Renan Calheiros discorda da escolha do relator e deixa CPI da Braskem
Senador é o autor do pedido de criação da comissão que vai investigar os danos ambientais causados em Maceió pela empresa petroquímica
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem, senador Omar Aziz (PSD-AM), designou nesta quarta-feira (21) Rogério Carvalho (PT-SE) para ser o relator do colegiado. Renan Calheiros (MDB-AL), autor do pedido de criação da CPI, discordou da decisão e, por isso, anunciou sua saída do grupo.
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Após o anúncio da designação do relator, Renan fez um discurso em que criticou a Braskem pelos danos causados em Maceió com a exploração do sal-gema, disse que seguirá buscando na Justiça e em outros órgãos, como o Ministério Público, as punições e indenizações pelo ocorrido e defendeu que a designação de Rogério Carvalho é prejudicial aos interesses de Alagoas. Segundo Renan, por ser senador pelo estado, tem mais legitimidade para conduzir a investigação do que Carvalho.
"Com encaminhamentos que ensaiam domesticar a CPI, não emprestarei meu nome para simulacros investigatórios. Jogos de cartas marcadas sempre acabam com a ruína de castelos de cartas. Já vi esse filme várias vezes. Mãos ocultas, mas visíveis me vetaram na relatoria, que não era uma capitania, mas o resultado de uma costura política", afirmou Renan.
Omar Aziz disse que o parlamentar do MDB foi muito duro em suas palavras no discurso e que ninguém vai domesticar ele (presidente). De acordocom Aziz, a comissão vai apurar todos os fatos envolvendo o desastre em Maceió, "sem nenhuma amarra".
Otto Alencar (PSD-BA), outro dos membros da comissão, comentou a fala de Renan de que mãos ocultas lhe vetaram e disse que não foram as suas. "Elas continuam limpas, limpas em todo sentido, numa carreira de 36 anos, e elas nunca foram, em nenhum momento, maculadas por nada na minha vida".
Alencar referendou a decisão de Omar de escolher um senador de outro estado que não Alagoas para ser o relator. Segundo ele, Rogério Carvalho fará um bom trabalho.
Alencar pediu que o relator apresente o plano de trabalho da CPI na próxima reunião, na terça-feira (27).
O vice-presidente da comissão, Jorge Kajuru (PSB-GO), ofereceu o próprio posto para que Renan continue na comissão. Ele implorou para que o colega aceite. "O senhor como vice-presidente fará um trabalho como se fosse o relator", pontuou. Kajuru ressaltou ser costume da Casa que o autor do pedido de criação de uma CPI faça parte dala, ou como presidente, ou como vice, ou como relator. Segundo ele, ainda, seria importante para o colegiado ter Renan como vice.
Em entrevista a jornalistas após o fim da reunião de hoje, porém, o senador por Alagoas disse que não vai reconsiderar sua decisão de sair, porque há uma tentativa de "domesticar" a comissão. Questionado se vai frequentá-la mesmo sem ser membro, pontuou: "Eu saí da CPI".
CPI da Braskem
A reunião de hoje da comissão estava marcada inicialmente para 10h. Ela foi adiada para as 16h após os integrantes não chegarem a um consenso sobre quem seria o relator.
Alguns dos integrantes do colegiado sugeriram que o nome indicado não fosse de Alagoas. Para eles, isso daria mais isenção aos trabalhos da comissão.
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O senador Renan Calheiros se manifestou contrariamente à sugestão. Ele ressaltou que a condição limitaria seu mandato.
A comissão foi criada para investigar os danos ambientais causados em Maceió pela Braskem. Por causa da exploração do sal-gema pela empresa petroquímica, bairros da capital alagoana sofreram afundamento de solo.
A instalação da CPI ocorreu em dezembro do ano passado, três dias depois de a mina 18 da Braskem sofrer um rompimento, que pôde ser percebido num trecho da Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange.