No Chile, Lula alerta para ofensiva antidemocrática e cobra regulação das redes sociais
Presidente brasileiro afirma que ataques à democracia se intensificaram; encontro ocorre em meio à pressão de Trump por anistia a Bolsonaro

Murilo Fagundes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alertou, em declaração conjunta no Chile nesta segunda-feira (21), para uma nova ofensiva antidemocrática no mundo e defendeu ações urgentes para enfrentar o avanço da desinformação.
O encontro reuniu também os presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai) e Pedro Sánchez (Espanha).
"Vivenciamos uma nova ofensiva antidemocrática. Para resistir a esse movimento, Brasil e Espanha promoveram um encontro no ano passado. De lá para cá, a situação do mundo se agravou", afirmou Lula.
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O presidente brasileiro destacou que apenas manter eleições regulares já não basta para garantir a saúde das democracias:
"Cumprir o calendário eleitoral a cada quatro anos já não é mais suficiente. O sistema político e os partidos caíram em descrédito."
Lula também defendeu a regulamentação das plataformas digitais como forma de proteger as instituições e os cidadãos diante do crescimento das fake news e do discurso de ódio:
"Concordamos sobre a necessidade de regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação para devolver ao Estado a capacidade de proteger seus cidadãos."
"Liberdade de expressão não se confunde com autorização para incitar violência, difundir ódio, cometer crimes e atacar o Estado Democrático de Direito", completou.
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O evento ocorre em meio à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O presidente norte-americano Donald Trump, que já impôs novas tarifas ao Brasil, também tem pressionado publicamente por anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Além das críticas à desinformação, Lula também atacou a desigualdade econômica global:
"Não há justiça em um sistema que amplia benefícios para o grande capital e corta da sociedade. Os super-ricos precisam arcar com sua parte nesse esforço."
Durante a declaração, Pedro Sánchez defendeu o fortalecimento do multilateralismo e o combate à manipulação algorítmica das redes sociais. Já Gabriel Boric afirmou que o movimento iniciado no Chile deve se expandir:
"Aqui está nascendo algo grande", disse Boric, ao citar apoio de líderes de países como México, Honduras, Canadá, Austrália, África do Sul e Dinamarca.
Nesta tarde, os chefes de Estado participam de um almoço com representantes da sociedade civil.
A articulação terá continuidade em setembro, em um evento paralelo à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, com a presença de líderes de outros continentes.