Governador diz que anúncios da União ao Rio Grande do Sul estão em "descompasso" com entregas
Lula e Eduardo Leite se reuniram nesta quarta no Palácio do Planalto e trataram de obras do PAC no estado e ações relacionadas às enchentes
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que existe um "descompasso" entre as medidas anunciadas pelo governo federal e o que vem sendo entregue na ponta, no contexto das enchentes no estado. A declaração foi feita logo após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto, para tratar das obras de reconstrução e também do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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"Às vezes eu brigo, e o presidente falou que o governador tem que agradecer. Eu faço agradeço, faço aqui o agradecimento, mas não deixo de demandar, de reclamar e de criticar se for o caso. Entendo que é o meu papel como governador fazer isso, diante de um estado que enfrentou uma grave calamidade e precisa de todo o apoio. Teve apoio, está tendo apoio, mas o que eu tenho mostrado é que tem um descompasso entre o apoio que é anunciado e o apoio que se está efetivando lá na ponta", disse.
O governador afirmou ainda que não faz a crítica para que o governo federal seja "fustigado", mas para que as ações anunciadas e implementadas no estado sejam 'aprimoradas', para que a administração federal 'entregue aquilo se propôs'.
"Não quero só que o governo do Estado tenham medida efetivas. Se o governo federal e o governo do Estado tiverem medidas efetivas, para além dos anúncios, o estado se recupera mais rapidamente", frisou Leite.
A reunião entre Lula e Leite durou cerca de uma hora. Após o encontro, o governador gaúcho concedeu uma entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto. Falou por cerca de 15 minutos e durante quase o todo o tempo, evitou fazer críticas ao governo, até que no final afirmou a existência do "descompasso" entre anúncios e entregas.
Na última sexta-feira (16), Eduardo Leite e Lula já haviam trocado farpas durante um evento público em Porto Alegre. O governador ainda afirmou nesta quarta que os dois conversaram logo após o evento na capital gaúcha e afirmou que as divergências são naturais, mas não afeta o diálogo entre eles.
Descompassos
Leite avalia que há excesso de burocracia em alguns dos programas do governo para atender à população do Rio Grande do Sul. Entre os gargalos citados, estão as medidas de socorro às empresas para ajudar na manutenção de emprego e renda no estado.
"Elencamos [durante a reunião] as ações e reconhecemos o que o governo já fez, mas sinalizamos os pontos que merecem aprofundamento. O primeiro é o programa de manutenção de emprego e renda. O governo anunciou R$ 1,2 bilhão, mas acabaram sendo acessados somente R$ 170 milhões porque as regras do programa ficaram muito limitadas", argumentou.
“Não é que as empresas não precisam, mas elas não conseguem acessar o programa por conta das regras serem muito rígidas”, complementou o governador.
Leite sugeriu que as medidas do governo Lula fossem mais aproximadas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm). Nele, além do governo pagar até dois salários mínimos, as empresas poderiam também reduzir o salário do empregador. No programa de Lula, o governo também paga até dois salários, mas a empresa não pode reduzir o salário do trabalhador.
Outra crítica foi sobre a abragência dos programas de ajuda às empresas. Segundo Leite, o governo federal deveria atender também CNPJs em locais fora das manchas de inundação, pois os impactos da tragédia climática também afetaram o faturamento das empresas. O governador ainda o 'melhorias' no programa que oferece crédito com juros subsidiados para empresas que terão de fazer investimentos para conseguirem retomar suas atividades.
A última crítica feita pelo tucano foi sobre a renegociação das dívidas dos estados, problema este existente antes mesmo das tragédias climáticas. As negociações a respeito dos débitos do Rio Grande do Sul com a União estão no Senado Federal. A questão da dívida pública de outros estados também é alvo de ampla discussão entre os representantes dos Três Poderes.
"Também falamos da renegociação de dívidas dos Estados. As condições colocadas pelo Senado não contemplam o Rio Grande do Sul. O presidente Lula tomou nota de tudo e eu saio com otimismo de que o governo vai tomar providências e talvez nós tenhamos ainda uma reunião com o ministro da Casa Civil, Rui Costa", disse Leite, que após o encontro com Lula, também se reuniu com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).