Adolescentes com depressão têm mais chance de usar vape, apontam estudos
Pesquisas indicam que o uso de cigarros eletrônicos agrava problemas de saúde mental em jovens
Dois estudos recentes mostram que adolescentes com sintomas de depressão têm mais probabilidade de aderir ao uso de "vapes" (cigarros eletrônicos). Além disso, jovens adultos que já utilizam dispositivos com nicotina estão mais vulneráveis a desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
A estudante de Direito, de 21 anos, que não quis se identificar, usa vape desde os 18, e relata que o hábito começou de forma esporádica, mas logo se tornou uma dependência química. "Eu comecei a fumar com amigos e acabei comprando de um ex-namorado quando tinha 18 anos", conta ela. Hoje, ela utiliza o cigarro eletrônico para tentar controlar a ansiedade e a depressão.
Outro jovem, de 18 anos, também compartilhou sua experiência. Usuário frequente de vape, ele já apresenta efeitos colaterais, mas confessa que não consegue parar de fumar devido à ansiedade.
Especialistas alertam que o cigarro eletrônico, embora seja percebido como "menos nocivo", mascara os sintomas da depressão e pode piorar o quadro de saúde mental. O médico psiquiatra Dr. Gustavo Estanislau reforça a gravidade da situação: além das 480 mortes diárias associadas ao tabagismo convencional, o uso de vapes tem sido vinculado ao aumento de casos de ansiedade e depressão.
"Pessoas que estão apresentando sintomas depressivos e ansiosos, elas tem uma tendência a sentir menos prazer com as atividades de uma forma geral e, daí, cigarros eletrônicos passam a ser um dos únicos recursos que geram prazer pra eles. Isso acaba sendo uma armadilha, na qual muitos jovens caem"
Estudos mostram que a dependência da nicotina afeta diretamente o sistema nervoso, tornando mais difícil abandonar o hábito. Em estados como Acre e Rio Grande do Sul, que já lideram o ranking de mortalidade por cigarro convencional, há um aumento alarmante no uso de dispositivos eletrônicos. Mesmo com a proibição dos vapes no Brasil, o consumo cresce, especialmente entre os jovens.
Os especialistas reforçam a importância de manter a proibição do cigarro eletrônico e aumentar o suporte para quem deseja parar de fumar. No Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, já existem medicamentos disponíveis para tratamento da dependência de nicotina.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que o Brasil é o país com o maior número de diagnósticos de depressão na América Latina. O uso do cigarro eletrônico como uma forma de aliviar desconfortos emocionais, segundo os especialistas, não é uma boa solução e pode agravar os problemas de saúde mental.
Um estudo australiano revelou que adolescentes com sintomas depressivos severos têm mais que o dobro de probabilidade de experimentar cigarros eletrônicos, em comparação com aqueles que não relatam esses sintomas. Além disso, a pesquisa aponta que o uso de vapes foi 105% maior entre estudantes que relataram baixo bem-estar emocional.
Pesquisadores ingleses também descobriram que jovens adultos, de 18 a 25 anos, que usam cigarros eletrônicos com nicotina, estão significativamente mais propensos a enfrentar problemas de saúde mental do que aqueles que não usam. Entre os 300 estudantes que participaram de uma pesquisa, 49 eram usuários frequentes de vapes. Esses jovens apresentaram características como menor atenção plena, pior qualidade do sono e maior frequência de pensamentos negativos.
Especialistas seguem alertando sobre os riscos do cigarro eletrônico e recomendam que os jovens busquem alternativas mais saudáveis para lidar com a ansiedade e a depressão.