Nos bastidores, petistas deflagram movimento para fortalecer Haddad
Mesmo com a rápida recuperação de Lula, PT se assustou com a ausência de nome alternativo para 2026
Leonardo Cavalcanti
Ainda na madrugada da última terça-feira (10), com as primeiras informações sobre a cirurgia de Luiz Inácio Lula da Silva, petistas tiveram duas preocupações. A primeira relacionada a um procedimento médico realizado às pressas no líder e fundador da legenda. A outra mais voltada para o campo político-eleitoral, com uma eventual saída do presidente do jogo político de 2026.
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Ao longo da semana, nos bastidores da política em Brasília, governistas trataram de um tema delicado mas inevitável: mais cedo ou mais tarde, Lula, 79 anos, deverá se decidir por sair do jogo político. E quem será o nome do partido na sucessão de um homem que disputou seis corridas presidenciais, ganhando três, além de mostrar força de transferência de votos ao eleger Dilma Rousseff por duas vezes?
Até aqui todos os caminhos levam para o nome o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, 61 anos. A intenção é colocar em prática uma operação blindagem durante as negociações no Congresso para o pacote de redução de gastos e ao mesmo tempo exaltar eventuais resultados econômicos positivos. Mas sem declarar a busca de um segundo nome para Lula, um assunto proibido publicamente.
“Uma semana que começou com a falta de nome para substituir Lula terminou com a boa notícia da recuperação com uma pesquisa que testou positivamente o nome de Haddad”, disse um petista do Congresso, que preferiu não se identificar por um único motivo: ninguém fala abertamente sobre a aposentadoria de Lula. A pesquisa em questão trata-se de um levantamento da Quaest publicada na última quinta-feira (12).
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A pesquisa, realizada de 4 a 9 de dezembro - antes do anúncio da cirurgia de Lula -, mostra a força do presidente. Mas deu um alento para os petistas ao apontar que Haddad ganharia de Jair Bolsonaro, diga-se, inelegível, por 42% a 35%, para além da margem de erro de 1 ponto percentual. A vantagem para Pablo Marçal seria ainda maior, 44% a 28%; para Tarcísio de Freitas, 44% a 25%; e para Ronaldo Caiado, 45% a 19%.
A questão é que o desempenho de Haddad, por ser ministro da Fazendo, está ligado à economia. Mas, na cabeça de petistas, o cenário é positivo para os próximos dois anos com crescimento econômico. o que deixaria Haddad bem posicionado. A fracasso na releição à prefeitura de São Paulo, em 2016, e a derrota para Bolsonaro em 2018, entretanto, sempre acompanham as críticas sobre uma resistência de Haddad com a política.
Sem alternativas
A questão é que Lula não preparou um substituto, e hoje tem dentro do núcleo petista uma guerra em que os mais próximos não pretendem perder espaço. Os exemplos estão no ministro Rui Costa e primeira-dama Janja da Silva, que, sabe, sem a presença do presidente, perderá protagonismo. Os apoiadores de Haddad por sua vez já têm as respostas prontas para as derrotas eleitorais de 2016 e 2018, que, de alguma forma, já estavam precificadas.
O primeiro caso, a reeleição em São Paulo, foi o mais grave, com a derrota ainda primeiro turno para João Doria. Mas a turma de Haddad lembra que ele terminou o mandato com o impeachment de Dilma Rousseff, quando o PT enfrentava um desgaste nacional sem precedentes por causa da operação Lava-Jato. No caso da eleição presidencial, Haddad conquistou 47 milhões de votos, 10 milhões a menos que Bolsonaro, mas um resultado que não é desprezado na conta dos petistas.
Graduado em direito e com mestrado em economia, Haddad tem a confiança de Lula mas é visto com um personagem mais acadêmico do que político propriamente. Em abril deste ano o presidente criticou a falta de empenho de ministros nas negociações com o Congresso. “O Haddad, ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara”, disse Lula.