Mauro Vieira vai à Câmara para falar sobre postura do Brasil na eleição da Venezuela
Audiência pública com o chanceler brasileiro na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional está marcada para as 9h, nesta quarta-feira (13)
Guilherme Resck
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, vai à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (13), para discorrer sobre a postura do país na eleição presidencial da Venezuela, realizada em 28 de julho. A audiência pública com o chanceler está marcada para às 9h.
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O evento foi organizado a partir da aprovação, pelo colegiado, de um requerimento de autoria do presidente da comissão, Lucas Redecker (PSDB-RS). O parlamentar pediu exatamente a realização de uma audiência pública com a presença de Mauro Vieira para que o chanceler discuta com os membros do colegiado a postura do Brasil no pleito venezuelano — em que Nicolás Maduro foi reeleito, derrotando Edmundo González, de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral local.
Na justificativa do requerimento, Lucas Redecker ressalta que a eleição foi marcada "por uma série de irregularidades e denúncias de fraude, favorecendo o regime de Nicolás Maduro, que poderá acumular um total de 17 anos no poder". Além disso, critica a forma como o Brasil se portou em relação aos possíveis problemas no processo eleitoral.
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"O Brasil preferiu o silêncio. Timidamente, para não suscitar reações raivosas por parte de Maduro, o Itamaraty, em nota, pediu que as atas das mesas de votação fossem exibidas, confirmando a isenção do pleito", afirma.
"O pedido foi reiterado pelo enviado do governo brasileiro em Caracas, o chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim", acrescenta.
O Brasil não reconheceu o resultado da eleição venezuelana. O país, de fato, pediu que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela publicasse as atas eleitorais, para comprovar o resultado do pleito, mas isso não ocorreu.
Em entrevista veiculada no domingo (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que "Maduro é problema da Venezuela, não do Brasil". "Eu vou cuidar do Brasil, o Maduro cuida dele, o povo venezuelano cuida do Maduro, e eu cuido do Brasil. E vamos seguir em frente", completou.
Tensões entre os países
Apesar do histórico amistoso entre Lula e Maduro, as relações se estremeceram ao longo deste ano, mesmo antes da eleição venezuelana.
Quando a líder da oposição, María Corina Machado, foi impedida de disputar a presidência, o Itamaraty emitiu nota dizendo que acompanhava o pleito com "preocupação". A Venezuela reclamou do posicionamento brasileiro.
Pouco antes da eleição, Maduro disse, sem citar provas, que as eleições no Brasil não são auditadas, em acusação rebatida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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Novas crises ocorreram em outubro, quando o Brasil vetou entrada da Venezuela no Brics. O país de Maduro classificou a posição brasileira como "agressão inexplicável". Celso Amorim declarou que "houve uma quebra de confiança" entre os países sobre a eleição no país vizinho.
A Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela chegou a publicar uma imagem com a bandeira do Brasil, referência a Lula e mensagem em tom ameaçador: "Quem mexe com a Venezuela se dá mal". Depois, a publicação foi apagada.
A Venezuela ainda convocou de volta o seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell. Uma decisão desse tipo costuma significar descontentamento e indica que um governo não se enxerga como bem-vindo em outro território.
Em nota, o Itamaraty relatou ter visto com "surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais". Novamente, o governo venezuelano repudiou o que chamou de "agressão" do Brasil a Maduro.