Bernardo Cabral: "Profetas do apocalipse" diziam que a Constituição não duraria
Ex-relator geral da Assembleia Constituinte celebra os 35 anos da Constituição Federal e defende que ela tem fôlego para mais 35
SBT News
Ex-relator geral da Assembleia Nacional Constituinte, Bernardo Cabral celebra os 35 anos da Constituição Federal e defende que ela tem fôlego para mais 35. Aos 91 anos, quase 60 deles na vida pública, Cabral recebeu a equipe de reportagem do SBT em seu escritório no Rio de Janeiro. Em conversa com a jornalista Soane Guerreiro, relembrou, com riqueza de detalhes, os bastidores das discussões no Congresso Nacional durante a Constituinte que atuou por 1 ano e 8 meses até que a Carta Magna fosse promulgada.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
"Os profetas do Apocalipse devem estar se movendo onde quiserem [...] aqueles profetas que diziam que ela não duraria seis meses. De modo que durou tudo isso porque foi fruto do povo. Não foi fruto de um grande intelectual sozinho", lembrou Bernardo Cabral.
O deputado constituinte contou que era comum parlamentares rodarem noites e madrugadas se debruçando sobre a organização da Carta. Foram mais de sessenta e uma mil emendas sugeridas por pessoas comuns, constituintes e entidades de classe, além de 122 emendas populares, algumas com mais de 1 milhão de assinaturas.
Avanços
Cabral destacou, com orgulho, grandes mudanças de valores proporcionadas pelo texto Constitucional: "As nossas Constituições anteriores, todas elas começavam com o Estado. Era o Estado. O ser humano era lá pro fim. Esta é a constituição que foi dada a gente como cidadão porque começa com o ser humano". Lembrou ainda que há poucos anos, o Código Civil brasileiro ainda dizia que o marido era o chefe da relação conjugal. "A mulher não podia ser fiadora sem ele (o marido). Hoje, o artigo quinto, inciso primeiro do texto constitucional, diz que homens e mulheres são iguais em direito e dever", celebra.
O parlamentar constituinte também comemorou a inclusão de um capítulo sobre o meio ambiente. "A Constituição está com 35 anos agora. E há 37 anos criamos um título, um capítulo para o meio ambiente. Naquela época ninguém falava em meio ambiente. Hoje é moda, hoje todo mundo defende. Mas naquela altura não".
O jurista reforçou que vários foram os desafios para chegar ao final desse processo, marcado por interesses e ameaças:
"Os telefonemas eram à noite para a minha casa. A minha mulher atendia porque àquela altura não havia a interpretação do número. Então ela pensava que era eu que estava ligando. E diziam: Hoje, não espere seu marido que ele não chega em casa. Porque eu contrariei muita gente. Você não tem ideia que naquela altura a indústria do jogo era forte, a indústria do álcool era forte, a indústria do fumo. E eu fui contra tudo isso".
Na avaliação de Bernardo Cabral, mesmo após 35 anos, é a Constituição Federal de 1988 que continua proporcionando as bases para a solidez da democracia.
"No presente foi a Constituição que não deixou entrar uma ditadura. Se ela não tivesse sido construída como foi, ela poderia ter sido manipulada com essa intenção [...] A Constituição não deu chance para isso. Agora, daqui para frente, eu diria que 35 anos é uma existência. Ela já alcançou o que muitos não previram, não desejavam, não queriam e se arrependeram profundamente".
Confira a íntegra da entrevista: