Câncer de Ana Maria Braga por HPV: vírus atinge 80% da população e pode ser prevenido
Especialista alerta que HPV pode estar associado a tumores na região do colo do útero, reto, ânus, boca, garganta e esôfago
Wagner Lauria Jr.
A apresentadora Ana Maria Braga falou ao "Fantástico", neste domingo (31), sobre seu diagnóstico de câncer na região do ânus, em 2001. No seu caso, a doença foi decorrente da contaminação pelo HPV (Papilomavírus Humano), que atinge 80% da população sexualmente ativa. Há dezenas de tipos de HPV e, alguns deles, chamados de "alto risco", podem levar a lesões cancerosas. A boa notícia é que muitas dessas lesões podem ser prevenidas com vacina, segundo especialista ouvida pelo SBT News. A apresentadora disse que nunca tinha ouvido falar da vacina contra o HPV até receber a notícia que estava doente.
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"Quando consegui descobrir o que tinha, já estava em estágio avançado, e minhas chances de sobrevivência eram mínimas. Foi muito assustador. A origem foi o HPV", contou Ana Maria, que tem 75 anos
O HPV está associado à maioria dos casos de câncer na região do colo do útero. Mas os tumores malignos no reto, ânus, boca, garganta e esôfago também podem aparecer em decorrência do vírus, segundo a ginecologista Marina Rosario. O HPV de baixo risco costuma levar ao surgimento de verrugas nos órgãos genitais. Mas os tipos de alto risco geram lesões que podem ser percebidas em nível celular, por meio de exames como o papanicolau, que coleta material do colo do útero. Desde março deste ano, além dessa técnica tradicional, está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) um teste molecular considerado inovador e mais eficaz para a detecção de HPV em mulheres.
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"As verrugas anais, na boca e esôfago são mais difíceis de visualizar", ressalta a especialista
O que o HPV faz no corpo?
O vírus realiza uma proliferação celular causadora das verrugas e também pode alterar o DNA celular, transformando uma célula normal em doente. Com isso, sua multiplicação ocorre de forma descontrolada, gerando o câncer, explica a ginecologista.
Qual é a importância da vacina?
Apesar de a vacina ter sido feita para pessoas que nunca tiveram contato com o vírus, a maior parte da população já teve e há estudos científicos que comprovam a eficácia também para esses casos, segundo a especialista. Ela ressalta que nem todos que tiveram contato com HPV desenvolvem lesões relacionadas ao vírus.
"A importância da vacina na prevenção é que ela evita o desenvolvimento dos piores subtipos do HPV. Existem quatro, que são oncogênicos, ou seja, todos relacionados a casos de câncer", explica Rosario
Ela ressalta que, com a vacina, mesmo que a mulher entre em contato com o vírus, ela não irá desenvolver o câncer.
"Eu teria tomado a vacina. Se soubesse que existia, teria evitado tudo isso", lamentou a apresentadora na entrevista
No entanto, na época em que Ana Maria Braga foi diagnosticada com câncer ainda não existia vacinação para o HPV no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O programa teve início em 2014. Segundo a especialista, o imunizante pode ser aplicado em mulheres com até 41 anos. Homens com imunossupressão (imunidade baixa), de até 45 anos, também podem receber as doses.
Vacinação de HPV será com dose única no Brasil
A ministra da Saúde, Nísia Trindade confirmou, nesta terça-feira (02), que a vacina contra o HPV - Papilomavírus Humano, será aplicada em dose única. O público alvo da campanha de vacinação é a faixa etária de 9 a 14 anos e grupos específicos, definidos pelo Programa Nacional de Imunização. A decisão atende uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Vítimas de abuso sexual e imunossuprimidos continuam com o esquema anterior, de até três doses.
A adesão à vacina de HPV no Brasil não atingiu o nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 2013 a 2020, 76% do público-alvo tomou a primeira dose e, no caso das duas doses, o número chegou a 56%, de acordo com o levantamento da Fundação do Câncer.
Quem pode se vacinar gratuitamente pelo SUS?
- Meninas e meninos de 9 a 14 anos;
- Vítima de abuso sexual de 15 a 45 anos (homens e mulheres);
- Aqueles que não foram imunizados previamente;
- Pessoas que vivem com Vírus da imunodeficiência humana (HIV);
- Transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea;
- Pacientes oncológicos na faixa etária de 9 a 45 anos.