Parada cardíaca e "anomalias elétricas": entenda caso de americana que "voltou da morte"
Jade teve morte clínica provocada por uma insolação e compartilhou a história nas redes sociais

Wagner Lauria Jr.
Um episódio de saúde quase tirou a vida de uma jovem em Wisconsin, nos Estados Unidos, no verão de 2011. Jade — que opta por não divulgar seu sobrenome — sofreu uma parada cardíaca provocada por uma insolação severa. Ela chegou a ficar "clinicamente morta", quando ocorre uma parada cardiorrespiratória, por três minutos antes de ser ressuscitada pelos médicos.
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Hoje, mais de uma década depois, sua história viralizou nas redes sociais ao misturar ciência, espiritualidade e fenômenos que ela mesma admite não conseguir explicar.
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Por que Jade teve morte clínica?
Tudo começou em um dia aparentemente comum, durante uma visita à casa de uma amiga. Jade decidiu sair para o quintal para fumar um cigarro, quando passou mal. O calor intenso, junto com uma umidade elevada, levou seu corpo à exaustão. Náuseas, tontura e uma pressão crescente na cabeça foram os últimos sinais antes de perder a consciência.
Socorrida às pressas por uma ambulância, Jade foi levada a um centro médico local, onde os profissionais constataram que seu coração havia parado de bater. Sem sinais vitais por três minutos, ela foi ressuscitada com o uso de um desfibrilador.
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A causa da parada cardíaca, segundo os médicos, foi uma insolação severa — um quadro de emergência médica que ocorre quando o corpo superaquece de forma extrema, geralmente acima de 40 °C (veja como prevenir abaixo).
De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC), esse tipo de hipertermia pode causar falência de múltiplos órgãos, convulsões e morte súbita, principalmente quando não tratado de forma imediata.
Condições clínicas que favoreceram a insolação
Mas, no caso de Jade, havia um agravante importante: ela tem duas condições clínicas raras e potencialmente perigosas.
Ela sofre da síndrome de Wolff-Parkinson-White, um distúrbio congênito que provoca batimentos cardíacos anormalmente rápidos devido à presença de uma via elétrica extra no coração. Segundo a Mayo Clinic, essa condição pode, em casos graves, levar a paradas cardíacas súbitas, especialmente quando combinada com fatores externos como desidratação e calor extremo.
Além disso, Jade foi diagnosticada com a síndrome de taquicardia postural ortostática (POTS), que afeta a regulação do fluxo sanguíneo e pode causar tonturas, desmaios e palpitações. De acordo com o Ministério da Saúde, a síndrome impacta o sistema nervoso, levando a uma resposta anormal do organismo ao se manter em pé depois de ficar deitada.
Ambas são condições que, sozinhas, já aumentam o risco de arritmias e colapsos cardiovasculares.
Vida após sobreviver a uma "morte clínica"
A recuperação trouxe sequelas para a Jade. Ao contrário de muitos relatos de experiências de quase morte, ela diz não ter visto luzes, túneis ou entes queridos. Apenas escuridão.
Com o tempo, novos sintomas começaram a surgir. Ela relatou episódios de fadiga extrema, confusão mental e distúrbios sensoriais. Convulsões esporádicas também foram observadas, embora seus diagnósticos — incluindo possíveis quadros epilépticos — nunca tenham sido plenamente conclusivos.
Porém, o fenômeno que mais chama atenção até hoje é o que ela mesma descreve como "anomalias elétricas". Jade afirma que, desde o incidente, nenhum relógio funciona corretamente em seu pulso. Dispositivos eletrônicos — especialmente os que ela toca com frequência — param de funcionar, apresentam falhas ou se quebram sem motivo aparente.
"Não tenho uma explicação científica, mas sei o que acontece. Meus amigos já viram. Eu quebro telas sem nem tocar. É algo que simplesmente acontece", afirmou em um vídeo no TikTok.
Segundo artigo publicado pela Faculdade de Medicina de Nova York, as sequelas mais comuns em casos de pacientes que "voltam à vida" após uma morte clínica são lesão cerebral, distúrbios de consciência e déficits neurocognitivos (que pode causar de dificuldades de equilíbrio e epilepsia até sintomas depressivos).
O que diz a ciência: uma pessoa pode sobreviver após morte clínica?
Um estudo feito pela Universidade de Southampton, do Reino Unido, mostrou que pacientes que sobreviveram mantiveram a consciência por ao menos três minutos após sua morte clínica, tempo informado por Jade.
Mais de duas mil pessoas que sofreram paradas cardíacas em 15 hospitais no Reino Unido, Estados Unidos e Áustria foram analisadas e cerca de 16% sobreviveram: desse total, 40% descreveram algum tipo de "consciência" durante o tempo em que eles estavam clinicamente mortos, antes de seus corações voltarem a bater.
"Eu acredito que minha alma nunca deixou meu corpo porque tenho um relacionamento muito bom com o mundo espiritual", disse ela.