Política

"Está havendo uma erosão da democracia", afirma presidente do STM sobre os riscos para retorno de ditadura

Primeira mulher a comandar o STM, Elizabeth Rocha diz saber que incomoda, mas continua na defesa de causas progressistas como o combate à misoginia e ao racismo

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Presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha | Divulgação/José Cruz/Agência Brasil

Prestes a julgar os militares condenados por golpe no país, a presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Elizabeth Rocha, refletiu sobre o desafio de manter a democracia no Brasil, livre de ditaduras, em entrevista ao SBT News.

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A ministra afirmou não ter dúvidas de que as instituições estão consolidadas, ao mesmo tempo, ela observa que a democracia precisa continuar a ser vigiada. "Está havendo uma erosão da democracia, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. E sinceramente, eu não sei explicar a razão. Talvez porque o contrato social do iluminismo (liberdade, igualdade, fraternidade) não atenda mais aos cidadãos do terceiro milênio. Mas o fato é que as pessoas não se dão conta do que é uma ditadura. Só aqueles que viveram e conheceram o que é temer o estado é que sabe o horror que isso significa", disse.

"Você tem um inimigo invisível que você não sabe se quer identificar e que pode ceifar a sua vida, a dos seus familiares, é você desaparecer sem saber porquê", lamenta.

Elizabeth é a primeira mulher a presidir o STM, em mais de 200 anos de história. Está no tribunal desde 2007 e desponta como voz progressista entre os ministros, em que a maioria é militar. Neste ano, o governo indicou a segunda mulher para compor a corte, a ministra Verônica Abdala.

"Eu sei que eu incomodo e eu faço questão de incomodar, na medida em que eu estou abrindo portas para as próximas que virão depois de mim. Não é? É preciso que haja um pacto intergeracional entre nós para que nós possamos abrir as possibilidades para as jovens gerações, para que não sofram aquilo que nós sofremos, porque sofrerão, eu não tenho a menor dúvida. Agora que sofram, e que lutem por embates diferentes. Não tem o menor sentido a Verônica, que irá me substituir naquela corte, porque ela é uma jovem mulher de 40 anos, que ela sofra os mesmos impactos e as mesmas violências simbólicas e micro violências que eu sofro. Não é possível, daqui a 9 anos eu sairei. Ela permanecerá 30 anos", observou.

Para Elizabeth, o STM é considerado um "reduto da masculinidade", o que aumenta sua responsabilidade como mulher em posto de comando na sociedade. A ministra avalia que as mulheres, assim como outras minorias, enfrentam problema cultural. "Tenho horror a violências domésticas e às violências contra a mulher, porque é uma violência que tem endereço certo. A mulher é morta e agredida pelo fato simplesmente do seu gênero, dela pertencer ao gênero feminino, não é? Isso é um horror civilizatório. Isso é um retrocesso humano. Isso é inconcebível numa sociedade que se proclama civilizada", pontua.

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