Corte de gastos: Militares tentam negociar mudanças com governo, mas não descartam buscar oposição
Com poder de barganha em queda desde vídeo da Marinha, membros das Forças esperam apoio de bolsonaristas para evitar transição de idade para aposentadoria
Leonardo Cavalcanti
Um dos projetos mais simbólicos do pacote de corte de gastos do governo é alvo de negociação intensa na Esplanada dos Ministérios na tentativa de evitar que militares busquem políticos da oposição para derrubar parte do texto no Congresso Nacional. As regras de transição para a idade mínima de 55 anos para os integrantes das Forças Armadas são o ponto de maior insatisfação na caserna, numa disputa que, caso não tenha o aval dos comandos, pode implicar um desgaste dos governistas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
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O governo Lula tentou mostrar há duas semanas uma unidade na mudança de regras para aposentadoria dos militares. Mas oficiais disseram ao SBT News que tal movimento nunca ocorreu. A partir daí a cúpula das Forças Armadas traçou um plano para ampliar as regras de transição e poupar os atuais integrantes da ativa. A negociação segue aberta.
Nos bastidores, a estratégia das três Forças era deixar o Exército como porta-voz da insatisfação dos militares com a proposta na tentativa de ampliar ao máximo a regra de transição. A ideia disseminada internamente era comparar o quanto o governo “economiza” com servidores militares em relação a contratos da iniciativa privada, pela CLT. Por mais estranho que pudesse parecer incialmente, o plano tentava mostrar que as horas extras e os encargos seriam muito maiores do que eventuais “privilégios” militares, como a aposentadoria antecipada. Ganhou pouca repercussão, no entanto.
O desgaste
Sem avanços na contraposição de integrantes do governo, que falavam em união na proposta, a Marinha decidiu divulgar um vídeo que apresentou militares em exercícios extenuantes e civis em momentos de lazer. Pegou mal nas redes e na Esplanada.
A peça surpreendeu oficiais do Exército e da Aeronáutica e enfraqueceu a negociação na Esplanada. Depois dos tropeços, os militares da ativa seguem pressionando o ministro da Defesa, José Múcio, para serem poupados das regras. O principal argumento é a busca por parlamentares bolsonaristas quando o texto sem o apoio da caserna chegar ao Congresso, o que desgastaria o governo Lula com a tropa.
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A relação dos militares com governos petistas é instável desde o primeiro governo Dilma Rousseff, com a criação da Comissão Nacional da Verdade, em 2011. A fragilidade na relação com a esquerda se ampliou no governo Bolsonaro, que privilegiou militares em postos-chaves da Esplanada, incluindo a chefia de ministérios.
Por mais que os atuais comandantes estejam distantes do bolsonarismo, o pacote do corte de gastos reavivou a relação de parte da tropa com a atual oposição ao governo Lula.