"Não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo", diz Bolsonaro em ato no Rio por anistia a presos do 8/1
Ex-presidente chama denúncia de golpe de "historinha", declara que 8 de janeiro será "esquecido" e afirma que projeto de anistia será aprovado no Congresso
Felipe Moraes
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste domingo (16) que "não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo", enfileirou críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamou denúncia de tentativa de golpe de Estado de "historinha" e afirmou que projeto de lei de anistia a presos pelos atos golpistas do 8 de janeiro será aprovado no Congresso Nacional. Deu essas e outras declarações em longo discurso durante manifestação que reuniu apoiadores e aliados na orla da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
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O protesto ocorreu em meio ao avanço de investigações sobre a trama golpista. O primeiro julgamento está marcado para 25 de março no STF, quando a Primeira Turma vai analisar suposta participação do chamado "núcleo crucial", formado por Bolsonaro, ex-ministros e militares.
Críticas a Moraes e Lula e recados sobre eleições de 2026: "Se sou tão ruim assim, me derrote"
Além de pressionar senadores e deputados pela aprovação do projeto de anistia, Bolsonaro também discursou em clima de campanha para as eleições de 2026. Inelegível até 2030, afirmou que não sairá do Brasil e que um pleito sem ele "é negar a democracia" no país. Nesse sentido, desafiou: "Se eu sou tão ruim assim, me derrote".
Segundo Bolsonaro, há "uma esperança" em relação à eleição do ano que vem, porque, para ele, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) "será isento". Moraes era o presidente da corte em 2022. Em 2026, o presidente será o ministro Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro ao STF.
"Eles não derrotaram e nem derrotarão o bolsonarismo. Aqueles que defendem Deus, pátria, família e liberdade, nós estamos mais fortes e peço a vocês, por ocasião das eleições do ano que vem: me deem 50% da Câmara e 50% do Senado. Que eu mudo os destinos do nosso Brasil. Tenham certeza", disse.
O ex-presidente também disse que o PT "não tem o que apresentar para vocês" e fez várias críticas ao atual governo, enfatizando alta no preço de alimentos e comparando ministros do governo dele a ministros de Lula. "Lá no Rio Grande do Norte, estou na frente do Lula", disse, citando pesquisa eleitoral.
"Quem tirou este cara da cadeia? Que anulou julgamentos? Que trabalhou no escurinho do cinema pra colocá-lo na Presidência da República? Esses que fizeram esse trabalho dizem, 'salvamos a democracia'. Essa democracia que estamos vivendo, com prisão de inocentes."
"Houve mão pesada de Moraes em 2022", diz Bolsonaro
Bolsonaro ainda afirmou que "todas as narrativas contra mim foram para o espaço", citando caso da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018 no Rio de Janeiro, móveis do Alvorada, vacinas contra covid-19 e escândalo das joias sauditas. "Sobrou fumaça do golpe", falou.
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O ex-presidente questionou investigação da Polícia Federal (PF) que aponta que "o golpe começou no dia 29 de julho de 2021". "Uma live que fiz no Alvorada e critiquei o sistema eletrônico de votação. Onde disse que inquérito aberto em novembro de 2018 [...] Inquérito que até hoje está aberto. Mostrei para os embaixadores. Que no dia seguinte Moraes classificou como confidencial. Ou seja, secreto por quê?", falou.
Vale lembrar que essa investigação sobre ataques às urnas eletrônicas não apontou nenhuma fraude e, apesar de sigilosa, teve dados vazados por Bolsonaro na citada live de 2021.
Como fez inúmeras vezes, Bolsonaro voltou a sugerir irregularidades nas eleições de 2022 e defendeu "contagem pública de votos". "Em 2022, arrastamos milhões pelo Brasil. Fazíamos motociatas pelo Brasil todo. O agro estava quase 100% fechado conosco. Os cristãos, da mesma maneira", disse, enumerando supostas entregas do governo que comandou.
"Nosso governo fez seu trabalho. Por que perdeu a eleição? Será que a resposta está no inquérito 1361, secreto até hoje?", disse, afirmando que gostaria de "abrir esse inquérito secreto ao vivo na TV Globo". "Não sei se meus advogados conseguirão esse inquérito. Mas se a divulgação foi início do golpe, o povo tem de saber o que tá nele", completou.
O ex-presidente ainda reclamou que investigações contra ele "queriam minar a Presidência da República". "Não queriam que a gente continuasse. Houve mão pesada de Moraes por ocasião das eleições de 2022", falou, lembrando proibições relacionadas a mostrar imagens de Lula em certos contextos na propaganda eleitoral e outras restrições.
Também disse que campanha para que menores de 18 anos tirassem título de eleitor o prejudicou, porque "essa garotada dessa faixa etária, tendência é votar na esquerda". Voltou a repetir que PT quer transformar Brasil em Venezuela e classificou denúncia de tentativa de golpe como "historinha".
"Só não foi perfeita esta historinha para eles porque eu estava nos Estados Unidos. Se tivesse aqui, estaria preso até hoje. Ou, quem sabe, morto por eles. Vou ser um problema para eles, preso ou morto", disse.
Bolsonaro: "Kassab está ao nosso lado para aprovar anistia"
Bolsonaro e aliados demonstraram confiança de que o projeto de lei para anistiar presos do 8/1 será aprovado no Congresso. "Já temos votos suficientes para aprovar na Câmara", adiantou.
O ex-presidente afirmou que Gilberto Kassab, Secretário Estadual de Governo e Relações Institucionais de São Paulo e presidente do PSD, partido com numerosa bancada no Congresso e uma das principais legendas do centrão, "está do nosso lado para aprovar anistia em Brasília". "Eu tinha um velho problema. E resolvi com Kassab em São Paulo", contou.
"Todos os partidos estão vindo. A população está cada vez mais consciente da maldade que foi e está sendo feita com presos do 8 de janeiro. Vai ser uma data para ser esquecida para sempre. As marcas perdurarão. Mas a data vai ser esquecida. Ou conhecida por uma minoria que está usando poder da sua caneta para jogar o Brasil nos braços de uma ditadura que vocês sabem como ela começa e como ela termina", continuou, chamando apoiadores para atos futuros em diversas cidades do Brasil, como São Paulo e "talvez Aracaju".
Antes do discurso de Bolsonaro, o relator do projeto de anistia, deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), garantiu que a proposta será aprovada no Congresso. Já o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirmou que entrará com pedido pela urgência do projeto nesta semana, o que pode acelerar tramitação do texto no Legislativo.
"Estou assumindo compromisso com todos vocês que nesta semana, quinta-feira, na reunião do Colégio de Líderes, nós vamos dar entrada com a minha assinatura, dos 92 deputados do PL e de outros vários partidos, que eles vão ficar surpresos. Sabe pra quê? Pra que possamos pedir urgência pro projeto de anistia, pra entrar na pauta na semana que vem", disse o líder do PL na Câmara.
Condenados pelo 8/1 são "inocentes", "pessoas injustiçadas" e "de bem", acredita Bolsonaro
Bolsonaro voltou a falar em condenados pelos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023 como pessoas "inocentes", "injustiçadas" e "de bem". "Não cometeram nenhum ato de maldade. Não tinham intenção nem poder pra fazer aquilo que estão sendo acusadas", argumentou.
"Jamais poderia imaginar que um dia teríamos refugiados brasileiros mundo afora", lamentou, citando, em especial, idosas acusadas de atos antidemocráticos.
"Elas têm força para quebrar alguma coisa? Foi encontrada alguma arma com alguém no 8 de janeiro? 'Golpe de Estado'. Como disse há poucas semanas no Roda Viva o ministro da Defesa, José Múcio, golpe de Estado é povo, Forças Armadas e liderança. Quem é a liderança dessas pessoas? Não tiveram. Foram atraídas para uma armadilha", comentou.