Parece, mas não é: 7 hábitos que não são tão saudáveis quanto você pensa
Rotina de treinos, alimentação regrada, cuidar da pele e dormir bem são pilares fundamentais para a saúde, mas dependem de equilíbrio; entenda

Wagner Lauria Jr.
A busca por um estilo de vida saudável vem ganhando cada vez mais popularidade. Por isso, não faltam conselhos, dietas e exercícios tidos como benéficos.
Manter uma rotina de treinos, alimentar-se de forma equilibrada, hidratar-se, evitar a exposição excessiva ao sol, cuidar da pele e dormir bem, de fato, são pilares fundamentais para a saúde. No entanto, quando esses cuidados são levados ao extremo, podem gerar o efeito contrário: prejuízos físicos e mentais. Especialistas ouvidos pela reportagem do SBT News explicam onde está o limite entre o autocuidado e o excesso.
A seguir, confira alguns hábitos que parecem saudáveis, mas merecem sua atenção:
Beber água em excesso
Hidratação é essencial, mas o exagero também pode ser prejudicial. O consumo excessivo de água dilui o sódio no sangue e pode causar náuseas, confusão mental, convulsões e até coma em casos mais extremos. É o que aponta Bruna Manes, médica especializada em nutrologia e endocrinologia.
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Segundo ela, existe um cálculo que podemos fazer para nos dar a quantidade ideal de água.
Cálculo: Peso (kg) multiplicado por 35ml = quantidade de água por dia (em ml)
"Um mínimo necessário para que nosso organismo funcione bem e para prevenir, por exemplo, infecções urinárias de repetição, cálculos renais, seria a pessoa beber 2l de água por dia.", ressalta.

Consumir produtos “zero açúcar” ou “light”
A obsessão por alimentos "zero" ou "light" também pode gerar desequilíbrios. Para a médica Marília Gramiscelli, pós-graduada em nutrologia e endocrinologia, é essencial avaliar cada caso com cautela.
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Segundo ela, rótulos como "zero" ou "light" podem soar como escolhas mais saudáveis, mas muitas vezes contêm adoçantes artificiais, excesso de sódio ou outros aditivos que não contribuem com uma alimentação equilibrada.
“Produtos zero são ideais para quem tem restrição de açúcar, como diabéticos, mas muitas vezes contêm aditivos que não são saudáveis. Já os light reduzem em média 25% de algum nutriente, como gordura ou carboidrato. Tendem a ser mais saudáveis, mas é fundamental avaliar o rótulo”, explica.

Dietas da moda ou restrições alimentares extremas
Dietas com cortes radicais de carboidratos ou outros grupos alimentares, apesar de populares, podem causar problemas a médio e longo prazo, aponta Marília.
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“A longo prazo, eliminar completamente os carboidratos pode causar queda de energia. Mas o problema hoje é o excesso. Restrição calórica não causa dano, desde que haja equilíbrio entre micro e macronutrientes”, reforça.
Macronutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio;
Micronutrientes: ferro, manganês e zinco.
Para a especialista, a melhor dieta é aquela que pode ser mantida a longo prazo e é rica em proteína, com baixa gordura e carboidratos complexos ajustados de acordo com o peso e objetivo de cada um.
Dormir mais de 9 horas por noite
Dormir bem é fundamental, mas o excesso de sono também pode estar associado a problemas de saúde. De acordo com a Cristina Herreira, pediatra com especialização em Medicina do Sono pelo Instituto do Sono de São Paulo, a necessidade de horas de sono varia conforme a idade.
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“Chamamos isso de ontogenia do sono. Um recém-nascido pode precisar de até 18 horas por dia. Já um idoso dificilmente dorme mais do que 5 ou 6 horas por noite", explica.
No entanto, tanto em crianças quanto em adultos, dormir muito pode indicar problemas. Segundo ela, o excesso de sono, chamado hipersonia, pode ser um sinal de doenças neurológicas, psiquiátricas, distúrbios do sono ou uso de medicamentos sedativos.
De acordo com a especialista, em crianças, a má qualidade do sono pode se refletir em sonolência excessiva no dia seguinte, enquanto em adultos pode haver sonolência mesmo após muitas horas dormidas.

Exercício físico em excesso
A busca por performance ou estética pode levar algumas pessoas a treinarem mais do que o corpo suporta. Segundo o ortopedista, traumatologista e médico do esporte Lindbergh Barbosa de Souza Mendes, esse quadro é chamado de overtraining e não deve ser confundido com um simples cansaço passageiro.
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Segundo Mendes, o overtraining é o nome dado à condição em que o volume ou a intensidade dos treinos ultrapassa a capacidade de recuperação do corpo. Ele não é apenas 'cansaço acumulado', mas sim um estado de estresse crônico que afeta diversos sistemas, especialmente o neuromuscular, o imunológico e o hormonal.
O especialista reforça que treinar sem pausas adequadas pode causar desde lesões como tendinites até disfunções hormonais e baixa da imunidade.
“Na minha prática, acompanho muitos pacientes que buscavam saúde e acabaram gerando dano por falta de orientação especializada. Treinar com inteligência é mais eficaz do que treinar com obsessão", pontua.

Lavar demais o rosto ou usar produtos em excesso
Outra área em que o zelo pode se transformar em vilão é no skincare. Lavar demais o rosto ou exagerar nos produtos anti-oleosidade pode causar o efeito contrário, segundo a dermatologista Juliana Costa Valejo Vantine.
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“Quando a gente limpa demais, tiramos a proteção natural da pele, feita pelo sebo. Essa oleosidade protege contra vírus, bactérias e fungos, além de manter a hidratação. Ao perder essa barreira, a pele resseca e fica vulnerável", ressalta a especialista.
Ela explica que o hábito de lavar o rosto mais de duas vezes ao dia ou usar produtos muito adstringentes pode causar o chamado “efeito rebote”, ou seja, a pessoa sente a pele seca na hora, mas depois a oleosidade volta com mais intensidade.
A especialista recomenda lavar o rosto de manhã e à noite, com produtos específicos para cada tipo de pele, seguidos de hidratação.
Evitar completamente o sol
A preocupação com o câncer de pele é válida, mas evitar qualquer exposição solar pode levar à deficiência de vitamina D, importante para os ossos, o sistema imunológico e até a saúde mental. A recomendação dos dermatologistas é tomar sol com moderação, cerca de 15 minutos por dia, nos horários apropriados, sem protetor solar nas áreas pequenas e controladas do corpo.
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Segundo Bruna Manes, a suplementação é o melhor caminho e em quase toda a população irá se fazer necessária. É possível fazer suplementação injetável ou oral, de acordo com cada paciente e nível que encontramos no exame de sangue.
"Afinal, com o nosso ritmo agitado, e como a grande maioria das pessoas trabalha em escritórios ou consultórios fechados, a exposição solar também fica deficiente", ressalta.
