Saúde

Compras por impulso: como parar o ciclo que esvazia o bolso e a cabeça

Entenda por que gastamos sem pensar e aprenda passos simples para retomar o controle emocional e financeiro

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Compras por impulso: como parar o ciclo que esvazia o bolso e a cabeça | Reprodução
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Quando o cérebro vai às compras por fatores emocionais, os shoppings e as plataformas digitais já estão à espera, com tudo preparado para estimular os impulsos.

Esses estímulos ampliam a atratividade das ofertas por meio de design, cores vibrantes, promoções por tempo limitado, cashback e notificações como "só restam poucos", que ativam o medo de perder algo.

A combinação de vulnerabilidade emocional e marketing direcionado tende a suprimir o pensamento racional, levando as pessoas a comprar não porque precisam, mas porque desejam o alívio emocional temporário que isso proporciona. Esse padrão se assemelha a outros comportamentos impulsivos, como comer em excesso, jogar ou simplesmente rolar pelas redes sociais, nos quais a recompensa imediata ofusca as consequências de longo prazo.

Compras impulsivas não se resumem apenas à falta de autocontrole; elas refletem o desejo humano de se sentir bem, escapar do desconforto e encontrar significado em um mundo repleto de estímulos.

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Culpa e desejo

No ato da compulsão, a satisfação desaparece rapidamente, mas a culpa e o desejo por outro alívio tornam-se mais fortes, criando um ciclo autossustentável de fuga emocional por meio do consumo.

A palavra "oniomania" vem do grego e é a junção de "oné", que significa "compra", e "mania", que significa "loucura". Portanto, a etimologia remete a uma "loucura por compras" ou a um desejo compulsivo e insaciável de comprar.

As compras por impulso geram graves repercussões pessoais, profissionais, sociais e familiares, geralmente trazendo prejuízos a si e a terceiros.

A psicanálise aborda a compulsão por compras como um sintoma complexo, geralmente relacionado às falhas no amadurecimento emocional, ao deslocamento da libido, à busca imediata por alívio da ansiedade ou da angústia e à tentativa de suprir carências emocionais.

A compulsão aparece quando, para compensar uma falta ou uma angústia não simbolizada, busca-se o prazer imediato. É mais uma descarga psíquica do que, de fato, um desejo.

"Eu mereço"

Geralmente, a pessoa fica vulnerável ao autoconvencimento da necessidade: uma compensação (não bebo, então posso comprar, por exemplo).

Um conceito freudiano é invocado para explicar o ciclo vicioso de comprar, sentir culpa, remorso ou vazio e, em seguida, sentir a necessidade de comprar novamente para aliviar o mal-estar.

Além dos fatores subjetivos e individuais, a sociedade de consumo contemporânea, que estimula o prazer imediato e associa valor monetário ao afeto e ao status, também pode agravar a propensão ao transtorno.

A neurociência complementa o trabalho psicanalítico, porque o ato da compulsão se consolida quando o cérebro aprende, via dopamina, que esse comportamento reduz o sofrimento (mesmo que de forma ilusória e passageira).

Portanto, as compulsões nascem de um conflito psíquico (a falta, o vazio, a dor emocional) e são mantidas pela recompensa neuroquímica (dopamina).

Qual o caminho?

Libertar-se do ciclo de compras impulsivas exige autoconhecimento e estratégia. O primeiro passo é reconhecer os gatilhos emocionais por trás da vontade de comprar. É insegurança? Tédio? Tristeza? Necessidade de controle? Nomear a emoção cria distância entre o sentimento e a ação, permitindo espaço para escolhas.

Técnicas práticas, como implementar uma regra de 24 horas antes de qualquer compra não essencial, podem ajudar a reativar a mente racional. Ferramentas de orçamento e diários de gastos conscientes também incentivam a responsabilidade e a reflexão, transformando o consumo em um ato deliberado em vez de uma reação emocional.

A transformação mais profunda e duradoura reside em abordar o vazio emocional que alimenta o comportamento impulsivo. Por isso, a terapia é altamente recomendada, porque, ao trazer à tona o inconsciente que funda a obsessão, pode ocorrer a ressignificação do evento causador e a eliminação da causa.

Pode-se também substituir a euforia gerada pela dopamina nas compras por impulso por fontes sustentáveis de prazer, como exercícios físicos, atividades criativas, conexões sociais ou mindfulness, que ajudam a reconfigurar o sistema de recompensa do cérebro. Com o tempo, o indivíduo aprende a buscar satisfação em experiências que nutrem, em vez de desestruturar, cultivando uma genuína sensação de bem-estar que não pode ser comprada.

Como não existe uma pílula milagrosa, para recuperar a liberdade emocional é preciso resiliência emocional e autoconsciência para criar uma vida com propósito.

Quando o consumo se torna consciente novamente, o equilíbrio entre desejo e necessidade é restaurado. Comprar deixa de ser substituto da falha emocional, voltando a ser um ato de alegria, recuperando não só as finanças, mas reiterando que o verdadeiro bem-estar que podemos atingir não está no que possuímos, e sim em como nos sentimos internamente. Em paz.

*Genaldo Vargas é psicanalista, escritor, professor e palestrante. Consultor da Gerson Lehrman Group - Nova York e da Guidepoint - Londres. Conselheiro sênior da Fabamed - Fundação da Associação Baiana de Medicina.

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