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Política

Semana de derrotas mostra nova dinâmica do Congresso e problemas de articulação do governo Lula, dizem especialistas

Votações contrárias ao Planalto confirmaram dissidências na própria base. Líder do governo responsabiliza herança bolsonarista

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Presidente Lula (ao centro) ao lado de Rodrigo Pacheco (à esquerda) e Arthur Lira (à direita), presidentes do Legislativo | Reprodução Agência Brasil/Valter Campanato
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O governo federal enfrentou nesta semana uma sequência de derrotas no Congresso Nacional. Os reveses passaram por diferentes agendas e revelaram dissidências na base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para cientistas políticos ouvidos pelo SBT News, eles demonstraram o fortalecimento da oposição no Legislativo e as falhas na articulação da gestão petista.

"Saidinha" revela dissidências

Na noite de terça-feira (28), Câmara e Senado derrubaram um veto do presidente Lula a um trecho do projeto de lei para restringir as "saidinhas" de presos.

O petista tinha assinalado pela manutenção das saídas temporárias de detentos do semiaberto para visitar a família e participar de atividades de convívio social, que agora foram novamente restritas, com autorização apenas em casos de estudo ou trabalho externo.

Em entrevista ao SBT News, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), atribuiu a derrota à herança do bolsonarismo e perfil conservador de parlamentares. Mas a rejeição ao veto presidencial, manifestada em 314 votos na Câmara e 52 no Senado, não se restringiu à oposição, contando com apoio dentro da base governista.

No próprio PT, partido de Lula, a deputada Mária do Rosário (RS), pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre, e o senador Fabiano Contarato (ES) votaram para derrubar o veto. A decisão de Lula só teve apoio integral entre os parlamentares do PSOL, PCdoB, PV e Rede -- que somam 26 cadeiras na Câmara.

Legendas que chefiam ministérios se mobilizaram majoritariamente contra a decisão presidencial na Câmara -- um comportamento que se repetiu no Senado. Veja no gráfico abaixo:

Derrotas se acumulam

Na mesma noite, a Câmara ainda foi palco da derrubada de um veto de Lula à restrição de recursos da União para ações relacionadas a aborto, transição de gênero e ocupações de terra e, em outra votação comemorada por opositores, houve a manutenção de um veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à tipificação criminal da promoção ou financiamento da divulgação de informações comprovadamente falsas. O governo pressionou por outro resultado, sem sucesso.

Deputados ainda aprovaram um projeto que alterou trechos de um decreto assinado pelo presidente Lula (PT) no início da gestão, e que endurecia a política armamentista. Entre os pontos derrubados estava a instalação de clubes de tiro a menos de 1 quilômetro de escolas.

A base do governo afirma que a mudança não foi uma derrota, e atribui a adequação à prática desportiva, mas o projeto aprovado contou com a comemoração de parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O texto agora segue para o Senado. Vale lembrar que o armamentismo civil é uma das pautas que mais distancia lulistas e bolsonaristas.

Movimento sob análise

Antes de responsabilizar o bolsonarismo pelas derrotas, Randolfe Rodrigues afirmou que Lula passaria a se reunir semanalmente com o núcleo político de sua administração -- formado pelo senador, pelos líderes do governo na Câmara e Senado, José Guimarães (PT-CE) e Jaques Wagner (PT-BA), respectivamente, e pelo ministro Alexandre Padilha, da Secretaria das Relações Institucionais, responsável pela articulação política da Presidência.

A fala de Randolfe demonstrou um esforço de reação da liderança petista aos reveses enfrentados. Para a cientista política Beatriz Rey, pesquisadora do Legislativo na Fundação Popvox e autora do livro "MyNews Explica: Congresso Brasileiro", no entanto, o governo Lula não fez "ajustes mínimos" diante de um Congresso que tem maioria no espectro político da direita. "Há um problema de articulação. O Planalto precisa de políticos que tenham bom trânsito entre parlamentares de oposição", disse ao SBT News.

Em mandatos anteriores (2003-2010), para lidar com o fato de que não tinha maioria parlamentar, Lula ocupou a Esplanada com diferentes partidos -- como hoje -- e articulou pela aprovação de projetos importantes. Mas, para Luiz Domingos Costa, professor de ciência política da escola jurídica da Uninter-PR, o "modelo de presidencialismo de coalizão, em que cargos e ministérios garantiam apoio no Congresso, acabou".

"Os parlamentares têm muito mais acesso a recursos e emendas, e estão menos propensos a entregar apoio ao Executivo. Como eles operam numa dinâmica de opinião pública que caminhou para a direita, esse apoio poderia, inclusive, ser custoso eleitoralmente", disse o professor ao SBT News.

Para Beatriz Rey, essa dinâmica ajuda a explicar a dificuldade de relação do governo Lula com o Parlamento, mas era conhecida desde antes do início do mandato -- nas eleições de 2022, vale lembrar, o PL (principal partido da oposição) liderou a eleição de deputados e senadores. "É difícil entender porque, desde então, o governo não mexeu na articulação", afirmou.

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