Alcoólicos Anônimos registra aumento de 44% na presença feminina após a pandemia
Consumo abusivo de álcool entre mulheres cresce no Brasil e impulsiona procura por grupos de apoio em todo o país
SBT Brasil
Nesta semana, o Alcoólicos Anônimos (AA) completou 90 anos com um dado marcante: desde a pandemia, o número de reuniões com presença feminina cresceu mais de 44% no Brasil. Atualmente, são 65 encontros exclusivamente femininos, presenciais ou online, além de centenas de reuniões mistas realizadas semanalmente em todo o país.
Criado em 1935, nos Estados Unidos, o AA nasceu como uma rede de apoio majoritariamente masculina. Hoje, com mais de 2 milhões de membros espalhados por 180 países, a realidade é outra: o número de mulheres em busca de ajuda tem aumentado expressivamente.
Em São Paulo, um desses encontros se destaca pela escuta e acolhimento. “Sou uma alcoólica e volto às reuniões em busca da minha recuperação”, compartilha uma das participantes. As histórias são diversas, mas com traços em comum: a luta silenciosa contra o vício e o impacto do álcool no dia a dia.
Uma mulher, que frequenta o grupo há mais de 40 anos, relembra o início da recuperação aos 29 anos. “A luz que acendeu mesmo pra mim foi a primeira vez que eu disse: ‘Não vou beber mais’. E não consegui.”
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Consumo abusivo de álcool
Dados do Ministério da Saúde mostram que o consumo abusivo de álcool entre mulheres subiu de 10,5% em 2010 para 15,2% em 2023. Entre os homens, a taxa se manteve estável, passando de 27% para 27,3% no mesmo período.
“O alcoolismo ainda é estigmatizado. A sociedade incentiva o consumo, mas condena quem bebe demais — especialmente as mulheres”, explica um representante do AA. Diferenças biológicas também agravam o problema. Como têm menos água no corpo e metabolismo mais lento, os efeitos do álcool são mais intensos e surgem mais rapidamente nas mulheres.
Lívia Pires Guimarães, presidente da Junta de Serviços Gerais do AA no Brasil, destaca que muitas mulheres optam por beber dentro de casa para evitar situações de risco. “Mesmo assim, o efeito do álcool já as vulnerabiliza.”
Em uma reunião recente na zona leste de São Paulo, com oito homens e seis mulheres, o grupo discutiu os rótulos impostos à mulher alcoólica. “Ela foge do papel esperado pela sociedade, e por isso é ainda mais estigmatizada. Muitas vezes, nem consegue cuidar de si mesma, e é vista como alguém sem valor.”
Transformação pessoal
A transformação pessoal é visível em muitos relatos. Uma advogada, que frequenta o grupo há um ano e meio, conta que o maior desejo era parar de sofrer. “Hoje, tenho orgulho de ser mulher. O Alcoólicos Anônimos me devolveu a alegria de viver.”