Política
Candidato "água com açúcar" não vai funcionar em 2022, diz FHC
Ex-presidente cobra posicionamento mais firme do PSDB em entrevista ao Poder em Foco, no SBT
Roseann Kennedy
• Atualizado em
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A campanha presidencial de 2022 vai exigir candidatos com posicionamentos firmes e assertivos. A avaliação é do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. "Quem vier a ser candidato, de qualquer partido, se quiser ganhar, tem que jogar com clareza: sou a favor disso, sou contra aquilo. Não pode ser meio tempo. Água com açúcar não funciona na eleição", afirmou em entrevista ao Poder em Foco, que vai ao ar no SBT neste domingo (7).
O recado vai para a própria sigla, o PSDB. Fernando Henrique cobra postura afirmativa dos tucanos que queiram disputar a corrida ao Palácio do Planalto no ano que vem. "Tem que ter um candidato que abra o jogo, que fale ao país com franqueza o que vai fazer e no que acredita. E isso tem que ser transmitido com força ao país. Eu acho que essa posição de ficar nem lá nem cá é ruim do ponto de vista eleitoral e do ponto de vista político também", avaliou.
Na campanha presidencial de 2018, o PSDB sofreu derrota expressiva. Pela primeira vez, desde a redemocratização, não esteve no segundo turno da disputa. O então candidato, Geraldo Alckmin, teve menos de 5% dos votos válidos no primeiro turno. À época, uma das principais críticas que sofreu foi de que demorou a ter postura mais incisiva contra o candidato favorito na disputa, Jair Bolsonaro (sem partido), que ganhou com 55% dos votos no segundo turno com contra Fernando Haddad (PT). "Na eleição tem que haver enfrentamento e posições mais claras. No 2º turno é cara ou coroa, não tem jeito", resumiu.
Fernando Henrique admite que o PSDB passa por um momento difícil. "Neste momento, eu tenho a sensação, eu reitero a expressão sensação, de que o PSDB está um pouco sem rumo, sem saber bem o que fazer. E isso é ruim. Reflete um momento de indecisão muito grave da política brasileira e o povo não entende essa linguagem de negaceio. É sim ou é não, não tem muito jeito como escapar disso", ressaltou.
Há décadas, o PSDB é citado como um partido em cima do muro, expressão cunhada pela imprensa para expor a indecisão ou falta de transparência nas decisões políticas da sigla em momentos polêmicos. Para FHC, a mensagem tem duplo sentido.
"Tem um sentido que é verdadeiro, o PSDB quer ser racional e portanto pondera. Isso eu não acho negativo. Tem o outro que é onde ele se esconde. Não toma posição clara. Tá na hora de tomar uma posição, não dá para ficar encolhido. Encolhido não leva a nada. Você pode ganhar ou pode perder, mas você tem que ter cara, certa nitidez. Há políticos capazes de fazer isso no PSDB, espero que eles assumam o controle".
Para FHC, está aberta a temporada para as articulações da campanha do ano que vem. "De agora em diante começa o jogo pra valer da sucessão presidencial. As Câmaras estão compostas, a composição dos partidos já existe, já houve eleição municipal. Então tá na hora de resolvermos quem vai ser candidato", avaliou.
Em seis eleições, desde 1994 até 2014, o PT foi o principal adversário do PSDB na disputa presidencial. Fernando Henrique venceu duas vezes e o PT nas quatro vezes seguintes, com Luiz Inácio Lula da Silva e com Dilma Rousseff. O Partido dos Trabalhadores também conseguiu avançar no embate com o atual presidente Jair Bolsonaro no pleito de 2018.
"O PT tem força. Mas tem menos hoje", afirmou Fernando Henrique. Ele destacou o fraco desempenho dos petistas nas eleições municipais e disse que o partido também não tem mais domínio único do discurso social. "As teses fundamentais do PT passaram a ser teses dos governos. Bolsa família, esse tipo de coisa. Já era do meu governo e continuou. O PT se apropriou e criou uma marca bastante forte para o PT. Mas, hoje não existe só o PT".
Para Fernando Henrique, a próxima campanha deve ter propostas mais focadas na pauta social que no liberalismo econômico. Mas ele faz questão de destacar que isso não significa dar as costas para nenhum setor. "O lado nosso tem que ser o dos que mais necessitam. Isso quer dizer que você vai dar as costas para os outros? Não! Os que têm recursos é que têm que propiciar o crescimento, a continuidade do crescimento. Mas você não precisa dar as costas para um lado para ser do outro. Tem que ter projeto a favor do Brasil", concluiu.
Fernando Henrique Cardoso, 89 anos, governou o Brasil por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). Ele foi o único presidente da República reeleito em primeiro turno, após a redemocratização. Sociólogo, detentor de 29 títulos de doutor honoris causa concedidos por universidades da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil, autor de mais de 40 livros. Ele também foi senador, ministro das Relações Exteriores e ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco, à época da criação do Plano Real.
O Poder em Foco vai ao ar todo domingo, logo após o Programa Silvio Santos. É apresentado por Roseann Kennedy, que semanalmente recebe um jornalista convidado. Nesta semana é Marcelo de Moraes, do jornal O Estado de São Paulo.
Assista a íntegra do programa:
O recado vai para a própria sigla, o PSDB. Fernando Henrique cobra postura afirmativa dos tucanos que queiram disputar a corrida ao Palácio do Planalto no ano que vem. "Tem que ter um candidato que abra o jogo, que fale ao país com franqueza o que vai fazer e no que acredita. E isso tem que ser transmitido com força ao país. Eu acho que essa posição de ficar nem lá nem cá é ruim do ponto de vista eleitoral e do ponto de vista político também", avaliou.
Na campanha presidencial de 2018, o PSDB sofreu derrota expressiva. Pela primeira vez, desde a redemocratização, não esteve no segundo turno da disputa. O então candidato, Geraldo Alckmin, teve menos de 5% dos votos válidos no primeiro turno. À época, uma das principais críticas que sofreu foi de que demorou a ter postura mais incisiva contra o candidato favorito na disputa, Jair Bolsonaro (sem partido), que ganhou com 55% dos votos no segundo turno com contra Fernando Haddad (PT). "Na eleição tem que haver enfrentamento e posições mais claras. No 2º turno é cara ou coroa, não tem jeito", resumiu.
Em cima do muro
Fernando Henrique admite que o PSDB passa por um momento difícil. "Neste momento, eu tenho a sensação, eu reitero a expressão sensação, de que o PSDB está um pouco sem rumo, sem saber bem o que fazer. E isso é ruim. Reflete um momento de indecisão muito grave da política brasileira e o povo não entende essa linguagem de negaceio. É sim ou é não, não tem muito jeito como escapar disso", ressaltou.
Há décadas, o PSDB é citado como um partido em cima do muro, expressão cunhada pela imprensa para expor a indecisão ou falta de transparência nas decisões políticas da sigla em momentos polêmicos. Para FHC, a mensagem tem duplo sentido.
"Tem um sentido que é verdadeiro, o PSDB quer ser racional e portanto pondera. Isso eu não acho negativo. Tem o outro que é onde ele se esconde. Não toma posição clara. Tá na hora de tomar uma posição, não dá para ficar encolhido. Encolhido não leva a nada. Você pode ganhar ou pode perder, mas você tem que ter cara, certa nitidez. Há políticos capazes de fazer isso no PSDB, espero que eles assumam o controle".
Para FHC, está aberta a temporada para as articulações da campanha do ano que vem. "De agora em diante começa o jogo pra valer da sucessão presidencial. As Câmaras estão compostas, a composição dos partidos já existe, já houve eleição municipal. Então tá na hora de resolvermos quem vai ser candidato", avaliou.
PT
Em seis eleições, desde 1994 até 2014, o PT foi o principal adversário do PSDB na disputa presidencial. Fernando Henrique venceu duas vezes e o PT nas quatro vezes seguintes, com Luiz Inácio Lula da Silva e com Dilma Rousseff. O Partido dos Trabalhadores também conseguiu avançar no embate com o atual presidente Jair Bolsonaro no pleito de 2018.
"O PT tem força. Mas tem menos hoje", afirmou Fernando Henrique. Ele destacou o fraco desempenho dos petistas nas eleições municipais e disse que o partido também não tem mais domínio único do discurso social. "As teses fundamentais do PT passaram a ser teses dos governos. Bolsa família, esse tipo de coisa. Já era do meu governo e continuou. O PT se apropriou e criou uma marca bastante forte para o PT. Mas, hoje não existe só o PT".
Para Fernando Henrique, a próxima campanha deve ter propostas mais focadas na pauta social que no liberalismo econômico. Mas ele faz questão de destacar que isso não significa dar as costas para nenhum setor. "O lado nosso tem que ser o dos que mais necessitam. Isso quer dizer que você vai dar as costas para os outros? Não! Os que têm recursos é que têm que propiciar o crescimento, a continuidade do crescimento. Mas você não precisa dar as costas para um lado para ser do outro. Tem que ter projeto a favor do Brasil", concluiu.
Perfil
Fernando Henrique Cardoso, 89 anos, governou o Brasil por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). Ele foi o único presidente da República reeleito em primeiro turno, após a redemocratização. Sociólogo, detentor de 29 títulos de doutor honoris causa concedidos por universidades da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil, autor de mais de 40 livros. Ele também foi senador, ministro das Relações Exteriores e ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco, à época da criação do Plano Real.
Poder em Foco
O Poder em Foco vai ao ar todo domingo, logo após o Programa Silvio Santos. É apresentado por Roseann Kennedy, que semanalmente recebe um jornalista convidado. Nesta semana é Marcelo de Moraes, do jornal O Estado de São Paulo.
Assista a íntegra do programa:
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