Estudo aponta estabilidade no uso recente de cocaína e crack no Brasil
Pesquisa revela que, apesar do aumento na experimentação, consumo recente das drogas não cresceu nos últimos 10 anos
Marco Pagetti
Leonardo Ferreira
A 3ª edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) revela que o número de pessoas que fizeram uso recente de cocaína e crack no Brasil permaneceu estável na última década. O dado é considerado um sinal positivo por especialistas.
Segundo dados do estudo, cerca de 14 milhões de brasileiros já experimentaram cocaína ou crack ao menos uma vez na vida. Um terço desse grupo fez uso recente, nos últimos 12 meses. O levantamento mostra que o problema é mais frequente entre pessoas com menos escolaridade e em situação de vulnerabilidade social.
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Com base em dados de 2023 e em comparação com a edição anterior do levantamento, feita em 2012, o estudo mostra aumento no número de pessoas que já experimentaram essas drogas ao longo da vida, mas estabilidade no consumo recente — o que é encarado como uma vitória no combate ao uso de entorpecentes.
“Ainda temos um padrão elevado de uso, mas isso não aumentou. Mesmo passando por crises sociais, crises financeiras e pandemia, esse padrão se manteve”, afirma Marta Machado, secretária nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do MJSP.
“Existe a curiosidade, existe a experimentação, mas uma proporção vai só experimentar de fato. Embora aqueles usuários mais contínuos tenham uma chance enorme de desenvolver dependência, tem muita experimentação que não segue adiante”, explica Clarice Sandi Madruga, coordenadora do LENAD III.
Entre adolescentes, o consumo de cocaína e crack é mais baixo. No entanto, a preocupação está na percepção de facilidade para obter essas drogas: mais de um terço dos jovens afirma que não há dificuldades para conseguir entorpecentes.
Mesmo com os indicadores estáveis, o Brasil continua entre os países com maior consumo de cocaína e crack do mundo, ocupando a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos.
A empreendedora social Eliana Toscan experimentou cocaína pela primeira vez, há 30 anos, durante uma festa.
“Eu falei: ‘não, é só uma diversão, é um uso esportivo’. E, na verdade, a droga acaba te usando”, lembra . “Quando eu vi, estava perdendo meu trabalho. O delegado me chamou e falou ‘não dá pra manter você desse jeito, você tá muito louca’. E eu respondi: ‘tô mesmo! Qual o problema?’. Você fica peitudo, porque a droga acaba com o seu caráter”, explica.
Após viver nas ruas e perder tudo, Eliana conseguiu se recuperar e hoje faz um alerta sobre os perigos do primeiro contato com as drogas.
“Eu adoro essa frase: ‘erradas são aquelas que partem quando não querem e desejam retornar quando não podem’. E o vício sintetiza muito isso”, diz. “Tem uma hora que eu vejo que vou cavando um buraco comigo mesma. Alguém me ajuda, será que alguém ouvirá o meu pedido de socorro?”