Tendência de bebês reborn acende alerta sobre saúde mental e eleva número de projetos sobre o tema
Parlamentares propõem leis que vão desde acolhimento a pessoas com vínculo aos bonecos até restrições ao tratamento legal dos reborns como se fossem crianças

Vicklin Moraes
A nova onda dos 'bebês reborn' vem ganhando cada vez mais visibilidade no Brasil — não apenas entre colecionadores e nas redes sociais, mas também no meio legislativo. Casos recentes envolvendo os bonecos, como atendimentos em hospitais, disputas por custódia e o uso de assentos preferenciais, acenderam um alerta.
Como resposta, parlamentares passaram a propor projetos de lei que visam tanto acolher psicologicamente pessoas que criam um vínculo com estes bonecos, como impedir que os reborns sejam tratados, legalmente, como crianças reais.
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Na Câmara Federal, dois projetos foram protocolados nesta quinta-feira (15) pelos deputados federais Rosângela Moro (União-SP) e Dr. Zacharias Calil (União-GO).
Rosângela Moro é autora do PL 2323/2025, que propõe diretrizes para o acolhimento psicossocial no Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas que desenvolvam vínculos afetivos intensos com bonecos reborn. A proposta sugere um atendimento humanizado, com escuta qualificada, para casos de sofrimento emocional decorrente dessa relação.
"A proposta não pretende, sob nenhuma hipótese, criminalizar, ridicularizar ou patologizar o uso desses objetos, tampouco restringir liberdades individuais ou manifestações legítimas de afeto. Pelo contrário: parte-se do princípio da autonomia do sujeito e da liberdade de conduta, orientando-se pela necessidade de criar mecanismos institucionais de acolhimento ético e não estigmatizante, capazes de identificar precocemente sinais de sofrimento emocional que, quando negligenciados, podem evoluir para situações de risco real", afirmou a deputada no texto.
Na outra ponta, o também deputado federal Dr. Zacharias protocolou o PL 2320/2025 que prevê multas de 5 a 20 salários mínimos para quem utilizar bebê reborn para obter benefícios destinados a crianças de colo. O texto propõe a sanção administrativa para quem utilizar a boneca em busca de atendimento preferencial, uso de assentos preferenciais, descontos e gratuidades destinadas a crianças de colo.
"A presente proposição fortalece a proteção da criança, preserva a boa-fé nas relações sociais e reforça a eficiência dos serviços públicos", afirmou o deputado no texto.
Não é só em Brasília que os projetos de lei vem sendo protocolados. Em Minas Gerais, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) apresentou, na última quarta-feira(15), o PL 3.757/2025 na Assembleia Legislativa do Estado. O texto proíbe expressamente o atendimento a bebês reborn e outros "objetos inanimados" nas unidades públicas de saúde. O descumprimento poderá resultar em multa de até dez vezes o valor do serviço prestado, a ser revertida para o tratamento de pessoas com transtornos mentais.
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A medida foi motivada por um caso recente, em que uma mulher levou um boneco para atendimento médico, alegando que a "criança" estaria com febre."Infelizmente, os devaneios da sociedade contemporânea colocam em perigo todo o povo de Minas Gerais", afirmou o parlamentar.
No Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Amorim (União-RJ) protocolou o PL 5357/2025 na Assembleia Legislativa do Estado, propondo a criação de um programa de saúde mental para pessoas que desenvolvem vínculos emocionais com bebês reborn. O projeto prevê ações de prevenção, acolhimento e orientação psicológica.