Dor no peito em jovens: quando se preocupar?
Embora a dor no peito seja sempre motivo de apreensão, é fundamental compreender suas causas, especialmente em pessoas jovens; entenda

Brazil Health
Em uma era de informações instantâneas e, muitas vezes, alarmistas, é natural que qualquer desconforto torácico seja imediatamente associado a problemas cardíacos graves.
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No entanto, é importante esclarecer que, embora a dor no peito seja um sintoma que nunca deve ser ignorado e que sempre merece avaliação profissional, na grande maioria dos casos em jovens, suas causas são benignas e não estão relacionadas ao coração.
Desmistificando a dor no peito em jovens
Nosso objetivo aqui é desmistificar esse sintoma tão comum, oferecer clareza e, acima de tudo, tranquilidade. Vamos explorar as principais causas de dor no peito em jovens que não envolvem o coração, como ansiedade e refluxo, além de aprender a identificar os sinais que realmente exigem investigação imediata.
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Quando a dor torácica em jovens pode ser de origem cardíaca?
A dor no peito é um sintoma complexo e, quando relacionada ao coração, exige atenção redobrada. Embora a incidência de doenças cardíacas graves seja consideravelmente menor em jovens do que em adultos mais velhos, é imprudente supor que o risco seja inexistente.
Condições como cardiomiopatias hipertróficas ou dilatadas, que envolvem doenças do músculo cardíaco; anomalias congênitas das artérias coronárias; miocardites, frequentemente causadas por infecções virais; e pericardites, inflamações da membrana que envolve o coração, podem manifestar-se com dor torácica em pacientes mais jovens. Esses casos, embora pouco frequentes, são sérios e exigem diagnóstico e tratamento precisos.
A dor de origem cardíaca, conhecida como angina, apresenta características muito específicas que a distinguem dos demais tipos de dor no peito. Tipicamente, ela é descrita como uma sensação de aperto, peso, opressão ou queimação profunda no centro do peito, atrás do esterno. Raramente é pontual ou uma fisgada; normalmente, é difusa e pode irradiar para áreas como o braço esquerdo, pescoço, mandíbula, costas ou parte superior do abdômen.
Uma característica marcante é que tende a ser desencadeada ou agravada pelo esforço físico, como subir escadas rapidamente, carregar peso ou praticar esportes intensos, melhorando com o repouso. O estresse emocional intenso também pode ser um gatilho. Além da dor, sintomas associados como falta de ar, sudorese fria, náuseas, tontura, sensação iminente de desmaio e palidez podem indicar gravidade.
É importante considerar fatores de risco, mesmo em jovens. Histórico familiar de doença cardíaca precoce ou morte súbita em parentes de primeiro grau, colesterol alto, hipertensão, diabete, tabagismo ou uso de substâncias ilícitas, como cocaína ou anfetaminas, elevam a probabilidade de um evento cardíaco.
Certas síndromes genéticas raras também podem predispor problemas cardíacos precocemente. Em resumo, se a dor apresenta essas características clássicas de dor isquêmica ou se há fatores de risco significativos, a avaliação médica urgente é indispensável para confirmar ou descartar uma condição cardíaca e iniciar o tratamento adequado.
Ansiedade, crises de pânico e papel do sistema digestivo
Sim, é uma realidade clínica que ansiedade e crises de pânico são as causas mais comuns de dor no peito em jovens que buscam atendimento médico. A conexão entre mente e corpo é poderosa, e o estresse emocional pode ter manifestações físicas surpreendentes.
O mecanismo por trás dessa dor envolve a ativação do sistema nervoso simpático, resposta de "luta ou fuga" que nos prepara para o perigo, levando à liberação de hormônios do estresse como a adrenalina, que podem gerar taquicardia, hiperventilação e tensão muscular, especialmente no tórax e diafragma. Esses fatores podem produzir dor torácica frequentemente confundida com um ataque cardíaco.
As características da dor induzida por ansiedade ou pânico são variadas, o que torna a diferenciação um desafio. Pode ser descrita como pontadas, aperto, dormência, queimação ou fisgadas intermitentes, muitas vezes localizada e apontada com um dedo. Duração e intensidade também variam; pode ser breve ou persistente.
Os fatores desencadeantes geralmente estão ligados ao estresse, ataques de pânico completos ou períodos de estresse crônico, mas, curiosamente, podem surgir sem gatilho óbvio. O alívio não ocorre com repouso físico, mas sim com técnicas de relaxamento e exercícios de respiração. Sintomas como sensação de sufocamento, palpitações, tontura, tremores, sudorese, formigamento nas extremidades e medo intenso podem acompanhar o quadro.
Vale ressaltar que, ao contrário da dor cardíaca, a dor por ansiedade não piora com esforço físico, embora a sensação de esforço possa intensificá-la. Frequentemente é inconsistente em localização e característica, mudando entre episódios.
Outra causa comum é o refluxo gastroesofágico (DRGE). Nessa condição, o ácido do estômago retorna ao esôfago, irritando-o e provocando dor semelhante à angina. A dor normalmente é descrita como queimação, conhecida como azia, frequentemente iniciando-se na região inferior do esterno e podendo subir até a garganta. Podem ocorrer sensação de "bola" ou nó na garganta, gosto amargo na boca, especialmente após refeições ou ao deitar.
Diferente da dor cardíaca, é desencadeada por certos alimentos ou pelo ato de deitar-se logo após comer, e costuma melhorar com antiácidos, mudança de posição ou arrotos. Outros sintomas digestivos, como regurgitação, dificuldade ao engolir, tosse crônica e rouquidão, ajudam a diferenciar o quadro. Menos frequentemente, outras condições digestivas como espasmos esofágicos, úlceras ou problemas na vesícula e pâncreas podem causar dor torácica.
Outras causas e sinais de alerta
Além de ansiedade, refluxo e doenças cardíacas, é importante considerar causas musculoesqueléticas e pulmonares. Dores musculoesqueléticas, resultantes de traumas, esforços físicos ou inflamações nas cartilagens (costocondrite), normalmente pioram ao toque, durante certos movimentos ou ao tossir e respirar profundamente, sendo bem localizadas e reproduzíveis ao exame físico.
Condições pulmonares como bronquite, pneumonia, inflamações da pleura (pleurite) ou exacerbações de asma também podem causar dor torácica, geralmente acompanhadas de tosse, febre, dificuldade respiratória ou chiado no peito. Um pneumotórax espontâneo, embora raro em jovens, pode provocar dor súbita e intensa, acompanhada de falta de ar.
Alterações na coluna torácica, lesões nos ombros ou infecção por Herpes Zoster (cobreiro) podem irradiar dor para o peito. Cada uma dessas causas apresenta sinais e sintomas próprios, e sua distinção requer avaliação médica cuidadosa.
A mensagem central para quem sente dor no peito, especialmente jovens, é: nunca se autodiagnostique nem ignore o sintoma. Mesmo que a maioria dos casos seja benigna em jovens, alguns sinais exigem procura imediata ao pronto-socorro. Dor súbita, intensa, em forma de aperto ou pressão, irradiando para braço, mandíbula, pescoço ou costas, acompanhada de falta de ar, sudorese fria, tontura ou náuseas são sinais de alerta.
Históricos familiares de doença cardíaca precoce, fatores de risco conhecidos (hipertensão, diabetes, colesterol elevado, tabagismo), palpitações intensas e sensação de "pular" ou "disparar" do coração também justificam busca urgente de atendimento.
Resumo
A dor no peito em jovens é um sintoma que evoca preocupação, mas que, na maioria das vezes, tem causas benignas e multifatoriais, como ansiedade e refluxo. No entanto, é fundamental investigar condições cardíacas, mesmo que raras, pois elas existem e podem ser graves.
O mais importante é buscar avaliação médica profissional e atentar-se aos sinais de alerta que exigem atendimento imediato, evitando autodiagnóstico e ansiedade desnecessária. Cuidar do coração envolve também a busca da paz de espírito.
*Rodrigo Almeida Souza é cardiologista clínico e intervencionista | CRM-PA 7926 | RQE (4130/4137)