Motoristas de aplicativo enfrentam onda de assaltos e cobram mais segurança
Em São Paulo, motoristas pedem apoio das plataformas para instalar câmeras e reforçar a proteção no trabalho
Nathalia Fruet
Uma onda de assaltos está deixando motoristas de aplicativo em alerta, especialmente na cidade de São Paulo. Profissionais relatam medo crescente e buscam alternativas para garantir sua segurança. A instalação de câmeras nos veículos tem sido uma medida sugerida, mas muitos reclamam da falta de apoio das empresas para implementar essa solução.
Um dos motoristas, que preferiu não mostrar o rosto, revelou estar sem trabalhar há mais de uma semana após sofrer um assalto no dia 16. Ele relatou que o que seria uma corrida curta se transformou em um momento de terror.
"Chegando lá, o que estava atrás de mim pegou no meu pescoço, apertando forte. Eu pedia para parar, e ele apertava mais. Ele disse que, se eu falasse ou olhasse para trás, me daria um tiro", contou a vítima, com voz distorcida.
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Além do trauma, o motorista ainda enfrenta dificuldades financeiras. O carro, ainda financiado, não foi recuperado, e ele não teve condições de instalar câmeras devido ao custo elevado. Ele também criticou a falta de suporte da plataforma, que descontou R$ 40 porque a corrida não foi finalizada. "Aumentou o valor, eles me cobraram a taxa e não me pagaram nada pela corrida", desabafou.
Outro caso envolveu um motorista que foi rendido por assaltantes, um deles armado com uma faca. O criminoso foi preso no início da semana, mas o cúmplice segue foragido. A delegada responsável pelo caso destacou a importância das imagens de segurança para identificar os suspeitos. "A imagem é essencial porque facilita o procedimento investigatório. Numa foto, conseguimos identificar muito mais fácil um agente. É uma medida que deve ser adotada para garantir a segurança e solucionar crimes", afirmou Natana Blasi de Oliveira.
As câmeras de segurança para veículos custam, em média, R$ 600, além de uma mensalidade para manutenção. Motoristas apelam às empresas para subsidiar a instalação ou criar mecanismos como botões de pânico integrados às forças policiais. Atualmente, o Brasil possui cerca de 1,8 milhão de motoristas de aplicativo, sendo 600 mil apenas no estado de São Paulo e 250 mil na capital. Apesar da crescente demanda por medidas de segurança, o sindicato da categoria denuncia a resistência das plataformas em discutir o tema.
"A plataforma não tem nenhum tipo de mecanismo para que o trabalhador possa relatar um assalto ou danos, como vidro quebrado ou celular roubado. Ela não cria nenhum sistema efetivo para apoiar seu trabalhador", afirmou Leandro Cruz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Aplicativos de Transportes de São Paulo.
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Enquanto as soluções não avançam, muitas famílias de motoristas pensam em alternativas para deixar o serviço. "Falei para ele começar de outra maneira, outro emprego, e a gente se adaptar diferente", disse uma familiar de um dos motoristas afetados.
A Uber informou que está em fase de testes com um novo recurso de gravação de vídeo na sua plataforma, como parte de sua política de segurança. Quanto ao botão de pânico, a empresa informou que sua disponibilidade varia de acordo com a decisão de cada estado, respeitando normas locais.
A 99 informou que investe em ferramentas de prevenção e proteção dos usuários e que o motorista receberá o reembolso do valor debitado da corrida que virou assalto.