Reunião ministerial tem tom ameno, mas Lula dá recados sobre dengue, viagens e comunicação
Presidente vem falando reiteradamente que as boas ações do governo “não chegam” à população
O tom da primeira reunião ministerial de 2024, conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (18), foi “ameno”, mas com alguns recados diretos, segundo pessoas que estiveram presentes na reunião. Entre os pontos cobrados: combate à dengue, viagens pelo Brasil e melhora na comunicação.
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No discurso de abertura da reunião, Lula demonstrou certo incômodo com a queda da popularidade indicada pelas últimas pesquisas de opinião e voltou a dizer que os feitos do governo não chegam à população e que é necessário “traduzir” algumas medidas para melhor compreensão da população.
Ainda durante a abertura transmitida pelos canais oficiais do governo, Lula falou diretamente com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, que é papel do governo “mostrar o que foi feito nos primeiros 13 meses de governo [...] se as pessoas não falam bem, não mostram as coisas boas que a gente fez, nós devemos mostrar”.
Em entrevista coletiva após a reunião, o ministro da Secom reiterou o que Lula vem dizendo, sobre 2023 ser o ano do “plantio” e 2024 da “colheita”. Ele também afirmou que o governo terá novas estratégias na comunicação em 2024.
“O ano de 2023 foi do plantio para as outras áreas, para a comunicação também. Então teremos novidades neste ano pelas necessidades que tivemos. Hoje, qualquer comunicação institucional é segmentada para determinados públicos. As ferramentas digitais vão permitir comunicação mais direcionada, para públicos específicos”, disse Pimenta.
Lula avisou aos ministros que o governo precisa melhorar a comunicação para “traduzir” certas benfeitorias do governo à população. Segundo assessores do Planalto, Lula avalia que resultados como o aumento da massa salarial e a redução do desemprego deveriam levar o governo a números melhores na avaliação pública, o que não aconteceu, pelo menos nas últimas pesquisas.
O presidente também pediu para os ministros ampliarem a agenda de viagens pelo país para divulgar as realizações do governo e pediu para deixarem as eleições municipais em segundo plano. Mais do que falar sobre ações das respectivas áreas, a orientação é que os ministros falem de medidas do governo de maneira geral.
A avaliação é que esses eventos podem melhorar a compreensão da população sobre algumas medidas e também aproximar o governo do maior número possível de eleitores em diferentes partes do país.
O ponto mais tenso da discussão foi sobre o Ministério da Saúde. A ministra Nísia Trindade comentou sobre os constantes ataques sofridos por integrantes da oposição e do Centrão, que está de olho na pasta. Ao falar sobre o assunto, a ministra ficou emocionada, mas apresentou medidas e projetos do Ministério da Saúde ao presidente e aos colegas ministros.
Lula cobrou que Nísia passe a se defender quando receber ataques e também cobrou melhorias na pasta, como maior eficiência em medidas e nos dados de combate à dengue, como o número exato de pessoas vacinadas contra a doença e maior celeridade na liberação de emendas parlamentares, principalmente com o Centrão de olho na pasta.
Outro que recebeu recado diretamente foi o ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Wellington Dias. Embora Lula tenha elogiado a condução do Bolsa Família, sob comando da pasta de Dias, o presidente quer que o MDS traga novas medidas dentro do programa para combater a pobreza e a fome.
Efeito aerossol
Em entrevista coletiva após a reunião, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, definiu a falta da percepção de melhoria como “efeito aerossol”. Para ele, muitas medidas são anunciadas ao mesmo tempo.
“O presidente não quer que lancem novas ações, mas sim concretizar aquilo que foi lançado para que a gente possa passar para a população o resultado da economia e o resultado das medidas. Evitar o que eu chamo efeito aerossol. Quando você pulveriza demais você dispersa e as pessoas depois não enxergam que foi feito ali, que o aerossol foi acionado”, disse.
Rui Costa argumentou que as políticas públicas do governo estão em andamento e até que conforme elas forem sendo implementadas, isso refletirá na opinião pública ao longo de 2024. Ele também usou a relação entre plantio e colheita ao manifestar confiança na melhoria do cenário.
Militares
Aos jornalistas após o fim da reunião, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o setor de Defesa “está em paz”. Ele reiterou que as Forças Armadas não participou de qualquer tentativa de golpe de Estado e que as investigações da Polícia Federal (PF) estão individualizando a participação de eventuais envolvidos em uma trama golpista.
“Eu acho que a gente agora tem que arrefecer o clima pra gente poder apaziguar de vez. E essas declarações dos militares foram muito boas porque a suspeição saiu do coletivo e começou a ser individualizada. Agora são eles que estão dizendo que eles são os culpados”, disse Múcio.
Alimentos
Na última semana, Lula conduziu uma série de reuniões com a presença dos ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) para discutir a alta no preço da comida no fim do ano passado. Apesar de ser uma das prioridades do presidente, o tema não foi debatido na reunião ministerial. Segundo Fávaro, os debates sobre o assunto foram feitos nas reuniões da semana passada.