Exame de sangue pode detectar câncer três anos antes do diagnóstico, diz Johns Hopkins
Pesquisa analisou chamado material genético tumoral, ou seja, fragmentos de DNA liberados por células cancerígenas; entenda

Wagner Lauria Jr.
Um exame de sangue simples pode ser capaz de detectar sinais de câncer até três anos antes de qualquer sintoma surgir. É o que mostra um estudo liderado por cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, publicado nesta semana na revista científica Cancer Discovery.
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A pesquisa analisou o chamado material genético tumoral, ou seja, fragmentos de DNA liberados por células cancerígenas que circulam na corrente sanguínea. Segundo os autores, esse tipo de teste, conhecido como MCED (sigla em inglês para “Detecção Precoce de Múltiplos Cânceres”), pode identificar mutações associadas ao câncer muito antes de um diagnóstico clínico tradicional.
“Três anos antes é tempo suficiente para intervir. Nessa fase, os tumores provavelmente estão menos avançados e têm mais chance de cura”, explica o professor Yuxuan Wang, principal autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina da Johns Hopkins.
Como foi feita a descoberta?
Para investigar o potencial do exame, os cientistas usaram amostras de sangue de um grande estudo populacional chamado ARIC (sigla em inglês para Atherosclerosis Risk in Communities), voltado originalmente para doenças cardiovasculares.
Foram selecionados 52 participantes: metade deles desenvolveu câncer em até seis meses após a coleta da amostra; a outra metade não apresentou a doença. Com técnicas de sequenciamento genético altamente sensíveis, os pesquisadores analisaram o sangue em busca de alterações no DNA.
Em oito casos, os exames já indicavam presença de mutações relacionadas a câncer meses antes do diagnóstico médico. Em seis desses casos, havia amostras arquivadas de mais de três anos antes, sendo que em quatro delas as mutações já estavam presentes.
É importante ressaltar que o exame não indica a parte do corpo em que o câncer poderá acometer o paciente e indica a necessidade de exames complementares.
O que isso significa para o futuro?
A descoberta reforça o potencial dos testes MCED como uma ferramenta de rastreamento precoce. Hoje, muitos cânceres só são detectados em estágios avançados, quando os sintomas aparecem e o tratamento se torna mais difícil.
“Este estudo mostra a promessa dos testes MCED na detecção precoce de cânceres e estabelece padrões mínimos de sensibilidade para que eles sejam eficazes”, destaca o professor Bert Vogelstein, um dos líderes da pesquisa.
Além de permitir o tratamento em fases iniciais da doença, a detecção precoce também pode salvar vidas e reduzir os custos do sistema de saúde. No entanto, os autores alertam que é preciso avançar no desenvolvimento de protocolos clínicos para o que fazer quando um teste dá positivo, especialmente se o paciente ainda não apresenta sintomas.
“Precisamos entender como acompanhar cada caso após um resultado positivo, para garantir que ele leve a um diagnóstico preciso e a um tratamento adequado”, afirma o professor Nickolas Papadopoulos, coautor do estudo.
Próximos passos
O estudo foi financiado por uma série de instituições, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), fundações privadas e centros de pesquisa como o Ludwig Center da própria Johns Hopkins. Agora, a expectativa é que novas pesquisas aprofundem o uso clínico do exame e testem sua eficácia em larga escala.
De acordo com os pesquisadores, se os resultados forem confirmados em estudos maiores, o teste de sangue poderá se tornar uma das principais ferramentas para a detecção precoce do câncer, transformando a forma como a medicina lida com uma das doenças que mais matam no mundo.
*Com informações do Futurity