruzando esses dados com informações de mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Prefeitura do Rio de Janeiro, os pesquisadores observaram uma taxa de mortalidade infantil de 14,9 por mil nascidos vivos entre crianças de 1 a 5 anos nos bairros estudados. Do total de mortes, 28,2% foram atribuídas a doenças respiratórias e 5,3% a doenças cardiovasculares.

Para calcular a fração de óbitos diretamente relacionada à poluição por material particulado fino, a equipe utilizou o AIRQ+, software da OMS que estima o impacto de poluentes na saúde da população. O resultado apontou que 8,5% das mortes infantis no período podem ter sido causadas pela exposição a altos níveis de MP2,5.

Falta de monitoramento é um desafio nacional

Além de evidenciar os impactos diretos da poluição na saúde infantil, o estudo também destaca a urgência de políticas públicas mais rigorosas para o controle da qualidade do ar. Segundo Cleyton Martins, o monitoramento do ar no Brasil ainda é insuficiente.

"Não posso avaliar a real qualidade do ar se não monitoro todos os poluentes relevantes. Essa realidade é crítica não só no Rio de Janeiro, mas em grande parte do país. Muitos estados não possuem estações de monitoramento ou operam com infraestrutura limitada", alerta o pesquisador.

Martins, no entanto, vê como um avanço a ampliação das redes de monitoramento anunciada recentemente pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que incluirá a medição de MP2,5 em todas as estações de controle.

"A partir disso, será possível traçar um diagnóstico mais fiel da situação, planejar fiscalizações e implementar ações de controle mais efetivas", conclui.
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