Abstinência após suspensão do X: dependência digital é igual a química? Entenda
Sintomas relacionados ao vício em drogas e em redes sociais podem ser parecidos, ressalta especialista em dependências tecnológicas
A abstinência sentida por não estar conectado ao smartphone e aplicativos digitais não é algo novo. Em 2008, surgiu a palavra nomofobia, que significa no mobile-phone-fobia, ou seja, medo de ficar sem o telefone celular, em um estudo britânico feito com mil pessoas. No levantamento, 66% delas (naquela época) se diziam ‘muito angustiadas’ com a ideia de perder o celular.
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Com a suspensão do X no Brasil, a história ganhou um novo contorno em nosso país. O país é o sexto maior mercado consumidor da rede social no mundo, com 21,5 milhões de usuários. Com a decisão da Justiça, muitas pessoas migraram para outras plataformas digitais, principalmente ao Bluesky, que ganhou um milhão de usuários em apenas três dias e o Threads, vinculado ao Meta (Facebook e Instagram). E aproveitaram para fazer desabafos em forma de publicação:
"Acordei e abri o twitter por força do hábito, tô me sentindo uma viciada em abstinência", escreveu uma usuária, em uma publicação na Bluesky.
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Já outros dois fazem associação ao uso de drogas: "Acordei e fui automaticamente no app do Twitter. Tô me sentindo um usuário de crack em abstinência sem o seu cachimbo" e o outro: "2 dias sem Twitter e parece que estamos em uma reabilitação com fortes sintomas de abstinência".
Dependência digital é igual a química?
Além da angústia, os sintomas da "falta" provocados por parar de usar a rede social podem incluir até mesmo náuseas, insônia, taquicardia, sudorese, tensão muscular e pânico, relata o psicólogo especializado em dependências tecnológicas Cristiano Nabuco, que pontua que o quadro sintomático é parecido com o da dependência química.
"Ao longo do tempo, começou a se perceber que uma série de comportamentos repetitivos, que são as dependências comportamentais, como comprar compulsivamente, vício em sexo, em jogos e a dependência tecnológica são semelhantes ao vício em substâncias", ressalta.
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Segundo o especialista, os sintomas de abstinência se parecem porque o mesmo circuito de recompensa e prazer é ativado no cérebro em todos os casos. Nesse sentido, igual ao usuário de drogas, que precisa de doses cada vez mais altas para sentir prazer com a substância, o mesmo acontece com a dependência das redes sociais.
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"Com o X, o que gente observa que o indivíduo começa a ficar muito tempo conectado e desenvolve um comportamento de checagem contínua, para ver se tem novas notícias, além do sentimento de isolamento social, já que é uma plataforma onde você encontra diversos grupos para pertencer e com interesses em comum; além disso, pode resultar em baixa autoestima do indivíduo, já que ele perde o ambiente que costumava falar dele e ser reconhecido", ressalta.
Também igual ao consumo de drogas, o vício em tecnologia muda a morfologia do cérebro, ou seja, a forma e a estrutura cerebral do sujeito, com impactos negativos na memória e atenção, segundo o especialista.
Dicas para se livrar do vício
O primeiro passo é reconhecer a dependência e ver o quanto ela está prejudicando sua vida.
"Se o uso das redes sociais está trazendo prejuízos à sua vida, o ideal é começar a fazer intervalos regulares do uso, não levar o telefone para cama na hora de dormir e outras ações para fazer uma espécie de desmame", ressalta.
Para fazer isso, segundo o especialista, a ideia é voltar a "viver a vida fora do mundo digital", como atividade física e leitura, para criar novas conexões cerebrais.
"O cérebro é semelhante a planta que está sendo malcuidada: ambos podem ser recuperados e florescerem em caso de mudanças", explica.