"Fome é escolha política", diz Lula em artigo publicado no exterior
Presidente voltou a defender reforma da governança global e inclusão dos mais ricos no imposto de renda para garantir alimentação de famílias vulneráveis

Camila Stucaluc
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou um artigo em jornais internacionais, no qual afirma que a “existência da fome é uma escolha política”. O texto foi divulgado na tarde de segunda-feira (13), enquanto o líder participava do Fórum Mundial da Alimentação, em Roma, na Itália.
“A fome não é uma condição natural da humanidade, nem é uma tragédia inevitável: ela é fruto de escolhas de governos e de sistemas econômicos que optaram por fechar os olhos para as desigualdades. Ou mesmo promovê-las”, diz Lula, no início do artigo.
O presidente segue citando a concentração de renda em um grupo de 3 mil bilionários, que detêm 14,6% do Produto Interno Bruto (PIB) global, enquanto 679 milhões de pessoas não têm acesso à alimentação adequada. Em outro trecho, critica os países mais ricos por investirem grandes quantias em armamento militar.
“Hoje, vemos situações semelhantes às de oitenta anos atrás, quando a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) foi criada. No entanto, ao contrário de então, agora temos não apenas as tragédias da guerra e da fome que se alimentam mutuamente, mas também a urgente crise climática”, ressalta.
Ao propor soluções para a fome no mundo, Lula cita a reforma dos mecanismos de governança global para garantir que os Estados tenham capacidade de implementar políticas públicas coerentes para combater a fome e a pobreza. Defende, ainda, a inclusão dos mais vulneráveis no orçamento público e dos mais riscos no imposto de renda.
Mencionando o G20, o presidente ainda ressalta a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. “Embora seja uma iniciativa recente, já conta com 200 membros: 103 países e 97 associados, entre fundações e organizações. Não se trata apenas de trocar experiências, mas também de mobilizar recursos e exigir compromissos”, diz.
Já em relação ao Brasil, Lula destaca a saída do país do Mapa da Fome da FAO. Ele também cita novas iniciativas para garantir a alimentação das famílias mais vulneráveis, como a ampliação dos recursos para a alimentação gratuita nas escolas públicas e o aumento do fornecimento gratuito de gás de cozinha e eletricidade para pessoas de baixa renda.
“O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para garantir a segurança alimentar de toda a sua população, mas esses resultados mostram que a ação do Estado pode acabar com o flagelo da fome. No entanto, para que essas iniciativas sejam bem-sucedidas, as prioridades globais precisam mudar: investir no desenvolvimento em vez de nas guerras, priorizar a luta contra a desigualdade em vez das políticas econômicas restritivas e enfrentar o desafio das mudanças climáticas”, conclui.
+ Fome diminui na Ásia e América Latina, mas cresce na África, diz relatório da ONU
Ao todo, nove jornais publicaram o artigo: Público (Portugal); The Independent (Reino Unido); La Repubblica (Itália); El País (Espanha); Libération (França); Al Jazeera (Qatar); Daily Nation (Quênia); Infobae (Argentina); e Jornal Notícias (Moçambique). Há ainda a previsão de publicação em jornais da Colômbia, Chile e México.